Este período do ano é fértil em baldas escolares porque os alunos não têm cabeça para o estudo (ou até SÓ têm cabeça para o estudo se estiverem em época de exames) e preferem extravasar as hormonas em vez de aturar gramática portuguesa. Eu já sei mais ou menos do que a casa gasta e por esta altura vou pensando em soluções imaginativas para motivar os alunos a comparecer nas aulas, a última das quais foi fazer uma aula pimba - Portugal Pimba, estudo e comentário.
As aulas constituiram basicamente em visualização de clipes de grandes nomes da piroseira musical portuguesa, análise e tradução das letras e compreensão do fenómeno pimba em Portugal. Dividimos a música pimba em 4 géneros: Pimba Foleiro, Pimba Romântico, Clássico e Ordinário. Exibimos monstros pimba como a Ágata, ícone da cornaria e das sopeiras ensarilhadas; Emanuel, precursor deste descalabro musical mas que goza do meu respeito por ter afirmado publicamente que não gosta de pimba embora produza temas do género e que só o faz porque dá dinheiro; Quim Barreiros, mestre dos eufemismos e metáforas carregadas de segundos sentidos cuja análise é subjetiva a interpretações pessoais; Luís Filipe Reis, apenas indescritível.
Emanuel teve honras de abertura das hostilidades pelo estatuto que ostenta. O "Rei do Pimba" abriu sorrisos nos polacos supreendidos pela alegria dos acordes e divertidos pelas escolha de indumentária do cantor. Ficaram entretidos com a letra, criámos o verbo "Pimbowac" para definir o refrão e os alunos ganharam a perfeita noção do que é o Pimba Clássico ao ver os bailaricos, os rapazes marotos a tentarem conquistar as raparigas, as caricaturas exageradas do que há de mais piroso no povo português.
A "Perfume" da Ágata amoleceu os corações das mais puritanas e cheguei a ouvir comentários como "este gajo é um canalha!". O Pimba Romântico com o estereótipo da mulher-canhão traída pelo marido pintas-de-bigode-cabelo-para-trás-camisa-de-flores-aberta-para-que-se-veja-o-fio-de-ouro-no-peito-peludo fez rir os homens e indignar as mulheres e a imagem da Miss Piggy da canção portuguesa vestida de lingerie vermelha e de garras madrepérola, rebolando as suas inconsoláveis banhas na cama fez rebentar uma sala em gargalhadas dando cabo da pouca seriedade com que o tema estava a ser tratado. Eles nem sabem que poderia ser pior, lembrasse-me eu de mostrar a Vaca Malhada q:D
A seguir veio a explicação do Pimba Foleiro, provavelmente o mais popular no nosso país. Para ilustrar o ranso elegemos Luís Filipe Reis que nos brindou com uma ótima prestação ao seu "Telefone". Nem o Paixão quando jogava na 1ª div. pelo Farense tinha uma gadelha daquelas, nem o Ti Chico que vende barquilheiros na Praia de Faro veste aquelas calças, nem o pseudo-intlectual Miguel Sousa Tavares se põe com aquelas poses de pseudo-poeta. Foi uma experiência medonha termos estado expostos à radiação da sua voz de catatua rouca e à sua roupa estilo poluição visual mas foi um mal necessário para que se percebesse a importância de certos sub-produtos pimba como o carro desportivo de matrícula francesa ou o piano vertical na sala para enganar as visitas. Olhos e ouvidos arregalados de horror, dedos em riste acusando o mau gosto, o rir para não ter de chorar de tristeza. Feio é de menos.
A "Garagem" de Quim Barreiros exemplificou o espírito irreverente das Semanas Académicas e aliviou o ambiente. Esclarecidas as alegorias, a turma cantou em uníssono o refrão velhaco e comparou o género musical com o Disco Polo que se ouve neste país. De certa forma até são parecidos na parolice, nos trejeitos, nos acordes e nos indumento. Também são parecidos no estatuto que exibem na sociedade, sinónimos de mau gosto e pouca formação. A maior diferença está em que o Disco Polo praticamente não tem tempo de antena da TV polaca ao passo que o pimba campeia nas estações portuguesas.
Infelizmente não me refiro apenas á música. Ao ver as notícias nos telejornais (BPN, professora de Espinho, Freeport, etc.) penso que estamos mesmo a tornar-nos um povo pimba num país pimba com governantes pimba de políticas pimba, com muita pena minha. Ao menos aqui as miúdas são mais giras!
6 comentários:
Cada vez que me quero referir ao Pimba de Portugal, digo disco portu... eles assim chegam logo lá.
A minha mulher diz, no entanto, que o disco polo, embora tenha a qualidade tão ou mais baixa que o nosso pimba, não tem letras brejeiras ou porno como as nossas :D Acho, no entanto, que a qualidade do POP deles é um bocado pimba de tão mau que é. Há muito boa música clássica, há muito bom jazz e algumas divergências. POP é de um modo geral incrivelmente mau, más cópias de mau pop americano. E não me refiro só ao gajo de cabelo verde ou à mandarina ou lá como se chama... é mau mesmo... TUDO.
Caro Misha,
Gostei da estratégia: primeiro mostras a pimbalhada para quando mostrares a verdadeira música popular portuguesa eles perceberem a diferença! Genial!!
Se quiseres mostrá-la ao vivo e a cores, é só arranjares passagem, dormida e comida que eu mesmo vou aí tocar uns Faustos, Zecas e Godinhos.
Ah, e se te estiveres a perguntar: quem é este apanhado que entrou por aqui a dentro (salvo seja!), pergunta à Rita... ;)
Abraço!
rogério,
só te digo uma coisa: não te esqueças do que aqui escreveste!
"(...) é só arranjares passagem, dormida e comida que eu mesmo vou aí tocar (...)"
diz à rita para marcar janta lá para agosto (em faro ou em lx), a gente logo conversa pessoalmente.
abraço e obrigado pela visita q:D
Misha,
Até pode ser nos dois sítios: em Faro (no Farol) e em S.Pedro de Sintra (na Taverna dos Trovadores). Assim fazemos como nas competições europeias, "jogamos" em casa e fora. Depois então vamos às "competições" europeias... ;)
Fico à espera.
Abraço,
RC
Bom tá visto que jantar é convosco! :)
Que tenham apetite, porque é certo que conversa não irá faltar.
Vou já tratar do meeting.
Kisses
mana,
isso é que é falar, tava a ver que não te chibavas! q;)
Enviar um comentário