quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

E fazer o quê?

Não há dúvidas que uma das principais características do povo português é o seu entusiasmo na forma exuberante como recebem os amigos. Alguém que esteve afastado da raíz durante algum tempo notará imediatamente a felicidade com que os seus o acolhem, as palmadas e abraços afectuosos que o envolverão, os risos autênticos do reencontro, as estórias recordadas e os episódios novos da vida na terra-mãe, que serão relatados com a pressa natural de quem tem muito para contar e que serão devorados com a sofreguidão natural de quem quer saber muito em pouco tempo.

Todas essas sensações foram por mim experimentadas neste regresso a Faro. Muita alegria e prazer em rever as caras de sempre, muitas jantaradas e petiscos agendados para pormos a escrita em dia, muitas epopeias contadas e muita curiosidade dos meus velhos amigos em saber como é a vida na estranja. Quando a conversa chega a este ponto é inevitável traçarmos o paralelo entre a realidade polaca e portuguesa e aqui sinto algo que nunca senti antes nos meus compadres:  apreensão.

O desânimo é comum em muitos dos meus companheiros. Falam-me de dificuldades em arranjar empregos com salários condizentes com as suas habilitações, 28102008aqueles que têm o seu próprio negócio lamentam-se e falam de despesas crescentes face a receitas que diminuem a cada dia. Brilham-lhes os olhos quando me perguntam pelas minhas aventuras em Varsóvia, pelas oportunidades de trabalho que efectivamente vão surgindo na Polónia, pelos horizontes profissionais que se podem atingir no país onde resido agora. Apresento-lhes o quadro real da vida na capital polaca e todos acenam afirmativamente com a cabeça entre duas baforadas no cigarro. Por fim encolhem os ombros, estalam a língua, respiram fundo e, procurando afugentar a desilusão, perguntam-me em voz alta e amigável:

"Atão e quando é que voltas para cá de vez?"

Eu sorrio e peço uma mini. A minha resposta está dada e todos a perceberam.

3 comentários:

Fernando Pires disse...

Fantástico post...

Enquanto estava a lê-lo, consegui desenhar perfeitamente na minha mente todo o cenário que relatas... E consigo perceber perfeitamente aquilo a que tu e eles se referem... Muito bom..

Cumps,
Fernando

PM Misha disse...

não tá fácil, fernando.
se eu fosse a ti ia espreitando oportunidades aí no "barco". assim como assim acho que um gajo safa-se melhor.
abraço

r i t a disse...

Essa pergunta também a ouço inúmeras vezes sempre que vou a Portugal...a minha resposta depende dos dias...