A saga dum filho de Faro na Polónia (em Bielany, no norte de Varsóvia) - desde 2007
terça-feira, 30 de outubro de 2007
Este blogue regressa dentro de momentos
Digo apenas que, daquilo que vi, palpita-me que a Silesia vai esperar pouco tempo para ter-me de volta...
domingo, 28 de outubro de 2007
Cracóvia revisitada
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quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Também tá bem...
http://embomportugues.blogs.sapo.pt/
Não sei se a autora incomodar-se-á com a publicidade gratuita mas, como diria o Augusto Inácio depois da contratação do César Prates, o Saber não ocupa lugar.
Este huomem é um senhuore, carago!

para o trabalho e começo a procurar variantes ao percurso. Uma rua adiante, um cruzamento antes, na rua de trás o estacionamento é grátis e ali a polícia não chateia... Estáo a perceber?


terça-feira, 23 de outubro de 2007
Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 2
Um dia de trabalho na Polónia será assim:
6:30 - Despertar
6:45 - Pequeno-almoço. Esta refeição não pode ser negligenciada pois será a única nas próximas 6/8 horas. Normalmente fartas fatias de saboroso pão barradas com manteiga irlandesa e generosamente encimadas por delicioso fiambre polaco. Aqui a Polónia leva a palma! Enchidos, fumados, carnes diversas, patés é com os polacos. Era capaz de gastar um salário inteiro numa charcutaria. E o pão é da morte pois é pejado de sementes e grãos de cereais tornando-o bastante suculento.
7:00 - Carro na rua para conduzir até ao emprego. Consulta aos termómetros existentes na estrada que nunca vi acusar temperaturas acima de 10ºC. Ultimamente oscilam entre os 1º e 4º, estando o piso geralmente mais quente dois graus. A experiência de conduzir espremido entre o cinto de segurança e 2 casacões é indescritível. A lembrança da minha scooter assalta-me e imagino-me em cima dela a vir da praia de tronco nu às oito da noite já com dez imperiais no bucho.
8:00 - Começar a trabalhar. É indispensável entrar com um capuccino, caffe al latte ou um americano na mão para arribar os sentidos e despertar os neurónios. Durante a manhã é comum verem-se chávenas a dançar nos escritórios ao serem constantemente reabastecidas.
12:00 / 13:00 - Pausa para o almoço, habitualmente de 15/20 min. Os polacos não têm "hora do almoço". Têm quando muito "pausa para comer qualquer coisa" sendo esta "coisa" uma sopinha ou uma sandocha feita em casa. Antes desta pausa já foram bebidos mais 2 ou 3 cafés e após esta pausa bebe-se mais um para embalar a tarde.
16:00 - Final do dia de trabalho. As pessoas vão para casa almoçar a sério ou aproveitam para ir às compras. Muitas preferem ocupar-se com outros empregos para ganharem alguns złotych mais, outros fazem capoeira, nadam, ou vão para o ginásio e ainda outras pessoas optam por tirar cursos complementares, como estudar português com este vosso escriba.
18:00 / 20:00 - Período de tempo passado em casa com a família ou na rua. Se estiverem em casa os polacos provavelmente estarão na hora do "jantar". Jantar entre aspas porque esta refeição consiste em pãozinho cortado às fatias e comido com tomate, cebola e os abomináveis pepinos envinagrados que de acres que são criam faíscas nos dentes. Como alternativa, em vez de legumes, podem-se utilizar enchidos polacos que são de magnífica qualidade, não me canso de frisar. O chá escaldante acompanha a refeição. Se andarem na rua, os polacos certamente estarão no supermercado ou a fazer uma pausazinha para o café porque o dia está "fresco".
21:00 - Dois dedos de conversa entre família após o chá, discutindo os dias de trabalho de cada qual. Progressivamente os elementos vão desaparecendo até o último dizer "Bom, vou dormir."
22:00 - Cama!
É de facto um ritmo diferente mas que tem as suas vantagens como dispor de grande parte da tarde disponível para outras actividades, sejam de lazer ou um part-time para tratarem do pé-de-meia. O dia começa mais cedo mas também estão despachados mais cedo.
O que faz-me confusão é o horário das refeições. Comer 8 horas após o pequeno-almoço é ainda complicado para mim e ter apenas uma sandes à minha espera às 21:30 (tem dias que só chego a essa hora) quando venho da Escola é criminoso. Felizmente já constataram que o meu apetite ainda não está feito aos hábitos de Leste e tenho contado com uma segunda refeição quente e de faca e garfo quando chego a casa. Ontem foi um linguadinho maravilha, soube a pato!
sábado, 20 de outubro de 2007
Não falo mais de política neste blogue
Tenho algumas formas de passar este período de reflexão. Posso muito bem tirar o dia para finalmente montar a parabólica e poder assistir à formidável programação que a TV Cabo oferece-me para poder matar saudades do país. Programas como CSI, South Park, JAG, Prison Break, as reposições do Seinfeld e o 60 Minutes trazem-me aquele cheiro de Portugal que tão distante se encontra. Sim, porque na RTPi que apanho através do Astra cá de casa só tenho hipótese de ver o Zé Orelhas dos Santos a teatralizar notícias, o Fernando Dentes a rebolar-se enquanto apresenta o Peso Incerto, o João Gayão num programa qualquer de variedades e 743 novelas que despertam-me menos interesse do que um documentário de 2 horas preenchido integralmente com o processo de decomposição de uma carcaça de hiena no deserto do Kalamari.
Posso também enveredar por uma aposta nas emoções fortes e praticar desportos radicais. Em Cracóvia é dia de derby, jogam FC Cracóvia - Wisła Kraków e (diz quem sabe) este é o jogo mais venenoso da Polónia. Uma intensidade tipo Panathinaikos - Olympiakos, River - Boca ou Galatasaray - Fenerbahçe numa escala de perigosidade em que o Sporting - Benfica não está sequer classificado. Depois iria beber uma vodka finlandesa à boîte do costume para matar saudades. Já fui apresentado ao advogado da família para que, no caso de não regressar a casa, ele possa iniciar a divisão do meu espólio.
Também poderia optar por um passeio pela cidade de Tychy, onde moro. Não tenho tido muito tempo pois o trabalho, a procura de casa e as formalidades fiscais e de residência consomem-me a maior parte das horas e pouco sobra para o turismo. Talvez vá visitar o museu da cerveja mais popular da Polónia que é fabricada a 500m daqui e perguntar-lhes se dá para montarem um pipeline directo para casa para podermos ter fornecimento de cerveja pela torneira.
Melhor ainda, já sei o que devo fazer! Prometi aos meus amigos, antes de vir para este país, que iria implentar alguns hábitos portugueses... digo, algarvios... aliás, de Faro. Um desses costumes é particularmente do gosto duma franja de malta que costuma abancar na Praia de Faro, no belo spot em frente ao Zé Maria. A Peitada.
É isso mesmo! Vou implementar a Peitada na Polónia e daqui lanço desde logo um apelo aos meus camaradas de lides sudoesteanas e da prainha para prepararem a agenda e reservarem já passagens aéreas para em Maio darmos início às sessões de demonstração e explicarmos aos Polacos (e ao Leste Europeu, porque não?) como se joga uma bela Peitada. Vou lançar os alicerces para instalar a primeira Federação Polaca de Peitada. Campo já arranjei.

PS - Tenho sido abordado por alguns amigos chocados pelo facto de ainda não ter-me referido áquilo que eles designam por "gajas". As perguntas são repetitivas, aborrecidas, chatas e sempre no mesmo tom: "Atão e as gajas? Aí na Polónia é só gajas boas, né? Fdx, tu falas de nabos e não metes aí gajas para a gente ver?! Põe lá uma polacas boas no teu site, pá! Deixa-te de merd..."
Quero deixar de forma bem clara que não vou conspurcar este imaculado blogue com fotografias de gajas boas que eventualmente possa encontrar por cá. Irei, por certo, publicar algumas fotos das raparigas PODRES DE BOAS, TESUDAS, ESTRONDOSAS, GROSSAS, FAI CAMANO!, ESPERMACULARES, INOLVIDÁVEIS, TIPO DAVA-TE TRÊS SEM TIRÁ-LO, I´M THE KING OF THE WOOOOOOOORLD!!!! que eu considere decorativas de forma digna. Mas de gajas boas neste blogue não falo. Nem de política.
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Para reflectir
Portugal
Crescimento económico (%) 1.8 / 1.8
Inflação (%) 2.5 / 2.4
Espanha
Crescimento económico (%) 3.7 / 2.7
Inflação (%) 2.5 / 2.8
Polónia
Crescimento económico (%) 6.6 / 5.3
Inflação (%) 2.2 / 2.7
Dados extraídos de http://www.imf.org/external/index.htm
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
E daí?


PS - "E rá, e o Makukula não é português, e já com o Obikwelu foi a mesma cena, e qualquer dia não temos portugueses na selecção, e o Pepe e o Deco, e xis, e tal e coiso." Realmente, temos cá uma moral para de falar de pureza da raça. Logo nós que inventámos o mulato!
terça-feira, 16 de outubro de 2007
E eis que ela surge!
Faz hoje 25 anos que morreu Adriano Correia de Oliveira. Este nome diz-vos alguma coisa? Provavelmente não, a mim até hoje nada me disse. Mas vi hoje no Telejornal as imagens que acompanharam a notícia do seu falecimento e as respectivas alusões ao Fado de Coimbra do qual ele era, pelos vistos, eminente intérprete.
É curioso que por vezes só notamos o quão rica é a nossa cultura quando ela nos falta ou quando estamos longe da nossa terra. A distância faz-nos sentir coisas tão absurdas como vontade de ouvir música pimba, comer um pastel de nata ou discutirmos com um arrumador de carros nos estacionamentos (coisa que por cá ainda não vi). Sentimos falta até das coisas mais irritantes como a buzina da carrinha do Family Frost, por exemplo, ou da vizinha da porta ao lado sempre a resmungar por causa do barulho que fazemos na nossa casa.
Somos um país tão interessante, um povo tão admirado por essa Europa afora que julgo nem sabermos o que somos. Todas as reacções que tenho obtidas ao dizer que sou português são de espanto, naturalmente, porém também de gabo à nossa História e - pasmem! - preponderância nas ocorrências do mundo.
Existe a estória de dois tugas que fizeram um engate na Polónia sem falarem nada de polaco e elas sem falarem nada sem ser polaco. Combinaram um almoço e no momento em que encontraram-se uma das meninas saca de um dicionário polaco/inglês e a outra diz: "Vocês são portugueses e Portugal é o primeiro produtor e exportador mundial de cortiça!" Não sei se os nossos compatriotas sabiam deste facto mas a realidade é esta. Portugal tem uma reputação muito considerada nestas paragens sendo visto como um país de oportunidades e de gente empreendedora.
Em vez de desencantar estes simpáticos polacos, em vez de contar-lhes que o meu país sobrevive de expedientes e chico-espertices, em vez de contar que andámos quase 50 anos a matar a fome com "Fado, Futebol e Fátima", em vez de contar que há pedófilos no Parlamento e a Maçonaria manda mais que a Justiça, em vez de contar que entre árbitros compadres e marfim contrabandeado há por onde escolher, em vez de contar que organizámos uma Expo 98 cujas derrapagens darão para alimentar famílias até à 5ª geração... em vez de contar-lhes isto tudo vou dizendo que somos um povo pequeno mas bom por natureza, que somos tão sortudos que até temos sol o ano inteiro, que a nossa gastronomia dá 10-0 a qualquer outra (3-2 à italiana, pronto...), que sempre que sofremos invasões de castelhanos e franceses eles eram 100 vezes mais que nós e foram consecutivamente corridos à pazada (Dona Brites, alé!), que o nosso espírito aventureiro deu novos mundos ao mundo e fez trabalhadores bem sucedidos em paragens tão remotas sem saber uma única palavra do idioma local, que mesmo com as mais disparatadas estratégias políticas conseguimos entrar na primeira carruagem do comboio europeu e que Portugal é tão simpático ou tão pouco que ninguém se mete conosco.
O Portugal em que eu me reconheço é um país de garra e coragem. Um país de competências respeitáveis e em evolução permanente. Um exemplo de persistência e tenacidade, a Nação Valente e Imortal que Henrique Lopes de Mendonça versou e de que a estranja ouviu falar.
O Portugal de que sinto falta é o da sua força e vida. Do pulsar latino das suas gentes, do seu ânimo e resistência. Da sua voz que conta triste as suas mágoas ou apregoa eufórico as suas façanhas e de que a estranja já ouviu falar.
O meu Portugal é feito de chouriço assado ou arroz de marisco. De vinho tinto ou minis na praia. De Vilar de Mouros ou Alvalade ao rubro. De tunas ou fado. Fado do Bairro Alto ou de Coimbra que a estranja já ouviu falar.
Faz hoje 25 anos que morreu Adriano Correia de Oliveira. Ouvi-o cantando Fado de Coimbra e ela surgiu!
Ela quem?
A saudade.
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
Kem kasa ker kasa
Vamos ver a casa num prédio ainda em construção. No escritório apresentam-nos as plantas dos apartamentos e do próprio prédio e nós apontamos um dos espaços que interessam-nos. Aqui surge a primeira surpresa pois não somos nós quem decide o apartamento que iremos comprar mas sim o construtor quem determina quais os espaços que serão comercializados em primeiro lugar. Traduzido por miúdos, não compras o que queres mas o que podes dentro daquilo que eles deixam. Isto porque há uma procura de casa que suplanta imenso a oferta existente, por isso os construtores jogam com este factor e impõem as suas regras.
A seguir discutimos as funcionalidades e acabamentos da casa para recebermos a segunda surpresa. Nós, a concretizarmos a compra da casa, receberemos o apartamento nu. Quando eu digo nu é nu mesmo, sem rigorosamente nada lá dentro. Nem soalho, nem paredes pintadas, nem acabamentos, nada. Diz-se que desta forma o comprador terá hipótese de personalizar a casa ao seu gosto e com os materiais que quiser, mas esta operação encarece e de que maneira a factura final.
Recorrer ao crédito é inevitável. Apesar dos valores das casas/apartamentos serem mais em conta do que em Portugal continua a ser praticamente impossível comprar-se casa recorrendo exclusivamente a economias pessoais, daí que os bancos entram em campo como parceiros obrigatórios no processo... com as suas surpresas. Enquanto que em Portugal o comprador sinaliza a compra com 10 ou 20% do valor do imóvel por cá é precisamente o contrário. Batemos 90% da importância no início do processo e quando recebermos as chavinhas de casa pagamos os trocos que faltam. A não ser que tenha pelo menos metade da quantia para avançar como entrada para beneficiar dum desconto interessante.
Uma das poucas diferenças positivas a favor do processo polaco consiste num seguro pago mensalmente que permite que, em caso de doença impeditiva ou despedimento e durante um período máximo de um ano, as prestações sejam pagas pela Companhia de Seguros. Assim ficamos com menos uma dor de cabeça em caso de azar na vida.
Portanto, quem quiser comprar um mieszkanie / dom (apartamento / casa) nesta terra é favor fazer-se acompanhar duma saca de złotych para jogar na mesa senão vai ficar à espera durante algum tempo. Ou então faz como nós e volta-se para o mercado do arrendamento, ao menos as casas já vêm mobiladas. A ver vamos, como dizia o cego.
domingo, 14 de outubro de 2007
sábado, 13 de outubro de 2007
Debaixo duma pedra...
Pasmado com a cena decidi perseguir o bichinho à distância para ver onde iria ele enfiar-se dado que estávamos num bairro residencial onde existem muitas vivendas e pouco espaço por onde ele pudésse regressar ao seu bosque. Quando ele resolveu enfiar numa rua à direita eu fiquei por momentos parado no meio do cruzamento pensando se iria espreitar mais um pouco ou seguir com a minha vida. Decidir fazer marcha-atrás para continuar o documentário.
Foi a minha desgraça. Prego um barranaço num polaco que surgiu sei lá de onde por trás do meu carro que até me deu soluços!
Imediatamente saltei para fora a pedir desculpa e a Iza acalmou o homem com números de telefone e por aí fora. O indivíduo estava há pouco tempo na Polónia, é um germano-polaco recém-regressado à terra de onde saíu novinho (caso bastante comum por estas zonas) e também não sabia muito bem como proceder. Lá tive de agir à bom Tuga, do género "Ó, meu amigo! Isto não foi nada, não precisa cá polícias nem seguros que isso é só papelada. Leve lá o carrinho ao bate-chapa, tem aqui o meu número de telefone e quando isso estiver pronto ligue-me que vamos beber um cafezinho e trata-se de tudo."
O gajo lá ficou meio confuso com a velocidade que eu e a Iza empregámos a despachar o caso e com o capot incapaz de ser aberto, eu ainda fui a Katowice comprar um sobretudo e orientar o meu emprego, o nosso carro não fez nem um arranhão, ainda vim a tempo de fritar um linguadinho para o jantar e o sacana do veado abalou indiferente à barracada que armou. Vejam lá se o descobrem.

Moral da história: Na Polónia não são os gatos pretos que dão azar...
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 1
Até ver não tenho razão de queixa do leite. Inclusivamente encontrei um leite parecido aos meus queridos Vigor Gordo que de tão gordo que é (3,2%) até deixa-me regalado com o sabor a nata na boca. Altamente, o pequeno-almoço é sempre motivo de consolo!
O gel é igual em toda a parte graças à economia de mercado que permitiu a entrada da Garnier na ex-Cortina de Ferro, também aí não apresento reclamações.
Mas a água engarrafada... Moss, não vale nadinha! Já experimentei a Odyseus, a Cisowianka (todas niegazowana - sem gás) e outras de nomes também estranhos mas todas sabem-me a água da torneira. Diz-me a minha comadre que isso deve-se ao facto das águas das nascentes polacas serem muito ricas em sais minerais e mesmo após o processo de desmineralização e purificação é difícil torná-las menos... ia dizer como na minha terra, salobras.
Conclusão: ao pé destas águas a Água de Monchique sabe a pato. Que saudades dos garrafões do Jumbo...
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Primeiros dias na Polónia
No dia seguinte começou a descoberta da Silésia. A incursão leve por Katowice para dar a minha presença a saber às pessoas que por mim esperavam deu para perceber que o centro da cidade não é tão feio quanto pintam. Faz-me lembrar em muitos aspectos o Porto. É cinzenta, é certo, mas as avenidas são largas e todas arborizadas com as grandes lojas a fazerem-se notar através dos enormes cartazes publicitários existentes nas fachadas dos edifícios, alguns retirados (ou inspiradores) tal e qual dos cenários do filme "Adeus, Lenin!" Os corredores centrais abertos nas ruas para os carros eléctricos são imagem tipicamente do Leste e também os muitos monumentos existentes que homenageiam compatriotas caídos em vários conflitos, maioritariamente travados com os vizinhos alemães e russos ou soviéticos (estar encravado entre estas duas potências sempre teve um preço a pagar). Aliás, o orgulho na sua história de preserverança e combatividade é patente na forma como falam dela e como explicam a razão de ser dos seus símbolos, sempre de forma inflamada mas sem arrogância. Talvez na periferia se notem melhor os bairros onde os comunistas edificaram os seus estreitos apartamentos, de traça homogénea e monótona onde o luxo será ter em elevador que funcione. Mas andar no centro de Katowice é mais o menos o mesmo que calcorrear a Rua de Sta. Catarina ou a Rua do Ouro.
Tychy, onde moramos por enquanto, é como se fosse um dormitório de Katowice. Os seus acessos são como os subúrbios da linha de Sintra porém não tão congestionados e sempre ladeados de floresta cerrada e abundante. É uma cidade de linhas mais modernas e que torna-se mais agradável à vista por não ter os blocos de edifícios iguais que existem na periferia de Katowice. Existe um lago onde as famílias passeiam no final do dia, um campo de futebol relvado que terei de pisar mais dia ou menos dia e uma proliferação admirável de bombas de gasolina tendo em conta que vivem aproximadamente 150.000 pessoas nesta terra.
Até agora tem sido uma experiência interessante e posso até dizer que está a ser divertida. Ontem estava a fazer compras no supermercado quando a minha mãe ligou-me a perguntar por notícias. Quando acabo de falar com ela tinha 2 ou 3 meninas muito divertidas a olhar para mim e a rir. Este é um episódio engraçado mas nada invulgar pois há um mês atrás cenas destas foram recorrentes.
Agora vou ver se compro um par de sapatos mais afogados porque o briol já vai surgindo e não tenho calçantes para enfrentá-lo. Até loguinho q:)
A jogar em casa emprestada
Arranquei de Madrid depois do almoço rumo a Burgos e S. Sebastián. Surgiram as primeiras aparições de montanha a norte de Madrid mas sempre tranquilas e serenas, um sobe e desce macio até entrar em Euskadi. Mas digo-vos: Conduzir no Pais Basco de noite, obviamente debaixo de chuva, não lembra a ninguem. Além do trajecto das auto-estradas ser por natureza sinuoso, as mesmas são estreitas e percorridas por muitos camionistas que atrasam ainda mais o percurso. Devido a falta de rádio no carro entretive-me a localizar as nacionalidades dos camionistas através das suas matrículas para matar o tempo. Passei por espanhóis, franceses, alemaes, suecos, belgas, checos, polacos, búllgaros e também bastantes patrícios que trepavam por aquelas montanhas, quais Agostinhos de 10 e 12 rodas, a menos de 50km/h e sob uma chuva impiedosa que teimava em não dar tréguas.
Para acrescentar ao cenario medonho, as fábricas. Muitas e fumegantes, inclinadas sobre os carros como se quisessem atirá-los fora da estrada, as chaminés davam um toque infernal a paisagem e conferiam um aspecto ainda mais tétrico a um troço já suficientemente desagradável. Não gostei e se tiver de repetir a viagem irei por Girona-Perpignan mesmo que a portagem seja pornograficamente cara. Já contando com o preço da gasosa em França que é um roubo comparado com o preço espanhol (e até com o nosso!).
Do outro lado da fronteira foi bem melhor. Vastas planícies que permitem pisar mais um pouco na tábua num piso suave e recto. A chuva cessou ao fim de poucos minutos e dali a Bordéus foi um tirinho para um hamburger no McCaca enganar a tripa e fazer mais alguns metros na expectativa de encostar-me num qualquer motel de beira de estrada. Acabei por parar 270 km depois porque sentia-me fresquinho e sem necessidade de parar. Estava a 300 da Cidade-Luz que seria a proxima etapa e que acabou por transformar-se num pesadelo pelo monstruoso engarrafamento que o Périphérique provou ser.
O Périphérique é uma cintura rodoviara periférica à cidade de Paris, uma espécie de CREL francesa, que distribui o transito pelos seus acessos conforme os locais da cidade a que queremos aceder. O trânsito é habitualmente intenso mas naquela tarde resolveu caprichar e convocou todos os seus componentes para o momento. Toques de 10 em 10 mestros, scooters suicidas a fazerem-me tangentes, taxistas espremendo os seus carros para ganharem alguns centímetros de vantagem, filas para as estações de serviço... Foi um menu completo que obrigou-me a passar 3 horas num percurso que deveria ter sido feito em 45 min. e que atrasou-me bastante no caminho para a Alemanha. Mas lá safei-me ainda a horas de ver o Sporting em Dusseldorf.
Na Alemanha basicamente foi prego a fundo. Autoestradas de elevado quilate, limites de velocidade pontuais e fluidez permitiu-me atingir a fronteira de Gorlitz numa tarde. Muitas florestas, muitos rios e uma grande curiosidade em ficar mais tempo para visitar tantos castelos e monumentos identificativos duma cultura que deve valer a pena estudar. Aqui bateu-me o sentido da realidade duma forma brutal quando vejo placas sinalizadoras que apontam para... Praha. Outras dizem-me que estou a 150 km de Breslau (Wrocław) e outras ainda mostram-me que Bratislava não fica tão longe quanto isso. Constato que estou realmente noutras latitudes e dá-me uma vontade enorme de perder mais uma noite, apontar para a Rep. Checa e passar uma noite de copos eslavos por algures. Mas não havia tempo para isso, daí ter entrado na fronteira remoendo esta idéia e a fazer contas no GPS às distâncias a partir de Katowice porque isto não fica assim.
As impressões sobre a Polónia ficam para o próximo post para não aborrecer (muito). Por isso, saúde e sorte é o que vos desejo. Até amanhã.
Dia 1 - Rumo a Las Rozas, Madrid
Foi bom vê-los de bem com a vida e com eles próprios. Famílias felizes e satisfeitas com o que têm feito e construído (e quase destruído como o comando da tv cabo q;)) e que servem de bom exemplo para o que procuro alcançar: Amor e Estabilidade. Apesar das conversas ao jantar acabarem nas memórias da mocidade (conversa de cota!) dei por conta que passámos montes de tempo a falar dos meus projectos e foi interessante notar isso. Pelo simples facto que até agora eu nunca tive um projecto de vida, limitando-me quando muito a viver um dia de cada vez desde que houvésse guita suficiente prás minis e tal. A curiosidade dos meus amigos foi natural pois surgi-lhes com um guiäo para a minha vida, coisa inédita até agora.
Esta viagem faz-se porque pela primeira vez tenho um plano de vida, uma idéia amadurecida e estruturada do que pretendo fazer e conquistar. Cada quilómetro vencido é menos um que falta na meta que tracei e que espero alcançar.
Que estejamos cá todos para ver o produto dessa viagem. Entretanto já comprei o material necessário (parabólica e respectivos acessórios) para apanhar TV Cabo, alguma vez sobreviveria sem a Sport TV para acompanhar o mágico Sporting?!
Preparações e Reflexões
Caros amigos, conhecidos ou malta que tenha caído aqui por acidente:
Este é o diário de bordo daquela que considero ser a maior aventura da minha vida. Agora, depois de velho q;), surgiu a possibilidade de alargar os meus horizontes de vida através duma incursão na Polónia, terra da minha dama. Considero uma aventura na medida em que vou abdicar de todo o conforto e estabilidade que procurei adquirir nos últimos anos por ter um bom emprego, por já ter a minha casinha, por ter alguns círculos de bons e leais amigos do lado esquerdo do peito, por ter uma família que sempre tentou ajudar-me nos momentos em que foi necessário. Outra razão pela qual acho que isto vai ser uma aventura do cacete é tão simples quanto imaginarem uma viagem solitária de carro desde Faro até Tychy (3372 km segundo o viamichelin.com) . Vai ser uma experiência enriquecedora, ao contrário do que alguma maltinha diz não tenho receio de passar seca ao volante pois gosto muito de conduzir e se tiver de parar nalgum sítio por curiosidade fá-lo-ei sem espigas nenhumas.~
Não pensem que esta viagem é feita por capricho pois este é o desfecho de um trabalho de pesquisa que levou pelo menos 3 meses a fazer-se. Foi ponderado, o risco avaliado e a decisão tomada em consciência com o que eu e a Iza constatámos. Não vamos às escuras em termos profissionais, estamos bem encaminhados para começarmos a trabalhar quase imediatamente quando chegarmos. Aliás, devido a uma entrevista de trabalho ela teve de regressar hoje de manhã, razão pela qual levarei o carro sozinho.
Por agora estou ainda a determinar que itens levarei comigo (camisolas do Sporting e do Farense é obrigatório) e a dar fim do fígado com as despedidas que os meus amigos andam a organizar-me. Anteontem foram 30 e tal horas a rir à do Rogério, ontem foi na praia com a turma dos "muninos" a ver o derby, hoje será com o povo que vem dos tempos do Liceu. Amanhã e depois será a vez da família e seguidamente ala para Madrid, ponto da primeira paragem.
Agradeço a quem deu-me o toque da moral nestes últimos dias, é sempre bom ouvir os incentivos numa situação destas em que existem tantas dúvidas quanto certezas. Vou actualizando o blogue com a regularidade que me for permitida e sempre que haja motivo de interesse mandarei postais paisagísticos sobre este país tão longínquo como fascinante (confere, muninos?).
Assim sendo, do zobaczenia. Que é como quem diz, até logo. q:)