O quimo fazia-se a custo deitado no sofá a ver pela enésima vez o clássico de todos os natais, perfeito soporífero para uma digestão complicada até que algum adulto chegasse, perguntasse o título do filme e desse duas ou três gargalhadas de circunstância e caísse num pesado ressonar que abafava o trinar das panelas e mexericos no lava-louça. Propostas de filhozes e arroz-doce, uísque para os crescidos e mais sumo para os miúdos, injusto porque o álcool abre espaço no estômago enquanto o Sumol só o enchia ainda mais.
Um último olhar para os papéis dos embrulhos espalhados no chão, a alegria e excitação era sempre tão efémera, um punhado de horas depois todos os presentes estavam descodificados e entendidos, uns exigiam estudo posterior enquanto outros passavam rapidamente à ação. Os mais velhos espadeiravam mais aguardentes mas o sono já conquistava as crianças, hora de voltar para casa atulhado de presentes, de comida e de amor. No dia seguinte pernil, cabidela, frigideiras e crapô – o jogo preferido das mulheres da minha família, quantas horas passavam aquelas criaturas agarradas aos baralhos até tarde da noite! – e música no coração e na televisão.
Amanhã não vai haver filhozes nem brinhóis porque a minha avó já não as faz, não vai haver contos porque o meu avô já não os conta, não vai haver aguardentes porque o meu tio já não as compra. Mas vai haver amor e é por isso que eu vou sair de Varsóvia amanhã às 6:00 para passar o Natal a Faro.
Amigo leitor, apesar de ser ateu quero que tenha um Natal com o amor que semeou e um Ano Novo à medida do que fez neste ano. Creio que não terá porque ficar melindrado com estes votos.
3 comentários:
Obrigado. Com ou sem crendice desejo-te um Feliz Natal sem couve podre, peixe em gelatina e carpa. :))
ab e boa viagem.
Bom Natal para ti la na terra. Espero que para o an tenha essa sorte de ir a terra porque ai sim... e o nosso natal a serio. Aqui tambem... mas e diferente.
bom natal, amigos!
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