A saga dum filho de Faro na Polónia (em Bielany, no norte de Varsóvia) - desde 2007
terça-feira, 25 de março de 2008
Voltar a Varsóvia
domingo, 23 de março de 2008
Wielkanoc - A Páscoa em polaco
As tradições rituais nunca foram apanágio do meu pessoal, preferíamos mais o convívio à mesa e recordar outros tempos e outras gentes. Recordo que, para dar boa sorte, a minha tia e avó faziam questão que as crianças da família estreássem roupa nova. A intenção era boa mas as jogatanas de bola na rua que se seguiam davam cabo da roupinha toda. O Pedro da D. Vitória e o irmão Hugo não facilitavam e nas traseiras da casa do Gerard as peladinhas faziam fogo, cada carrinho dava dó por ver as calças a rasgar, cada barranaço na bola cuspia as notas de conto pagas pelos sapatinhos de sola de couro. Mais velhinho, comecei a aproveitar a Sexta-feira Santa para preparar a figadeira para o derrame de álcool que se seguiria nesse fim-de-semana. Belas noitadas com os amigos e grandes camadas pascais foram curtidas em Faro. Esta era a Páscoa do "meu tempo".
Neste tempo a Páscoa não começa na Sexta mas apenas no Sábado. É um fim-de-semana cheio de missas que têm diversos temas. Desde a missa da bênção dos alimentos até à benção dos elementos naturais (água, terra, ar, fogo), passando pela evocação dos santos mais importantes desta quadra. O Pequeno-almoço de Domingo é tremendo: Salsichas, fiambres, enchidos diversos, muito pão e mais manteiga ainda, hectolitros de chá. O almoço não fica atrás em termos de grandeza e como estamos na Silésia a Rolada Śląska protagoniza a refeição. A Sexta-feira não é feriado na Polónia... mas a Segunda-feira é.
A "Segunda-feira molhada" é um dia em que as pessoas correm o risco de serem precisamente molhadas se sairem à rua. A tradição de espirrar água para simbolizar o baptismo e a renovação começou como um antigo ritual folclórico nas cidades polacas. Tradicionalmente, os rapazes jogavam água nas mulheres solteiras, mas hoje muitos polacos nas ruas devem ter cuidado quando vêem jovens carregando baldes com água e molhando todos os que surgem no caminho. Pistolas de água também são usadas para atingir as pessoas que, no entanto, não barafustam e acham piada ao sucedido.
Respeito esta tradição como respeito a Tomatina de Buñol. Mandar com baldes de água às fuças dos polacos é coisa que me dá vontade de fazer às vezes mas este ano prefiro limitar-me a relatar o hábito em vez de fazer parte dele. Amanhã regresso de comboio a Varsóvia. Espero chegar seco a casa pois com o fresquinho que anda na rua não apetece nada andar de metro ensopado e apanhar uma constipação.
sábado, 22 de março de 2008
Wiosna
quinta-feira, 20 de março de 2008
Posta 100
"Se na Polónia elas são polacas porque na Estónia não são estacas?"
"No Dia dos Namorados quis dar uma plaquinha em prata à minha namorada com o nome dela. Como não tinha dinheiro, em vez de dar-lhe uma plaquinha dei-lhe uma placona."
Eu sei, já tive melhores momentos. Mas ando a dormir muito pouco, sabem? A omelete tá toda queimadinha. Felizmente vem aí um fim-de-semana prolongado.
sábado, 15 de março de 2008
Postais da Polónia - 2
Tendo começado a sua construção em 1972, o governo da então República Popular da Polónia idealizou uma megalómana estação que centralizasse o trânsito ferroviário da capital. Situada no eixo Este-Oeste, a Estação Central foi um projecto-bandeira do governo socialista polaco que aproveitou os empréstimos financeiros do Ocidente nos anos 70. As demonstrações do poderio comunista tinham esses edifícios como prova da sua grandiosidade mesmo que a sua utilidade fosse menos que efectiva, caso da Estação Central.
A Estação Central na sua inauguração em 1975
O projecto inicial foi diversas vezes modificado durante a edificação da estação, devido a diversas intervenções no sentido de tornar a sua arquitectura o mais inovadora possível. Todas essas intervenções acabaram por reduzir em grande a qualidade da construção e acabamentos, havendo um historial de problemas estruturais crónicos que se mantêm desde a sua apressada inauguração em 1975. Leonid Brejnev visitava o país e a obra precisava estar concluída para que fosse apresentada com a devida pompa ao grande líder soviético. As pressas deram em vagares e a Estação Central nasceu doente, com as deficiências congénitas a agravarem-se a cada dia que passa, obrigando a permanentes reparações desde o primeiro dia de vida até à data corrente.
Não obstante ser um edifício imponente e impressionante visto do exterior, os subterrâneos da Estação guardam uma outra Varsóvia que não surge nos mapas. Uma Varsóvia miserável, ébria, despida de qualquer dignidade e esperança. Alcoólicos fogem do frio e combatem as horas alagados em vodka, mulheres abandonadas pela sorte espalham-se inertes pelos corredores onde funciona um comércio duvidoso. Bares de kebabs sebentas paredes-meias com casas de jogos electrónicos, pastelarias junto a arrecadações de lixo, tabacarias partilham o espaço com lojas de moda vietnamita e informáticos de pé-de-cabra. Paira um cheiro monótono e cansativo a comida desaconselhada que despertaria o instinto fiscal do menos zeloso agente da nossa implacável ASAE.
Passar por esses corredores, como faço todas as semanas, é um exercício de aprendizagem. Meninas chiques desviam-se dos cambaleantes mendigos com a indiferença própria de quem ignora as estórias daquela gente. A Polónia oprimida e humilde de ontem contrasta com a Polónia ostentosa e moderna de hoje sem que haja atrito, partilhando o espaço físico sem viverem no mesmo mundo. Não há inveja por parte dos desfavorecidos nem solidariedade vinda dos abastados. Coexistem sem sequer olharem-se, como se cada qual não existisse. O conformismo de uns, a despreocupação de outros.
Desde meados de 80 que Varsóvia pondera a demolição deste elefante branco e a sua posterior substituição por um edifício mais moderno, eficiente e que se enquadre na arquitectura envidraçada dos arranha-céus que a rodeiam. A pesada burocracia polaca e a inexistência de projectos viáveis impede o avanço dos planos, prolongando o sacrifício dos seus utilizadores e o sofrimento triste dum edifício que nunca ganhou a simpatia da sua gente. Entretanto a Estação Central vai agonizando junto ao seu vizinho PKiN, uma fidalga arruinada chorando a sua sofrida vida e acolhendo no seu regaço outros que, como ela, não pediram para nascer condenados.
quarta-feira, 12 de março de 2008
Dia da mulher, do homem e do resto
É claro que isto é uma rábula privada que mantemos desde o Liceu, quando eu tinha a reputação (nunca devidamente explicada) de que eu era machista. Aproveitamos a efeméride para colocar a escrita em dia e trocar as impressões próprias de dois manos que cresceram juntos para que a vida adulta nos enviásse depois para destinos diferentes. Os planos, as lembranças, as alegrias e angústias da adolescença foram recordados com saudade. E claro, aproveitei para sublinhar que era o Dia do Homem.
No dia 10 abro a agenda para preparar o dia de trabalho e vejo escrito: Dzień Mężczyzn.
No dia 10 de Março, 2 dias depois do Dia Internacional da Mulher, comemora-se na Polónia o Dia do Homem.
Toma lá que é democrático q:D
segunda-feira, 10 de março de 2008
Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 6
O fim-de-semana foi dedicado inteiramente ao futebol, começando logo na tarde de sábado com uma interminável sessão de bota-fora na Escola do Carmo. 2 golos ou 10 minutos e 15 manos à porrada em três equipas para ver quem ganha o maior número de jogos. Lá estavam os clientes habituais, amigos de infância que naquelas tardes cegavam a tudo enquanto a bola rolásse no piso alcatroado daquele recreio. Eu, o Artur, o Lino e o Ruben fazíamos parte do maioritário grupo de sportinguistas que ali passávam os melhores tempos das suas vidas. Mal espreitásse o mais tísico raio de sol, as tardes de Sábado e dias de Domingo eram integralmente gastos a jogar à bola. Tão certo como chegarmos tarde a casa e os nossos pais ralharem conosco.
Era a alegria do fim-de-semana pois no fim da tarde de Domingo a angústia apoderava-se de nós. Era altura de preparar aulas da nova semana, fazer o TPC à pressa, jantar sem vontade. Havia Domingos em que chovia, tempo desagradável, vida triste, só os resumos ao fim da noite traziam alguma actividade. Mas o Sporting perdera nesse fim-de-semana, o Porto ganhara e levava 100 pontos de avanço. O Benfica quinara mas com o mal dos outros podia eu bem, estava-me (e ainda estou-me) bem lixando para essa canalha, não lhes passo cartolina. A Kananga do Japão nunca mais acaba. O Sporting foi perder a Guimarães depois de ter estado a ganhar. No dia seguinte há 2 horas de matemática logo às 8:30 e teste de física a seguir. Eu, o Artur, o Lino e o Ruben afundamo-nos na depressão que antevê a Segunda-feira de abusos que vamos levar. Chove como nunca, ganda merda de semana que isto vai ser.
Varsóvia, num Inverno qualquer 20 anos depois
- Hum... Hoje tá nevoeiro...
domingo, 9 de março de 2008
Somos nós, somos nós...
Aplausos para a vitória em Vila Real mas alertas também para as pernas arqueadas que poderão surgir quando ainda faltam 9 jogos para terminar o campeonato. Há muito ponto em disputa e na bola a coisa só acaba quando o árbitro apita.
Eu apostei que o Farense chegava à 1ª Liga mais cedo que estas equipas. Penso que não andarei muito longe de ganhar a aposta. Afinal ainda somos a 11ª equipa no país em presenças (23) no escalão maior do nosso futebol.
Bora, equipa! Em breve voltaremos a estes momentos :
ps - Baranito, já fazias um golinho...
sexta-feira, 7 de março de 2008
Não mijes aí, pá!
Mas lá carreguei o carro e fiz-me à estrada em busca de sucesso. Felizmente dei-me bem na procura de oportunidades de trabalho e, depois da inicial instalação numa cidade nova, penso estar a passar agora pelo processo de estabilização que tanto necessito. Espero consolidar-me nos próximos meses para poder finalmente atacar em força e com maior confiança as fantásticas possibilidades que este país tem para se ser bem sucedido.
5 meses de Varsóvia foram suficientes para criar um círculo de bons amigos que partilham gostos comuns e comungam dos mesmos valores sociais e ideológicos. Há um núcleo constituído por portugueses que ajem quase em irmandade, outro grupo que é mais globalizado devido às diversas nacionalidades dos meus colegas e que entendem-se bem seja em torno duma cerveja ou dum plano de trabalho (sobre os portugueses que vivem em Varsóvia falarei noutra altura) conforme a ocasião.
Esta semana é que a colega Rita elucidou-me sem querer quando disse-me "Opa, usa já a nossa. Não tá cá ninguém agora, porque vais andar tanto até à vossa?". Este sinal azul que aqui vêem, estimados leitores, significa WC na Polónia! Os sacanas têm uma circunferência ou um triângulo nas portas das casas de banho consoante os lavabos sejam para senhoras ou para cavalheiros. Teoriza-se sobre a origem dos símbolos desde alusões aos orgãos genitais, será correcto considerar o triângulo como uma saia e o círculo o ícone masculino por exclusão de partes, ou postular que o triângulo invertido caracteriza os ombros largos do homem em contraponto com as redondas formas da anca feminina? Escuso-me a entrar no campo mnemónico limitando-me a relatar que como na ala do piso onde trabalho funciona o WC feminino eu utilizei-o na maior das descontrações sempre que precisei, justificando o olhar admirado das fêmeas com o meu charme latino.
Afinal tratava-se doutra coisa. Como tantos outros homens neste mundo, eu tinha sido apanhado a mijar no sítio errado. Mas francamente! Isto lembra a alguém?quarta-feira, 5 de março de 2008
Środa
O disco rígido já andava a 2 km/h há algum tempo, talvez por ter a partição do sistema tão cheia que nem conseguia fazer desfragmentação. Formatei a dita cuja e abri a machine para desmontar os componentes e limpá-los da poeira que foi acumulando nos últimos meses. Pus as coisinhas todas de volta nos devidos lugares e ao ligar a máquina surge uma luz intensa na placa-mãe acompanhada dum cheiro a queimado que não deixava dúvidas nenhumas de que tinha feito borrada algures. Desliguei imediatamente, recoloquei as memórias nos slots depois de constatar que estavam mal colocadas e liguei o computador para continuar a instalação do sistema. Já não deu resposta, a motherboard queimou de vez e vou ter de entrar em depesas.
Sábado vou ter de farejar pechinchas nas feiras subterrâneas perto do Pole Mokotowskie e não me escapo de arrotar pelo menos 100 polónios por uma placa nova. Como o meu material está todo no meu disco rígido e o pc da Iza é um portátil, agora tenho de planear o dia de trabalho à unha, levando o triplo do tempo e com um terço da qualidade. É o lado lunar desta cidade, onde felizmente cada dia vai havendo mais sol. Valha-me isso e o facto desta środa, quarta-feira, estar quase no fim.
segunda-feira, 3 de março de 2008
De costas para o mundo
Tenho a minha antena parabólica guardada na varanda à espera do grande dia. Hoje é / foi o grande dia, o dia da instalação da dita antena que permitirá que acompanhe a par e passo a actualidade do meu país, em português.
Antes de zarpar para a Polónia trouxe o equipamento necessário para poder captar o sinal televisivo das estações nacionais e poder assistir a alguns dos meus programas predilectos, aos telejornais bem como todas as peripécias do infame campeonato de futebol deste ano. 3600km a conduzir com o prato a chocalhar no banco de trás estavam prestes a ser compensados quando os técnicos tocaram à campainha, pontualmente às 11:00 conforme combinado. A expectativa cresceu quando os dois polacos reponderam com um cordial "good morning" ao meu latinizado "dzień dobry!" pois a comunicação iria fazer-se em inglês, poupando-me à vergonha do meu polaco da escola primária.
Rapidamente encaminhei a dupla técnica para a varanda onde a parafernália do satélite aguardava pacientemente o momento da instalação e esfreguei as mãos ante o contentamento que iria ter esta noite. A Iza foi a Cracóvia em trabalho, eu sozinho em casa sem o meu pc (outra estória negra em que este fim-de-semana foi pródigo), ao menos com filmes ou séries ou bola em português para aliviar os olhos cansados de ler páginas de exercícios escritos em anglo-tuga.
3 minutos volvidos ouço uma expressão familiar e de má conotação: "Nie mogam" (Não consigo).
Mas não mogas porquê? Mas que jeitos essa conversa, qual é o problema? Atão eu moro no último andar do prédio, esta bodega tem alguns 15 andares, tá a altura a montes e não consegues montar a antena por mor de quem? Não brinques com isto, não apanhas o sinal por causa de quê?
Simples. Porque a varanda está voltada de costas para o satélite. A montagem do equipamento tem de ser efectuada no telhado e necessita da autorização da administração do edifício. Não se pode fazer nada, nem vale a pena tirarmos as ferramentas da mala, tenha um bom dia e volte a contactar-nos quando (diria, se) tiver a autorização da administração.
Sabendo como é a burocracia, serviço ao cliente e simpatia das pessoas que trabalham neste tipo de trabalho bem posso ir pondo as barbas de molho em relação à tv portuguesa em casa. Talvez para o Euro2008...
domingo, 2 de março de 2008
Hoje há Derby
Que Álvaro Cardoso galvanize Abel no corredor direito;
Que Morato tape a grande área como Tonel;
Que André Cruz inspire Polga a posicionar-se;
Que Hilário indique a Grimi a direcção para o êxito;
Que Oceano anime Miguel Veloso com a sua raça;
Que Balakov segrede os seus truques a Izmailov;
Que Osvaldo Silva engrandeça de classe João Moutinho;
Que Figo apareça no corpo de Pereirinha;
Que Manuel Fernandes socorra Tiuí a encontrar o caminho das redes;
Que Yazalde encarne esta noite em Vukcevic;
E que se ouçam violinos esta noite em Alvalade.
Força, Sporting! Vence por nós!