Há dias li uma notícia triste dum casal de crianças novinhas que brincavam no terreno da casa onde sempre viveram e que morreram após terem pisado uma bomba que estava no próprio quintal. Apurou-se que a bomba em questão eram sobras da II Guerra Mundial e que ninguém sabia da sua existência com a agravante daquele ser um terreno pertença da família há décadas e onde as infelizes crianças brincavam desde os seus primeiros dias. Um incidente que não é virgem como aqui já foi referido.
O Przemo contou-me que nos seus tempos de adolescente, há talvez trinta anos, uma das brincadeiras preferidas era ir a um campo ermo nos arredores da sua cidade (Poznań) onde os rapazes tinham encontrado um arsenal alemão enterrado junto ao rio Warta, trazer à superfície as caixas de munições e desmantelar balas aproveitando a pólvora para fazer experiências com tijolos e canos, tampas e rolhas de garrafa. Relatou-me até um episódio em que um amigo descobriu um morteiro intacto e exibiu-o orgulhoso aos camaradas. Falou-me ainda de um amigo que lhe mostrou um bunker construído no subsolo da sua vivenda à saída de Poznań com uma rede tentacular de túneis que lhe permitem ir da sala à garagem que fica a 50m da porta de casa sem apanhar um pingo de chuva.
O mesmo Przemo, para rematar o meu espanto, explicou-me que na Polónia é obrigatório fazer um exame ao solo antes de se iniciar qualquer construção para evitar estes casos. Chamam especialistas que penteiam a área definida munidos de equipamento de Raio-X e detetores de metais e munições, embargando a obra ao mínimo sinal suspeito.
Há trinta anos em Faro jogava-se à mosca, jogava-se aos centros nas ruas, alguém mais crescido já tinha bicicleta e organizava corridas e gincanas nos baldios. O Przemo olha para mim e sorri enquanto se estica na cadeira e ensina:
- Pois, e nós tínhamos as balas dos alemães para brincarmos.
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