Ainda é cedo para o meu set e amigos rebocam-me para o bar onde me entalam entre imperiais de meio litro e ancas húmidas, gargalhadas masculinas e chicotadas de madeixas douradas, noite de congas e djambés onde as colunas despejam ritmo e sensualidade por cima de corpos que disso mesmo estão sedentos. A fome e a vontade de comer, o útil e o agradável e muitos mais chavões que se podem aplicar, eu aplico uma sentada antes que me entornem a cerveja e que estrague o visual porque um artista tem de estar apresentável para o seu público. Chega a hora e pego nos fones, o sampler dá o grito: "PM Misha is in the hoooooooouz!", o povo olha e sorri, sabem o ritmo vai subir e que as salsas e merengues ficam para mais tarde porque já não é hora dos meninos estarem fora da cama. Uma versão acelerada da Shakira inicia a arruaça e os cabelos desprendem-se dos ganchos, corre tequila, chupa-se sal e chove limão, o suor já cai na mesa de mistura, a toalha limpa os fones, as calças são puxadas por trás por amigos e amigas que chegam e querem beber com o DJ deles, a pausa é necessária depois de duas horas a bombar, é tempo de socializar mais um bocadinho.
O John chega, meu irmão de Varsóvia, uma viagem ao bar de novo. Aparece a Gosia numa bebedeira campeã, 23 aninhos de olho celestial, marota como ela só naquele vestido justo onde se vislumbra o relevo da fisga e nos dentes saídos que pedem beijos, apoia-se no meu ombro para amparar a torcida e mastiga três ou quatro palavras em polaco das quais percebo "shot" e "doce". Malibu com groselha!, peço eu porque não há nada melhor do que beber na companhia de gajas boas, o John extrai uma pelega de 100 para pagar a despesa, mais imperiais para o caminho e o Alex que chama para a tequila das 3:30. O Gabriel e o Gonçalo, colegas de secretária e de boémia, disputam a mesma loura como se fossem dois lenhadores num frondoso bosque a quererem cortar a mesma árvore. A Maria - nossa, que linda que ela está agora morena! – tropeça em mim amarra-se num abraço fundo e justificado, há mais de um ano que não a via, esquece-se dos pudores e agrafa-me um beijo nos lábios. Fujo de medo – estás muito gira, tchaaau! – antes que os corvos ladrassem o caso e volto para a cabina onde o Alex, formidável maestro da tequila, brinda a malta com cuícas e pandeiros de sambas e bachatas. De novo eu nos pratos com os Queen na coreografia, pego num microfone e simulo o Freddy no solo, desaparece o Alex nos escuros da discoteca - curioso, a morena que dançava à nossa frente também -, o Paweł ri e manda cerveja, sobro eu e umas centenas de almas, a Edyta e a Kinga desafiam-me para mais copos mas gentilmente recuso porque depois de umas quantas a bordo o PA começa a pregar-me partidas. O microfone foi tomado pela multidão, já se vêm camisas tiradas e simulações ousadas e transpiradas nas barbas do DJ, o Alex evaporou-se por trás das cortinas do reservado da boîte no meio de ais, o Paweł não consegue apagar o sorriso, deve dormir com ele posto mais duas noites, sobro eu e umas centenas de almas numa noite de ritmos lavados em álcool, teimosas em não arredar pé daquele chão de noite vadia. Engraçado como ao fim de apenas três anos já tanto me parece familiar.
5 da matina quando o pessoal desmobiliza, eu ensopado em licores e com os ouvidos entupidos de batidas. Ainda me animo com uma visita ao Klubo, casa de sempre, mas o corpo pede cama arrastando-se para o carro que felizmente tem piloto automático e sabe o caminho para casa de cor.
Uma semana depois e já é sexta de novo. Hummmm...
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