terça-feira, 25 de março de 2008

Voltar a Varsóvia

O meu colega (colega, não. Ilustre senhor coordenador) Mário contou-me que ao chegar a Varsóvia de comboio é que percebeu que estava efectivamente na Polónia, no tal país distante e frio em que se fala uma espécie de russo, onde as pessoas eram comidas pelos comunistas. Enfim, o folclore que coloria o desconhecimento e misticismo que envolvia os países da Cortina de Ferro. Os grafitis sombrios desenhados em pilares de cimento ferrugento ameaçam o visitante com o peso da história polaca, uma linguagem mais bélica e escura decora o labirinto de túneis mal iluminados do acesso à Estação Central, o comboio serpenteia entre o entulho derramado no chão e desvia-se com perícia dos pedaços de tecto mal tratado que entretanto caíram por falta de manutenção. Bem-vindos a Varsóvia, capital da Polónia.

A viagem entre Tychy e Varsóvia fez-se bem. Os comboios são antigos mas confortáveis, com um sistema de aquecimento que tira-nos os casacos dos ombros e faz-nos espreguiçar de contentamento. O quentinho do interior contrasta com a paisagem branca que vai passando por nós, os estofos são forrados por uma imitação de veludo verde, compartimentos de 8 lugares onde polacos e um algarvio dormitam embalados pelos sacolejos compassados do "cavalo de ferro". Fuma-se dentro do compartimento descontraidamente, nem pedir licença nem procurar a (eventual) zona própria. Uma nesga de janela aberta permite que o único não fumante do momento escape às baforadas polacas sem ter de manifestar aborrecimento.


Entre a Silésia e a Capital há um país que as divide. Até o dialecto é diferente: tomate em polaco é pomidory e em silesiano é tomate. Gosto da tranquilidade da Silésia e da diversidade de Varsóvia, é bom trabalhar na capital mas é muito bom recolher em Tychy. A paisagem não se compara, o verde do Sul choca com o cinzentismo urbano decadente da capital. O cheiro do ar é diferente, em Varsóvia o ar (ainda) é inodoro enquanto na Silésia as fornalhas dos aquecimentos a carvão (à boa maneira mineira) debitam metros cúbicos de fumo fedorento que empestam o ambiente (essa é a diferença mais rápida de se sentir). As pessoas têm outro comportamento, Mais calmo na Silésia mas mais agressivos em Varsóvia.

Não sei onde me sinto melhor, com franqueza, mas sei que a dado momento preciso de ambas as sensações. Da pica e do relaxe.

É a vida no seu esplendor.

domingo, 23 de março de 2008

Wielkanoc - A Páscoa em polaco

No "meu tempo" a família ia para a Quinta do Eucalipto, onde fica a casa dos meus tios, situada a meio caminho entre o Aeroporto e a Praia de Faro, passar a Páscoa na companhia dos meus primos. Esta era uma época de refeições imensas que começavam na casa de jantar e arrastavam-se até ao sofá da sala onde a digestão era feita de forma difícil, entre filmes transmitidos circunstancialmente pela TV e mais uma concha de feijão com massa, uma dentada no pernil assado no forno ou nos chocolates com que o meu avô nos encharcava. Quando a hora do jantar chegava o almoço ainda não tinha terminado e não era de todo invulgar "colar" o jantar ao almoço, apenas esperar pela mudança de pratos e toca a enfardar outra vez. O meu tio é mestre nesta modalidade e nem os seus 84 anos o impedem de participar em maratonas gastronómicas, dando-me lições de performance hepática quando calha a altura. Outra massa de gente que já não se fabrica.

As tradições rituais nunca foram apanágio do meu pessoal, preferíamos mais o convívio à mesa e recordar outros tempos e outras gentes. Recordo que, para dar boa sorte, a minha tia e avó faziam questão que as crianças da família estreássem roupa nova. A intenção era boa mas as jogatanas de bola na rua que se seguiam davam cabo da roupinha toda. O Pedro da D. Vitória e o irmão Hugo não facilitavam e nas traseiras da casa do Gerard as peladinhas faziam fogo, cada carrinho dava dó por ver as calças a rasgar, cada barranaço na bola cuspia as notas de conto pagas pelos sapatinhos de sola de couro. Mais velhinho, comecei a aproveitar a Sexta-feira Santa para preparar a figadeira para o derrame de álcool que se seguiria nesse fim-de-semana. Belas noitadas com os amigos e grandes camadas pascais foram curtidas em Faro. Esta era a Páscoa do "meu tempo".

Neste tempo a Páscoa não começa na Sexta mas apenas no Sábado. É um fim-de-semana cheio de missas que têm diversos temas. Desde a missa da bênção dos alimentos até à benção dos elementos naturais (água, terra, ar, fogo), passando pela evocação dos santos mais importantes desta quadra. O Pequeno-almoço de Domingo é tremendo: Salsichas, fiambres, enchidos diversos, muito pão e mais manteiga ainda, hectolitros de chá. O almoço não fica atrás em termos de grandeza e como estamos na Silésia a Rolada Śląska protagoniza a refeição. A Sexta-feira não é feriado na Polónia... mas a Segunda-feira é.

A "Segunda-feira molhada" é um dia em que as pessoas correm o risco de serem precisamente molhadas se sairem à rua. A tradição de espirrar água para simbolizar o baptismo e a renovação começou como um antigo ritual folclórico nas cidades polacas. Tradicionalmente, os rapazes jogavam água nas mulheres solteiras, mas hoje muitos polacos nas ruas devem ter cuidado quando vêem jovens carregando baldes com água e molhando todos os que surgem no caminho. Pistolas de água também são usadas para atingir as pessoas que, no entanto, não barafustam e acham piada ao sucedido.

Respeito esta tradição como respeito a Tomatina de Buñol. Mandar com baldes de água às fuças dos polacos é coisa que me dá vontade de fazer às vezes mas este ano prefiro limitar-me a relatar o hábito em vez de fazer parte dele. Amanhã regresso de comboio a Varsóvia. Espero chegar seco a casa pois com o fresquinho que anda na rua não apetece nada andar de metro ensopado e apanhar uma constipação.

sábado, 22 de março de 2008

Wiosna

21 de Março é o primeiro dia de Primavera, dia esse que é comemorado pelos polacos com festas e eu percebo bem porquê. O General Inverno retirou, por fim, as suas tropas dando lugar a um exército mais pacífico. O temperamento das pessoas melhora um pouco notando-se uma leveza de espírito mais presente que leva a que os sorrisos surjam finalmente no semblante constantemente cerrado desta gente. Vê-se até um pouco mais de cor na indumentária com que saem à rua, pelo menos nas meninas porque os homens continuam a vestir-se com roupas escuras próprias de quem vai a um funeral. Esta é a estação em que poderei estrear os fantásticos ténis cor-de-rosa que comprei num outlet em Ursus ao preço da uva mijona, ando desejando chocar os polacos com as cores da moda algarvia! Só que a Primavera de Varsóvia não é como na nossa terrinha à beira-mar plantada, pelo menos as primeiras horas têm sido de completa surpresa:

Imaginem que acordam de manhã, estendem a cabeça pela janela e um céu relativamente limpo autoriza-os a vestir menos casacos que o habitual. A advertência do frio é dada pela TVN Meteo e as extremidades do corpo (pés e mãos) são devidamente cuidadas com peúgos mais grossinhos e as luvas da ordem. Preparado para enfrentar a manhã polaca, saio à rua confiante e em desafio ao um clima que não mete medo a este bicho da Praia de Faro.

A viagem até ao primeiro posto de trabalho é feita sem grande stresses, sair de casa bem antes das 7 da matina é o segredo para evitar os engarrafamentos crónicos e agora agravados pelas obras na Puławska. O radio envia-me agradáveis composições cantadas em linguagem que começa a ser familiar, os cruzamentos e respectivas (falta de) regras são conhecidos, chego à empresa onde o habitual lugar debaixo da árvore espera-me para que estacione bem perto do edifício, cumprimento a recepcionista retribuíndo o lânguido sorriso com que ela me recebe, nunca sabendo se é por mera simpatia ou um descarado "fazer-se ao piso". Distribuo "bons-dias" em polaco aos funcionários que já me vão reconhecendo e adentro o gabinete do director dum departamento qualquer para uma cavaqueira de 2 horas. Terminado este talk-show é hora de debandar outras paragens, despedir-me do pessoal, mandar mais um corte de luzes à recepcionista e enfiar-me no problemático trânsito de Varsóvia. Ao sair do edifício... tudo branco!

No espaço de 120 minutos caiu um nevão tamanho que cobriu a cidade de uma alva camada de neve, o carro tapado, a relva invisível, as estradas encharcadas, os vidros embaciados, o algarvio congelado. Um pique à Futre resolve o problema imediato, fugir do briol. Enquanto se conduz, o aquecimento do carro devolve algum sossego e permite o raciocínio sobre o trajecto a escolher para evitar os carros enfileirados nas avenidas varsovianas. No meio dos cálculos sou atacado por um fulminante raio de sol que dissolve as restantes nuvens, abrindo completamente o céu e encandeando-me enquanto não mudo de direcção. Já não é Inverno, é a pura Primavera a penetrar no país e eu pulo de contente ao volante!

2ª paragem do dia, saio do carro e rodopio para ser totalmente atingido pela energia solar. Mais contente pelo estado do tempo preparo o próximo assalto com satisfação pois o solzinho finalmente chegou. Quando acabo esta etapa do dia tenho outra surpresa à minha espera: Uma chuva muidinha mas incessante ensopa-me o corpo de desilusão e obriga-me a caminhar cabisbaixo até ao triste carro que aguarda-me solidário para com o meu estado de espírito. Regresso a casa para deixar as rodas na garagem, almoçar, preparar o trabalho da tarde e limpar-me das más impressões que o clima me causa para que possa enfrentar a realidade sem saudosismos, não dando hipóteses as que as palmeiras da Baixa de Faro me tentem. No curto caminho de casa ao metro levo logo uma estalada doutro elemento da Natureza que ainda não tinha aparecido: O vento.

Fujo dos redemoinhos de pó que me cercam e atiro-me no último segundo para dentro duma carruagem de metro apinhada de grossos polacos com a mesma vida que eu. Chegando ao Centro da cidade já nem ligo à meteorologia e limito-me a seguir o meu caminho, por inércia, pond um pé à frente do outro só para que não caia. Ainda são 14:00 e já levei porrada que chega para uma casa de família.

O dia termina às 18:00 e corro para o Złoty Tarasy para a esperança do dia. O Sena e a namorada, o Cachola e o Gandhi estão à minha espera para mamarmos umas jolas e vermos o Legia-Wisła ao vivo. Após um megacagaçal de rir no shopping à boa maneira farense e como o tempo não está capaz de ir à bola, decidimos vir até à minha casa petiscar um queijinho e jantarmos no restaurante português. Caldo verde, bacalhau e bitoques para encher a barriga de sabores tugas, aqueceram o ânimo e contribuiram para muitas horas de riso, comparando as realidades portuguesas e polacas, traçando um paralelo com as repúblicas bálticas que eles haviam visitado durante a semana. Após concluirmos que a Polónia tem as piores estradas da Europa levantámos âncora e zarpámos para a pousada onde eles estavam hospedados e despedimo-nos com abraços de amizade e risos bastantes. O clima da madrugada varsoviana não afectava as almas algarvias que conviviam naquele momento, bem longe da Rua de Santo António, do Estádio de S. Luís, do Zé Maria, da maltinha, a mais de 3000km da nossa cidade.

Nesse momento voltou a fazer calor, calor humano que aqueceu o pessoal e permitiu à primavera polaca que se instalásse definitivamente. Agora vou à Silésia passar a Páscoa e ver a final da Taça da Liga, deixa lá ver se o coelhinho traz-me amêndoas docinhas ou caroços de azeitonas.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Posta 100

Entre os preparativos para a viagem de trabalho da Iza a Sófia, o trabalho e a falta de tempo disponível para dedicar-me ao blogue, foram surgindo os mais variados motivos para não ter escrito nada nos últimos dias. Lembrei-me, então, que esta seria a centésima posta e decidi comemorar com duas anedotas secas:

"Se na Polónia elas são polacas porque na Estónia não são estacas?"

"No Dia dos Namorados quis dar uma plaquinha em prata à minha namorada com o nome dela. Como não tinha dinheiro, em vez de dar-lhe uma plaquinha dei-lhe uma placona."

Eu sei, já tive melhores momentos. Mas ando a dormir muito pouco, sabem? A omelete tá toda queimadinha. Felizmente vem aí um fim-de-semana prolongado.

sábado, 15 de março de 2008

Postais da Polónia - 2

A Estação Central de Varsóvia (Warszawa Centralna) é a maior e mais importante estação ferroviária da capital polaca. Coadjuvada por uma estação-satélite, a Estação do Centro da Cidade (Warszawa Śródmieście), todos os dias passam pelos 4 cais desta estação milhares de passageiros utilizadores de centenas de comboios que demandam 242 destinos diferentes, desde as mais importantes cidades da Polónia até capitais europeias como Viena, Moscovo, Praga ou Berlim. A Estação Central é um edifício mal-amado pelos varsovianos por vários motivos, começando pela sua génese.

Tendo começado a sua construção em 1972, o governo da então República Popular da Polónia idealizou uma megalómana estação que centralizasse o trânsito ferroviário da capital. Situada no eixo Este-Oeste, a Estação Central foi um projecto-bandeira do governo socialista polaco que aproveitou os empréstimos financeiros do Ocidente nos anos 70. As demonstrações do poderio comunista tinham esses edifícios como prova da sua grandiosidade mesmo que a sua utilidade fosse menos que efectiva, caso da Estação Central.



A Estação Central na sua inauguração em 1975

O projecto inicial foi diversas vezes modificado durante a edificação da estação, devido a diversas intervenções no sentido de tornar a sua arquitectura o mais inovadora possível. Todas essas intervenções acabaram por reduzir em grande a qualidade da construção e acabamentos, havendo um historial de problemas estruturais crónicos que se mantêm desde a sua apressada inauguração em 1975. Leonid Brejnev visitava o país e a obra precisava estar concluída para que fosse apresentada com a devida pompa ao grande líder soviético. As pressas deram em vagares e a Estação Central nasceu doente, com as deficiências congénitas a agravarem-se a cada dia que passa, obrigando a permanentes reparações desde o primeiro dia de vida até à data corrente.

Não obstante ser um edifício imponente e impressionante visto do exterior, os subterrâneos da Estação guardam uma outra Varsóvia que não surge nos mapas. Uma Varsóvia miserável, ébria, despida de qualquer dignidade e esperança. Alcoólicos fogem do frio e combatem as horas alagados em vodka, mulheres abandonadas pela sorte espalham-se inertes pelos corredores onde funciona um comércio duvidoso. Bares de kebabs sebentas paredes-meias com casas de jogos electrónicos, pastelarias junto a arrecadações de lixo, tabacarias partilham o espaço com lojas de moda vietnamita e informáticos de pé-de-cabra. Paira um cheiro monótono e cansativo a comida desaconselhada que despertaria o instinto fiscal do menos zeloso agente da nossa implacável ASAE.

Passar por esses corredores, como faço todas as semanas, é um exercício de aprendizagem. Meninas chiques desviam-se dos cambaleantes mendigos com a indiferença própria de quem ignora as estórias daquela gente. A Polónia oprimida e humilde de ontem contrasta com a Polónia ostentosa e moderna de hoje sem que haja atrito, partilhando o espaço físico sem viverem no mesmo mundo. Não há inveja por parte dos desfavorecidos nem solidariedade vinda dos abastados. Coexistem sem sequer olharem-se, como se cada qual não existisse. O conformismo de uns, a despreocupação de outros.

Desde meados de 80 que Varsóvia pondera a demolição deste elefante branco e a sua posterior substituição por um edifício mais moderno, eficiente e que se enquadre na arquitectura envidraçada dos arranha-céus que a rodeiam. A pesada burocracia polaca e a inexistência de projectos viáveis impede o avanço dos planos, prolongando o sacrifício dos seus utilizadores e o sofrimento triste dum edifício que nunca ganhou a simpatia da sua gente. Entretanto a Estação Central vai agonizando junto ao seu vizinho PKiN, uma fidalga arruinada chorando a sua sofrida vida e acolhendo no seu regaço outros que, como ela, não pediram para nascer condenados.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Dia da mulher, do homem e do resto

8 de Março é o dia do habitual telefonema da minha irmã para recordar-me que comemora-se o Dia Internacional da Mulher. Há anos que esta tradição é cumprida e mesmo estando eu na Polónia ela não deixou passar o dia em claro e ligou... para o número português, obviamente desligado. Cumprindo a minha parte da tradição, respondi à provocação quando bateu a meia-noite do dia 9 avisando que este era o dia do homem, como os outros 364 dias do ano.

É claro que isto é uma rábula privada que mantemos desde o Liceu, quando eu tinha a reputação (nunca devidamente explicada) de que eu era machista. Aproveitamos a efeméride para colocar a escrita em dia e trocar as impressões próprias de dois manos que cresceram juntos para que a vida adulta nos enviásse depois para destinos diferentes. Os planos, as lembranças, as alegrias e angústias da adolescença foram recordados com saudade. E claro, aproveitei para sublinhar que era o Dia do Homem.

No dia 10 abro a agenda para preparar o dia de trabalho e vejo escrito: Dzień Mężczyzn.
No dia 10 de Março, 2 dias depois do Dia Internacional da Mulher, comemora-se na Polónia o Dia do Homem.

Toma lá que é democrático q:D

segunda-feira, 10 de março de 2008

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 6

Faro, num Inverno qualquer da década de 80

O fim-de-semana foi dedicado inteiramente ao futebol, começando logo na tarde de sábado com uma interminável sessão de bota-fora na Escola do Carmo. 2 golos ou 10 minutos e 15 manos à porrada em três equipas para ver quem ganha o maior número de jogos. Lá estavam os clientes habituais, amigos de infância que naquelas tardes cegavam a tudo enquanto a bola rolásse no piso alcatroado daquele recreio. Eu, o Artur, o Lino e o Ruben fazíamos parte do maioritário grupo de sportinguistas que ali passávam os melhores tempos das suas vidas. Mal espreitásse o mais tísico raio de sol, as tardes de Sábado e dias de Domingo eram integralmente gastos a jogar à bola. Tão certo como chegarmos tarde a casa e os nossos pais ralharem conosco.

Era a alegria do fim-de-semana pois no fim da tarde de Domingo a angústia apoderava-se de nós. Era altura de preparar aulas da nova semana, fazer o TPC à pressa, jantar sem vontade. Havia Domingos em que chovia, tempo desagradável, vida triste, só os resumos ao fim da noite traziam alguma actividade. Mas o Sporting perdera nesse fim-de-semana, o Porto ganhara e levava 100 pontos de avanço. O Benfica quinara mas com o mal dos outros podia eu bem, estava-me (e ainda estou-me) bem lixando para essa canalha, não lhes passo cartolina. A Kananga do Japão nunca mais acaba. O Sporting foi perder a Guimarães depois de ter estado a ganhar. No dia seguinte há 2 horas de matemática logo às 8:30 e teste de física a seguir. Eu, o Artur, o Lino e o Ruben afundamo-nos na depressão que antevê a Segunda-feira de abusos que vamos levar. Chove como nunca, ganda merda de semana que isto vai ser.

Varsóvia, num Inverno qualquer 20 anos depois

- Hum... Hoje tá nevoeiro...

domingo, 9 de março de 2008

Somos nós, somos nós...

Em condições normais o regresso do Farense aos Nacionais será uma realidade, assim se mantenha a cadência ganhadora da equipa e não caiam na tentação de que está no papo.

Aplausos para a vitória em Vila Real mas alertas também para as pernas arqueadas que poderão surgir quando ainda faltam 9 jogos para terminar o campeonato. Há muito ponto em disputa e na bola a coisa só acaba quando o árbitro apita.

Eu apostei que o Farense chegava à 1ª Liga mais cedo que estas equipas. Penso que não andarei muito longe de ganhar a aposta. Afinal ainda somos a 11ª equipa no país em presenças (23) no escalão maior do nosso futebol.

Bora, equipa! Em breve voltaremos a estes momentos :


ps - Baranito, já fazias um golinho...

sexta-feira, 7 de março de 2008

Não mijes aí, pá!

Passam hoje 6 meses desde que cheguei à Polónia, desde que concluí a odisseia rodoviária que teve início em Faro e levou-me a Tychy com passagem por Madrid, Limoges, Liége e Dusseldorf. Numa manhã nublada de 2ª feira estacionei na garagem da família Krupa um carro cheio de ilusões e projectos que espero concretizar neste país. Apesar de ter já trabalho garantido em Katowice e do nosso plano inicial passar por estabelecer-nos algures entre a aglomeracja silesiana e Cracóvia, cidade mágica, as condições que foram-nos oferecidas em Varsóvia (quase o triplo do salário) fizeram-nos demandar a capital polaca contra algum cepticismo da minha parte devido à inata aversão que tenho a grandes cidades.

Mas lá carreguei o carro e fiz-me à estrada em busca de sucesso. Felizmente dei-me bem na procura de oportunidades de trabalho e, depois da inicial instalação numa cidade nova, penso estar a passar agora pelo processo de estabilização que tanto necessito. Espero consolidar-me nos próximos meses para poder finalmente atacar em força e com maior confiança as fantásticas possibilidades que este país tem para se ser bem sucedido.

5 meses de Varsóvia foram suficientes para criar um círculo de bons amigos que partilham gostos comuns e comungam dos mesmos valores sociais e ideológicos. Há um núcleo constituído por portugueses que ajem quase em irmandade, outro grupo que é mais globalizado devido às diversas nacionalidades dos meus colegas e que entendem-se bem seja em torno duma cerveja ou dum plano de trabalho (sobre os portugueses que vivem em Varsóvia falarei noutra altura) conforme a ocasião.

Mas estes 5 meses não foram suficiente para decifrar este enigma:

Esta semana é que a colega Rita elucidou-me sem querer quando disse-me "Opa, usa já a nossa. Não tá cá ninguém agora, porque vais andar tanto até à vossa?". Este sinal azul que aqui vêem, estimados leitores, significa WC na Polónia! Os sacanas têm uma circunferência ou um triângulo nas portas das casas de banho consoante os lavabos sejam para senhoras ou para cavalheiros. Teoriza-se sobre a origem dos símbolos desde alusões aos orgãos genitais, será correcto considerar o triângulo como uma saia e o círculo o ícone masculino por exclusão de partes, ou postular que o triângulo invertido caracteriza os ombros largos do homem em contraponto com as redondas formas da anca feminina? Escuso-me a entrar no campo mnemónico limitando-me a relatar que como na ala do piso onde trabalho funciona o WC feminino eu utilizei-o na maior das descontrações sempre que precisei, justificando o olhar admirado das fêmeas com o meu charme latino.

Afinal tratava-se doutra coisa. Como tantos outros homens neste mundo, eu tinha sido apanhado a mijar no sítio errado. Mas francamente! Isto lembra a alguém?



quarta-feira, 5 de março de 2008

Środa

Środa é o pior dia do mundo! Środa é dia que começa muito cedo e acaba tarde. Środa é dia de acordar às 6 da manhã (agora ainda mais cedo porque a rua está em obras) e deitar depois da meia-noite. Środa começa a falar inglês sonolento, converte-se ao polaco dos principiantes pela hora do almoço e termina num português fatigado mas obrigatoriamente eficaz. Środa é vida difícil e pior fica se perdermos a nossa ferramenta de trabalho, essencial para a planificação da agenda e armazenamento de dados. O meu imprescindível PC gripou.

O disco rígido já andava a 2 km/h há algum tempo, talvez por ter a partição do sistema tão cheia que nem conseguia fazer desfragmentação. Formatei a dita cuja e abri a machine para desmontar os componentes e limpá-los da poeira que foi acumulando nos últimos meses. Pus as coisinhas todas de volta nos devidos lugares e ao ligar a máquina surge uma luz intensa na placa-mãe acompanhada dum cheiro a queimado que não deixava dúvidas nenhumas de que tinha feito borrada algures. Desliguei imediatamente, recoloquei as memórias nos slots depois de constatar que estavam mal colocadas e liguei o computador para continuar a instalação do sistema. Já não deu resposta, a motherboard queimou de vez e vou ter de entrar em depesas.

Sábado vou ter de farejar pechinchas nas feiras subterrâneas perto do Pole Mokotowskie e não me escapo de arrotar pelo menos 100 polónios por uma placa nova. Como o meu material está todo no meu disco rígido e o pc da Iza é um portátil, agora tenho de planear o dia de trabalho à unha, levando o triplo do tempo e com um terço da qualidade. É o lado lunar desta cidade, onde felizmente cada dia vai havendo mais sol. Valha-me isso e o facto desta środa, quarta-feira, estar quase no fim.

segunda-feira, 3 de março de 2008

De costas para o mundo

vou fazer os possíveis para não fazer publicidade neste artigo

Tenho a minha antena parabólica guardada na varanda à espera do grande dia. Hoje é / foi o grande dia, o dia da instalação da dita antena que permitirá que acompanhe a par e passo a actualidade do meu país, em português.

Antes de zarpar para a Polónia trouxe o equipamento necessário para poder captar o sinal televisivo das estações nacionais e poder assistir a alguns dos meus programas predilectos, aos telejornais bem como todas as peripécias do infame campeonato de futebol deste ano. 3600km a conduzir com o prato a chocalhar no banco de trás estavam prestes a ser compensados quando os técnicos tocaram à campainha, pontualmente às 11:00 conforme combinado. A expectativa cresceu quando os dois polacos reponderam com um cordial "good morning" ao meu latinizado "dzień dobry!" pois a comunicação iria fazer-se em inglês, poupando-me à vergonha do meu polaco da escola primária.

Rapidamente encaminhei a dupla técnica para a varanda onde a parafernália do satélite aguardava pacientemente o momento da instalação e esfreguei as mãos ante o contentamento que iria ter esta noite. A Iza foi a Cracóvia em trabalho, eu sozinho em casa sem o meu pc (outra estória negra em que este fim-de-semana foi pródigo), ao menos com filmes ou séries ou bola em português para aliviar os olhos cansados de ler páginas de exercícios escritos em anglo-tuga.

3 minutos volvidos ouço uma expressão familiar e de má conotação: "Nie mogam" (Não consigo).
Mas não mogas porquê? Mas que jeitos essa conversa, qual é o problema? Atão eu moro no último andar do prédio, esta bodega tem alguns 15 andares, tá a altura a montes e não consegues montar a antena por mor de quem? Não brinques com isto, não apanhas o sinal por causa de quê?

Simples. Porque a varanda está voltada de costas para o satélite. A montagem do equipamento tem de ser efectuada no telhado e necessita da autorização da administração do edifício. Não se pode fazer nada, nem vale a pena tirarmos as ferramentas da mala, tenha um bom dia e volte a contactar-nos quando (diria, se) tiver a autorização da administração.

Sabendo como é a burocracia, serviço ao cliente e simpatia das pessoas que trabalham neste tipo de trabalho bem posso ir pondo as barbas de molho em relação à tv portuguesa em casa. Talvez para o Euro2008...

domingo, 2 de março de 2008

Hoje há Derby

Que Vítor Damas guie as luvas de Rui Patrício;

Que Álvaro Cardoso galvanize Abel no corredor direito;
Que Morato tape a grande área como Tonel;
Que André Cruz inspire Polga a posicionar-se;
Que Hilário indique a Grimi a direcção para o êxito;

Que Oceano anime Miguel Veloso com a sua raça;
Que Balakov segrede os seus truques a Izmailov;
Que Osvaldo Silva engrandeça de classe João Moutinho;
Que Figo apareça no corpo de Pereirinha;

Que Manuel Fernandes socorra Tiuí a encontrar o caminho das redes;
Que Yazalde encarne esta noite em Vukcevic;

E que se ouçam violinos esta noite em Alvalade.



Força, Sporting! Vence por nós!