quarta-feira, 2 de abril de 2008

Varsóvia, a Terrível

bandeira da Cidade de Varsóvia

Muito se passa no mundo no dia 1 de Abril. Desde o clássico Dia das Mentiras, de cujas práticas sou adepto (uma vez até pus a minha mãe a chorar de tão convincente mentira), até ao 98º aniversário do mais antigo clube algarvio: o meu Sporting Clube Farense.

O Primeiro de Abril na Polónia não tem muita tradição, talvez pelo facto dos polacos não serem um povo descontraído e dado a travessuras. Eu espalhei uma peta nos meus meandros e quando a revelei fui presenteado com a indiferença própria de quem não liga a estas patetices. Foi o suficiente para iniciar uma reflexão sobre a minha postura e futuro nestas terras.

A língua é complicada, o clima é desagradável, a cidade é feia, as pessoas difíceis, as infraestruturas deficientes, o trabalho exigente, o horário é tirânico, a localização é longínqua e mais situações poderia enumerar. Todas são ponderadas em cada dia que começo, madrugada em Faro, bem como no final do dia de trabalho quando muitos portugueses já se sentam à mesa para o jantar. Avalio o peso da mudança de hábitos e a ausência de gestos familiares, procurando encontrar motivos para permanecer numa terra esquecida pelo civismo e simpatia. O travesseiro sossega um espírito em permanente viagem entre Faro e Varsóvia, perdido entre a peitada de Verão na Praia de Faro e as festas de fim de curso na Polónia. A Razão despacha palpites sobre as perspectivas de dias iguais ou de desafios permanentes. O espelho tenta explicar-me os motivos pelos quais emigrei e conta-me estórias de planos ambiciosos guardados numa gaveta algarvia que nunca viram outro sol que não o polaco. Deito um olhar pela janela e tenho edifícios em obras em vez de areia e mar. Não é fácil viver balançando entre dois mundos tão diferentes.

Curiosamente, o que me desagrada em Varsóvia é precisamente o que me fascina. Toda esta envolvência lúgubre é interessante e constitui um desafio impossível de recusar, as provações que a cidade me oferece diariamente dão-me força para triunfar e as dificuldades são obstáculos criados para fazer-me mais capaz. Varsóvia é uma cidade muito competitiva onde todos os segundos contam e todos os centímetros são preciosos. Vindo eu duma cidadezinha pacata, solarenga e gostosa como é Faro, a idéia de triunfar nestas paragens é assustadora e difícil de ter como possível. Mas a minha avó dizia que eu sou muito torto - teimoso em algarvio - e ela tem toda a razão: Quando encorno com uma idéia, mesmo que me mostrem todas as suas desvantagens eu sigo o meu instinto até ao fim. É isso mesmo que farei neste país e, pior, nesta cidade.

Varsóvia não há de ser mais torta que eu, ainda tem de comer muito pão!

3 comentários:

Anónimo disse...

Não querendo beliscar a tua "tortice" apenas informo que derivado do bom tempo que se faz sentir para estas bandas, a abertura oficial da temporada da peitada irá começar em principio já neste mês de Abril....

Abraço
Ruben

Anónimo disse...

Como te compreendo .... ja agora
www.sportingpoland.com .... o sporting é mm mt grande :)

Merx

Anónimo disse...

sei como voce se sente, morei 1 ano em Varsóvia e não aguentei, é uma cidade muito grande, as pessoas estão sempre correndo, skyscrapers pra tudo que lado, onde dinheiro é tudo...e outra coisa que odeio: tudo está em construção ou reforma!

alias os próprios varsovianos tem uma má fama por toda a polonia


.eu me mudei de Varsóvia no dia em que acordei no meio da manhã com um som infernal, fui ver, e estavam começando a reformar a rua do meu prédio

pra quem gosta tudo bem, mas pra mim não, por isso me mudei para Cracóvia, onde passei os melhores anos da minha vida