Vai um português à Embaixada do seu país e sente um pequeno abalo ao ver o pano verde e vermelho a pairar no céu, um cantinho mais familiar que se ergue no meio de tanta coisa diferente - e que local mais diferente de Portugal que Praga Południe! - e que conforta um pouco o espírito, parece que afinal não estamos tão longe do berço. Coisas que um emigrante tem de tratar para estar absolutamente sob as regras do país adotivo, nada de extraordinário, papéis timbrados, apenas formalidades que se tornaram fáceis através da eficiência da Edyta, uma funcionária que conjuga a capacidade de trabalho dos polacos com a simplicidade de processos dos portugueses.
Tem piada o edifício onde funciona a nossa representação diplomática ficar na ul. Francuska (Rua Francesa) apesar da ul. Lizbońska ficar a dois quarteirões de distância mas assim são as coisas, cheguei com algum tempo de antecedência ao ponto de encontro com o Carlos, inesperado contemporâneo de Liceu com quem me cruzei em Varsóvia, e procurei um cafezinho onde pudesse tomar o pequeno-almoço com vagar. Para quem não está acostumado com cidades eslavas, o conceito de “um cafezinho onde pudesse tomar o pequeno-almoço” é um tanto ou quanto diferente por estas paragens porque os ditos “cafezinhos” não têm vitrines refrigeradas para mil-folhas ou pastéis de nata nem sumos da Santal ou néctares de manga da Compal (passe a publicidade gratuita), não têm um cesto de croissants com ovos moles e amêndoas, não têm Ucal fresquinho e mesmo a ideia de sandes é totalmente diferente de duas fatias de pão caseiro recheadas de manteiga, queijo e fiambre. Revistei os dois passeios da rua à procura da coisa mais parecida com uma pastelaria e entre restaurantes italianos, quiosques de kebabs e frutarias descobri o Café Baobab dirigido por africanos que tinha uma ementa de sabores minimamente aceitáveis sendo a minha escolha uma sanduíche de queijo de cabra, rúcula e tomates secos. Sentei-me na gelada cafetaria, o aquecimento ineficiente apenas capaz de transformar em talvez 2º os –14º que estavam na rua, um estreito negro que abala a correr porta fora com um saco na mão para regressar um minuto depois com um vulto dentro do tal saco que concluí serem os pãezinhos da minha sandes. À falta de melhor veio um latte para a mesa, uma coisa que não é café com leite nem um galão, a fome doía, o frio também, as saudades duma sandes mista até duma torrada em pão de forma, chega a sandes, o Carlos também e entra a palheta em ação para constatar a bizarria de dois algarvios falarem polaco com um africano.
Estar longe do lugar onde nascemos e crescemos tem destas coisas, contrastes singulares que às vezes nos fazem parar um pouco para refletirmos nos passos que tomamos até chegar onde estamos, onde viemos parar, no tanto que já fizemos e que parece tão pouco face àquilo que ainda há por fazer. Bom que pelo menos não estamos sozinhos na aventura e que temos sempre alguém que nos compreende quando nos apetece dizer…
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