segunda-feira, 11 de abril de 2011

Polónia – dia 365

Vítimas do acidente Domingo celebrou-se um pouco por toda a Polónia o primeiro aniversário do terrível acidente aéreo em Smoleńsk que vitimou o então Presidente da República Lech Kaczyński e um significativo número de políticos e figuras proeminentes da sociedade polaca, uma tragédia que ainda não sarou e que está bem viva na memória de todos os polacos. Na capital Varsóvia as cerimónias incidiram mais na Praça de Piłsudski e em frente do Palácio Presidencial. Confesso que senti uma certa curiosidade mórbida em assistir às diversas iniciativas que se destinavam a recordar e homenagear os falecidos mas o imenso vento que soprou durante todo o fim de semana aliado a uma irresistível preguiça levaram-me a ficar na preguiça todo o dia, agarradinho ao vício e a acompanhar os acontecimentos à distância.

As circunstâncias nunca devidamente explicadas nas quais se deu o acidente continuam a criar pasto bastante para os amantes das especulações, verdade seja dita que há imensas coisas que não têm contornos perfeitamente definidos e que se duvida que alguma vez venham a ter. As teorias de conspiração continuam a ser lançadas na praça pública e quase todas têm um denominador comum: os russos. Eles são os principais visados e apontados como estando por trás da queda do avião presidencial. A pergunta é óbvia – Porquê? Aí entram as explicações:

  • Terá sido uma vingança do Kremlin por Varsóvia ter alinhado com Tblissi aquando da Crise do Cáucaso. A Polónia foi uma defensora da causa georgiana desde o primeiro instante tendo até sugerido a admissão da ex-república soviética na NATO, Moscovo não esqueceu a afronta dum seu antigo subordinado e castigo-o com a subtração do seu Chefe de Estado levando de bónus um considerável número de personalidades do país. Como uma matreira aranha que atrai as suas presas à teia, a Rússia lançou o canto da sereia aos chefes polacos para que eles pagassem com as suas vidas o arrojo que tiveram ao apoiar um filho rebelde no seu arrufo contra a Mãe (Rússia).
  • Foram obtidos filmes no local do acidente onde se ouvem vozes e disparos, alguns desses filmes têm transcrições em polaco mas nenhuma é considerada fidedigna. Consta que foram os bombeiros do aeroporto os primeiros a chegar à cena do acidente, isso justifica as vozes e o movimento de pessoas em torno dos destroços do avião mas… os disparos? E o roubo de passaportes e alguns cartões de crédito das vítimas que registaram movimentos e compras mesmo depois dos seus titulares terem sido sepultados?
  • A caixa negra do Tupolev sinistrado nunca foi enviada para a Polónia para que os técnicos polacos pudessem fazer uma investigação à sua maneira, tudo o que Moscovo enviou foram cópias das gravações que nunca podem ser aferidas como verdadeiras. Pairará sempre a suspeita de adulteração de conteúdos e mesmo que se faça boa-fé nas ações dos russos, o que é contra as elementares regras do bom senso *, a Rússia recusa-se a enviar a caixa negra para ser analisada na Polónia. É o caso da mulher de César.
  • A Polónia descobriu que tem reservas de gás natural para não ter de depender do gás importado da Rússia. Sabe-se que este é um argumento de peso nas negociações com mão de ferro que Moscovo mantém com os seus parceiros da ex-URSS e que o Kremlin lança a interrupção do fornecimento de gás como trunfo irrevogável na imposição das suas condições. Por outras palavras, a Rússia diz como quer as coisas sob pena de cortar o gás e os governos aceitam o trato com medo de tiritarem de frio durante o inverno continental. Agora Varsóvia pode fazer um manguito ao gás russo e recusar tratados desfavoráveis porque consegue aquecer-se a si própria, o Kremlin não terá gostado da descoberta e terá agido em conformidade.

Este alguns exemplos das teses que circulam nos diversos setores de opinião polacos, uns mais defensáveis e pertinentes que outros, masLocal da queda numa coisa o povo converge e isso é na frustração que sentem ao sentir que é difícil ou quase impossível apurar a verdade. Mas isso não me surpreende, nós enquanto república ocidental – teoricamente mais cívica que as do Leste Europeu – fizemos inquéritos atrás de inquéritos, relatórios atrás de relatórios, análises de peritos, especialistas e entendidos, obtiveram-se confissões e testemunhos e nunca se publicou o que aconteceu em Camarate há quase 40 anos, infelizmente temo que também jamais se venha a saber o que realmente se passou naquela fatídica manhã de primavera em Smoleńsk.

* Os russos têm um ditado que diz: “Gente temos muita”, o valor que os russos empregam à vida humana é muito muito ‘diferente’ daquele que é dado pela sociedade ocidental.

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