quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Cantando e rindo

À medida que os dias vão correndo sinto que a minha adaptação a este país é cada melhor. Há coisas que faziam-me a maior confusão ao início e que agora encaro com a maior das naturalidades, como seja o facto de não se cumprimentar as meninas com beijinhos. É sinal de grande atrevimento saudar raparigas ou senhoras casadas com os tradicionais beijos na face, o aperto de mão é o gesto indicado para qualquer circunstância. Apenas em cerimónias familiares é permitido beijar a mulher da família, mesmo assim de forma diferente à nossa; 1 beijo apenas, se for um cumprimento informal à irmã ou cunhada, ou 3 beijos no caso da avó ou da mãe para demonstrar maior respeito e consideração. Às vezes é-me apresentado cada avião que tenho de usar o ABS hormonal para controlar o latino que há em mim e estender a mão num circunspecto cumprimento, procurando evitar embaraçosos desvios no percurso até à mão da polaca apresentada.

Outra coisa que ao início batia mal no meu sistema era o cinzentismo dos dias. No entanto vai-se notando mais tempo de claridade e agora o sol despede-se de nós já depois das 17:00, o que permite que haja luz no céu até perto das 18:00. É uma diferença significativa dos idos de Dezembro em que às 16:30 a escuridão era total e acentuava a depressão que cada um de nós sentia. Hoje não me apoquenta a falta de luz nem o fedor a kebabs ultragordurosas (vulgo, sandes gregas para os nativos de Faro) com que tenho de confrontar-me sempre que saio na estação Centrum do Metro. Não me ralo com os inúmeros alcoólicos inertes que quase sacudo a pontapé para poder andar nas passagens subterrâneas da cidade, eles também não me fazem mal nenhum. Laissez faire, laissez passer.

Mando literalmente às urtigas a lei idiota que obriga o peão a cumprir o sinal vermelho até ao fim em absoluta imobilidade. Se não vem carro nenhum porque cargas de diabos não hei de atravessar a rua? Dizem que poderei ser multado mas que se lixe, eles deviam era de preocupar-se com a falta de civismo dos condutores que não respeitam uma única passadeira. Eu já pensei em fazer valer os meus direitos de pedestre e arriscar atravessar sem esperar que a minha prioridade seja respeitada. Claro, arrisco também a levar uma palhaça e ficar feito num oito mas a indemnização devida pela consequente acção judicial não é pequena. Começo a pensar se um braço partido não justificará umas semanas de férias e um bolo no banco...

Mas as aulas de polaco já começaram e já sei pedir o batom para o cieiro que me atormenta. As deliciosas Bolas de Berlim com chocolate não são mais inacessíveis. Avizinha-se uma reunião da comunidade portuguesa e já paira no ar o cheiro dum Cozido especialmente confeccionado para a ocasião (por falar nisso, tenho de lembrar-me e pedir à minha mãe que me mande um quilo de farinha de milho e umas linguiças para fazer um xarém à varsoviana). Profissionalmente a coisa está bem melhor pois a reputação vai-se criando e o retorno tão desejado vai começando a surgir. A boa onda é de tal forma abrangente que até a secção de trânsito da câmara municipal decidiu iniciar as tão desejadas obras de beneficiação do pavimento da minha rua e vão tratar de alcatifar aquela que é a maior rua da Polónia. Menos solavancos perto de casa.

Como se não bastásse de coisas boas, as equipas portuguesas mais representativas da minha realidade deram-me uma grande alegria. O meu Sporting porque deu 3 batatas e mandou passar o campo numa demonstração de qualidade que eu há muito não via, o Benfica (oportunidade única para ver este nome escrito por mim com maiúscula) fez-me vibrar com a qualificação e deu-me motivos para sorrir. Pelos meus amigos encarnados, que decerto não ganharam para o tabaco e unhas, e pela forma como foi conseguida essa mesma qualificação. Foi o "Benfica à Benfica" que o meu presidente preferido glosou e que reflectiu-se na perfeição no jogo em Nuremberga: Erros de infantis atrás, sorte do caraças à frente. Mas passou e eu fico contente.

Sábado tenho festa de aniversário do pai da Iza (curiosamente, o pai dela faz anos no mesmo dia do meu) e já me cheira a comidinha caseira. Vida de emigrau não é assim tão mau.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ainda bem que estás de boa onda por Warszawa. É bom ler isto no teu blog. Essa coisa de Xarem deu-me uma saudade de Portugal e da nossa comida. Já lá vão 4 anos, e uns posinhos, de imigrante (embora noutro país) que não toco boa comida portuguesa. Mariscada por cá... o que é isso ò meu... que saudades.