segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fehér - Divagações

Ontem estava com o Giga a ver o telejornal quando lembrei-me: "Sabes, faz hoje anos que morreu o Fehér."

Recordei a minha angústia nessa noite de Inverno minhoto, eu que nem tenho por hábito assistir a jogos do SLB, em que me emocionei ao ver o pânico nos rostos dos colegas do húngaro quando se chegaram para auxiliá-lo. Gritei irritado com o Fehér porque ele nunca mais se levantava, incentivei-o, chamei por ele, disse-lhe para parar de gozar conosco e recuperar o sorriso trocista que tinha mostrado depois de lhe ter sido mostrado um cartão amarelo, chorei por temer o pior quando vi os paramédicos a fazerem-lhe massagem cardíaca.

Assisti depois a todos os detalhes seguintes na tentativa de ouvir algo como "Miklos Fehér recuperou a consciência e está estabilizado". Nunca tal foi dito e Fehér não mais acordou. Caí em lágrimas pela injustiça da situação, um jovem na flor da idade roubado à vida da forma mais violenta e com o cúmulo da trasmissão televisiva em directo para que o Mundo inteiro testemunhásse.

No meio da tragédia até fechei os olhos ao aproveitamento demagógico que o último clube de Fehér fez da sua desgraça, ele que nunca foi figura de proa no seu plantel mas foi elevado a mártir encarnado. Reflecti muito no carácter efémero da nossa existência e nos anos que gastamos a ralhar com a vida, no mal que fazemos uns aos outros de forma consciente e constante sem nos apercebermos que um belo dia vem a Foice e leva-nos para sempre. Pasmo ao constatar as atitudes de permanente conflito e maldade cobarde que o Homem inflige ao seu semelhante (e eu vivo-as, incrivelmente até no meu círculo mais íntimo) sem parar um momento para pensar na inutilidade de tais actos, sem perceber que no fim das contas só têm um buraco na terra garantido e que nada justifica a estupidez propositada que exibem no desfiar infeliz dos seus dias.

Procuro não cair no engodo de desejar que uns embarquem mais cedo que outros para que o Mundo seja um lugar melhor mas desde que Fehér e a minha avó morreram, curiosamente no mesmo ano, comecei a olhar para a vida de forma mais respeitosa. Oxalá muitos fizéssem o mesmo.

7 comentários:

Ricardo disse...

Ó Misha mas afinal és algum futebolista conhecido ou quê? Estavas no relvado com o Faier???

PM Misha disse...

fui futebolista mas não muito famoso, apenas a nível regional.
eu estava em casa a ver o jogo pela tv. porque perguntas, por ter gritado e me ter zangado com ele?

Ricardo disse...

Pensei que estivesses no relvado Misha! Agora entendi que estavas a ver o jogo na TV.

Podias ser alguém ligado ao Benfica, não seria por isso que deixaria de visitar o blogue e marcar o tal café/jantar/convívio de portugueses para um dia destes! :)))

Viva ao Puorto carago!

Anónimo disse...

Benfiquismo à parte... Por vezes preciso que me seja explicada a vida e a sua brevidade. Realmente vale a pena pensar que estamos cá de passagem.

r i t a disse...

Gostei do Post, curiosamente tb comecei a pensar assim quando a minha avó morreu!

pitons na boca disse...

Não posso deixar de criticar uma pequena passagem do texto. Não acho que tenha havido "aproveitamento demagógico" por parte do Benfica. Tentaram honrar um dos seus, caído em pleno exercício do seu trabalho, com a camisola vestida e o símbolo junto ao peito.
Se houve algum aproveitamento, este não foi tanto da parte do clube, mas sim por parte da imprensa que tantas vezes se aproveita do nome de um clube, para vender mais um punhado de folhas ou ter mais umas dezenas de pessoas a ver os seus programas.

Sabes tão bem como eu que, apesar dele não ter jogado assim tantas vezes nem estar no clube assim há tanto tempo, era presença assídua na vida daquelas pessoas praticamente todos os dias e homenagea-lo era (e é) o mínimo que se pode fazer. Se fosse o teu clube certamente também gostarias que não fosse esquecido e que seja lembrado, por uma questão de honra, mais que não seja. ;)


Sobre as lições duras da vida... faz-me lembrar um episódio que se passou comigo, no ano em que perdi o meu avô materno. No Verão seguinte, em pleno torneio da Coobital, marquei um golo, o primeiro golo depois de perder o meu avô. Fui ao fundo da baliza, peguei na bola e enquanto a levava para o centro de campo, elevei a bola sobre a cabeça e apontei para cima, pensando para mim mesmo "avô, este é para ti". Do meio da bancada ouviu-se uma voz bem conhecida cá por Faro (e ainda sem qualquer sotaque polaco) a exclamar "olha lá?! Toma, agora o Naicinho agora também é atleta de Cristo!".

Esta historia lembra-te alguma coisa? ;)


Abraço, grande Sovi.
Tá a chuva em monte aqui, déb!

PM Misha disse...

lembro-me e muito bem, pedi-te desculpa imediatamente e nem abri mais a boca durante o resto do jogo. se houvésse um buraco metia-me lá dentro.

na somos nadinha, naicinho. maior abraço (sem chuva, sem vento, sem neve e até com um sol tímido a bater-me à janela)