A Estação Central de Varsóvia (Warszawa Centralna) é a maior e mais importante estação ferroviária da capital polaca. Coadjuvada por uma estação-satélite, a Estação do Centro da Cidade (Warszawa Śródmieście), todos os dias passam pelos 4 cais desta estação milhares de passageiros utilizadores de centenas de comboios que demandam 242 destinos diferentes, desde as mais importantes cidades da Polónia até capitais europeias como Viena, Moscovo, Praga ou Berlim. A Estação Central é um edifício mal-amado pelos varsovianos por vários motivos, começando pela sua génese.
Tendo começado a sua construção em 1972, o governo da então República Popular da Polónia idealizou uma megalómana estação que centralizasse o trânsito ferroviário da capital. Situada no eixo Este-Oeste, a Estação Central foi um projecto-bandeira do governo socialista polaco que aproveitou os empréstimos financeiros do Ocidente nos anos 70. As demonstrações do poderio comunista tinham esses edifícios como prova da sua grandiosidade mesmo que a sua utilidade fosse menos que efectiva, caso da Estação Central.
A Estação Central na sua inauguração em 1975
O projecto inicial foi diversas vezes modificado durante a edificação da estação, devido a diversas intervenções no sentido de tornar a sua arquitectura o mais inovadora possível. Todas essas intervenções acabaram por reduzir em grande a qualidade da construção e acabamentos, havendo um historial de problemas estruturais crónicos que se mantêm desde a sua apressada inauguração em 1975. Leonid Brejnev visitava o país e a obra precisava estar concluída para que fosse apresentada com a devida pompa ao grande líder soviético. As pressas deram em vagares e a Estação Central nasceu doente, com as deficiências congénitas a agravarem-se a cada dia que passa, obrigando a permanentes reparações desde o primeiro dia de vida até à data corrente.
Não obstante ser um edifício imponente e impressionante visto do exterior, os subterrâneos da Estação guardam uma outra Varsóvia que não surge nos mapas. Uma Varsóvia miserável, ébria, despida de qualquer dignidade e esperança. Alcoólicos fogem do frio e combatem as horas alagados em vodka, mulheres abandonadas pela sorte espalham-se inertes pelos corredores onde funciona um comércio duvidoso. Bares de kebabs sebentas paredes-meias com casas de jogos electrónicos, pastelarias junto a arrecadações de lixo, tabacarias partilham o espaço com lojas de moda vietnamita e informáticos de pé-de-cabra. Paira um cheiro monótono e cansativo a comida desaconselhada que despertaria o instinto fiscal do menos zeloso agente da nossa implacável ASAE.
Passar por esses corredores, como faço todas as semanas, é um exercício de aprendizagem. Meninas chiques desviam-se dos cambaleantes mendigos com a indiferença própria de quem ignora as estórias daquela gente. A Polónia oprimida e humilde de ontem contrasta com a Polónia ostentosa e moderna de hoje sem que haja atrito, partilhando o espaço físico sem viverem no mesmo mundo. Não há inveja por parte dos desfavorecidos nem solidariedade vinda dos abastados. Coexistem sem sequer olharem-se, como se cada qual não existisse. O conformismo de uns, a despreocupação de outros.
Desde meados de 80 que Varsóvia pondera a demolição deste elefante branco e a sua posterior substituição por um edifício mais moderno, eficiente e que se enquadre na arquitectura envidraçada dos arranha-céus que a rodeiam. A pesada burocracia polaca e a inexistência de projectos viáveis impede o avanço dos planos, prolongando o sacrifício dos seus utilizadores e o sofrimento triste dum edifício que nunca ganhou a simpatia da sua gente. Entretanto a Estação Central vai agonizando junto ao seu vizinho PKiN, uma fidalga arruinada chorando a sua sofrida vida e acolhendo no seu regaço outros que, como ela, não pediram para nascer condenados.
3 comentários:
Ainda me lembro quando lá estive a primeira vez em 2003, sem qualquer acompanhamento para ir para Łódź. O melhor de tudo foi ver o palácio da cultura. Só no Tui falavam inglês, não se percebia o que eram partidas das chegadas, uma "holandesa" depois de ter dito algo em polaco, depois em inglês, a dizer que tinha tudo e mais alguma coisa (que melga) dei-lhe o meu último pacote de leite de chocolate. Ainda ouvi uma conversa telefónica dum inglês a praguejar e que queria sair do país. (eu quero ficar). Um colega foi repreendido por tirar fotos na estação. Sim o cheiro nauseabundo é o mesmo, e os pombos então... Já passaram 5 anos.
Retrato bastante realista desta péssima (como todas na Polónia) estação de comboios. Aliás, tirando os países da Escandinávia, ainda estou para conhecer outras estações de comboios na Europa que não sejam uma evidente amostra da pobreza e desigualdades de um país. Nota de rodapé apenas para as tuas impressões sobre as lojas destes tuneis labirinticos. Já lá comi Kebabs que são muito melhores (tal como a colher de pau dá sabor à comida portuguesa, se calhar também as paredes sebentas ajudam na degustação de um bom kebab) que outros à venda em algumas praças centrais de algumas cidades.
Mas não me esqueço quando cheguei pela primeira vez a esta estação, em 2005. Quis imediatamente apanhar o próximo comboio para Cracóvia. Hoje, tal como escreveste, já vou estando cada vez mais...indiferente ao que passa à minha volta.
Olá, eu tenho uma grande paixão pela Polonia, e desejo mtu um dia ir lá.
Queria saber como é lá, e quando é o verão (em que mês) e quando é o inverno..e quantos dias eles duram, me diga poor favor, pode me responder em meu blog..
beeiijos..
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