segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Kremlin, o Cobrador de Fraque

À primeira vista, parece que a guerra no Cáucaso entre Geórgia e Rússia não tem nada a ver conosco portugueses. Estamos distantes, "isto é lá entre os soviéticos" e eles que se amanhem. Eu também via este conflito como algo que não nos tocará directamente a não ser por uma eventual crise energética causada pela sabotagem russa do fornecimento de combustível georgiano ao ocidente. Mas hoje acordei sobressaltado com a afirmação do presidente Kaczyński, oferecendo "Toda a ajuda possível aos governo e povo georgiano".

É um caso curioso, este. Alguns países ex-URSS ou anteriormente pertencentes ao Pacto de Varsóvia afrontam a Rússia como se uma criança testásse a paciência da sua mãe até levar o esperado raspanete ou uma valente sova. Há tempos foi a questão do escudo de radares anti-mísseis que Bush queria instalar na Polónia e que enfureceu Putin, originando ameaças de cortes nos fornecimentos de gás e petróleo aos polacos. A Ucrânia quer aderir à NATO e à UE o mais rapidamente possível por temer que as represálias da Revolução Laranja, apoiada pela Polónia, façam dela a próxima vítima da necessidade de afirmação do novel presidente russo (recordem que Putin ganhou o respeito do povo russo quando esmagou a revolta na Chechénia em 99). A Rússia quer impôr a ordem no seu quintal e irá certamente puxar as orelhas aos meninos mal-comportados. Outros países são subservientes a Moscovo, como a Bielorússia que vive dias de ditadura vermelha como nos piores dias estalinistas, cuja oposição é abertamente acarinhada por Varsóvia.

A Geórgia está a pagar várias facturas acumuladas e que não tinham sido cobradas graças à astúcia do seu anterior presidente Eduard Shevardnadze, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Gorbachov e profundo conhecedor das susceptibilidades do Kremlin: As facturas do não-alinhamento na CEI, está a pagar por ter albergado rebeldes chechenos num vale do seu território e por ter recebido George W. Bush como um irmão. Espero que a Geórgia se recomponha da tareia que está a levar e que se encontre a melhor solução para a Ucrânia - solução essa que foge-me completamente - porque a Rússia deve ter feito uma lista de espera para ajustar contas antigas e a Polónia consta seguramente dessa lista.
Ainda vai sobrar para mim, querem ver?

2 comentários:

Zé de Fare disse...

A polónia faz parte da NATO, logo não vai haver batatada. Deste lado também existem muitas armas. Agora se eu fosse ucraniano começava a por as barbas de molho...

Nós aqui em Portugal «ya tenemos el aceite del compañero Chávez garantizado» de modo que se aí se matarem todos, sempre são menos a consumir o petróleo... Esta foi à Kissinger!

Rui Vilela disse...

Os russos apenas estão a actuar um pouco como os americanos fazem. Além disso os russos foram bombardeados na Ossétia do Sul pelos Georgianos, ficaram com o direito de resposta. Ali já há tensões desde 1991.

Os americanos invadiram o Iraque e não houve qualquer provocação militar ou qualquer WMD ... Civis e militares russos foram atacados pelas forças Georginas. Não sei onde para a cabeça do presidente da Geórgia para ordenar tal coisa.