terça-feira, 30 de agosto de 2011

Em Paris nunca fui feliz

Yin Yang E ao quarto dia eis que dos céus cai a graça – a viatura estará reparada e pronta a utilizar na quinta-feira à tarde. Após uma paciente e quase infinita espera, depois de milhentos mal-entendidos e falhas de comunicação entre garagem e seguradora, seguradora e segurado, garagem e segurado e o diabo a quatro, ao fim de me ter crescido um barbalhão que lembra os mineiros chilenos e de ter de lavar peças de roupa interior numa lavandaria automática, filme que nunca esperei ter de protagonizar ainda por cima a pouco tempo de completar quarenta anos, finalmente a Mercedes telefona e garante-me o uso do automóvel a partir da tarde de depois de amanhã, pese todo o meu ceticismo e falta de crença na precisão do veredito.

Entretanto algumas considerações que fui tirando nestas férias forçadas:

  • Não é difícil perceber os tumultos que ocorreram em 2005 em Paris, nos arredores da capital francesa e noutras cidades do país. Os sem-abrigo disputam áreas à porta das estações de comboio, há centenas de árabes que apertam os peões com as suas bancas onde assam maçarocas de milho, outros que vendem maços de tabaco supostamente contrabandeados, também africanos que vendem bilhetes de transporte público com o preço inflacionado às pessoas que não querem perder tempo de espera nas máquinas de venda. Um cocktail de nacionalidades e culturas diferentes que roçam ombros uns com os outros no metropolitano, olham-se de lado, atmosfera crispada, ambiente pesado;
  • A nouvelle cuisine pode ser chique e ter algum critério nutricional mas é uma grande bosta na relação preço-satisfação. Os olhos regalam-se mais do que o estômago mas é este último que interessa saciar, eu olho para o rabo de uma bumba (e se as há de topo nesta terra!) e fico contente mas não é a olhar para um minúsculo mil-folhas de trufas com dois riscos de molho de carne a €35.00 que mato a grisa. O KFC e o McDonald’s do outro lado da rua e uma casa de kebabs na porta a seguir do hotel acenam-me com alegres menus hipercalóricos de prazer garantido mas tenho sabido resistir e tenho procurado comida saudável;
  • A língua francesa é a coisa mais irritante de ouvir a seguir ao soluçante e histérico narrador José Augusto Marques. Soa a crioulo ou a abichanado conforme a origem do emissor, tem coisas que não se parecem a latim, nem a grego, nem a anglo-saxão. Perdeu para o inglês todo o peso estratégico que tinha e vive das memórias do tempo em que era o idioma oficial da nobreza europeia.

Mas tem sido uma experiência tremenda no plano do meu equilíbrio, acho que afinei os níveis de yin e yang como nunca.

5 comentários:

Ryan disse...

Bom muito poderia dizer mas pelo menos a lingua francesa tem tudo o mais de interessante e de belo do que a lingua polaca que tem dias que ultrapassa o que ha de mais irritante. Mas gostos sao gostos.
Quanto ha comida de Franca estou a 100% contigo muito vistosa mas sempre foi assim nao e de agora. A ultima vez que fui a um restaurante quando vivi em Franca jurei para nunca mais. O melhor e procurar um Restaurante Portugues. E acredita que ha mesmo muito bons em Franca por estar mais perto de Portugal (A comida e Portuguesa e saborasa nao como a que existe na Polonia que e para esquecer falo dos Restaurantes Portugueses que ha por ca).

PM Misha disse...

ryan,
eu não gosto da sonoridade do francês, nunca gostei nem hei-de gostar. o polaco soa-me melódico... mas gostos não se discutem, amigo q:)

Ze da Bola disse...

Ainda na Polonia. Mas os senhores nao se fartam disso. Mal por mal Franca. Enfim peripecias a parte. Boa sorte para todos mas essa Polonia e um pais irritante comeca na lingua vai pela gente stressada e sempre desconfiada e pouco amigavel. O que se aproveitam sao as belezas mas mesmo assim ou um gajo tem muita paciencia para aturar certas mudancas culturais sobretudo com elas. Os gajos so falam em beber as vezes ate falar de politica e cacete. Porra Portugal e outros paises passaram por ditaduras mas eles sera da heranca ou outra coisa qualquer.
Polaco melodico, fosga-se...

Maria João Belchior disse...

O yin e o yang devem andar sempre em equilíbrio, daí os opostos :) Que aventura Nuno! Valha mesmo esse redescobrimento do yin e do yang. Pensa sempre - se fosse na China, ía ser pior de certeza para comunicar. Tinhas era a vantagem que trabalham ao Sábado e Domingo...

PM Misha disse...

zé,
tenho pena que não tenhas tido sucesso na polónia. eu gosto muito de cá estar, adapto-me bem às situações que mencionaste e como eu há muitos outros que conseguiram ou estão em vias de triunfar. no dia que me fartar disto eu aviso-te mas entretanto não esperes de pé.

joão,
e mais! não queiras saber dos chavões que se podiam ter empregado nestes dias: paciência de chinês, tortura do chinês, vingança do chinês...