sábado, 23 de maio de 2009

Polónia Pimba

Os primeiros calores do ano transformam a mentalidade dos polacos, ficam muito mais bem-dispostos e procuram as distrações que lhes são disponibilizadas um pouco por toda a parte, seja a Noite dos Museus quando poder visitar gratuitamente as ricas exposições que os museus varsovianos têm patentes beneficiando de transportes igualmente grátis, seja a Juwenalia que é uma espécie de Semana Académica com concertos musicais em diversos pontos de Varsóvia, seja até mesmo gozando os bocados de estio que vão caíndo nos jardins ou nas margens do Wisła. As esplanadas já estão montadas e recebem clientes sedentos de sol, cerveja ou café. Apetece estar na rua, passear, desfrutar do calor e celebrar o pleno da primavera. Apetece tudo menos ir à escola, estudar ou aprender línguas.

Este período do ano é fértil em baldas escolares porque os alunos não têm cabeça para o estudo (ou até SÓ têm cabeça para o estudo se estiverem em época de exames) e preferem extravasar as hormonas em vez de aturar gramática portuguesa. Eu já sei mais ou menos do que a casa gasta e por esta altura vou pensando em soluções imaginativas para motivar os alunos a comparecer nas aulas, a última das quais foi fazer uma aula pimba - Portugal Pimba, estudo e comentário.

As aulas constituiram basicamente em visualização de clipes de grandes nomes da piroseira musical portuguesa, análise e tradução das letras e compreensão do fenómeno pimba em Portugal. Dividimos a música pimba em 4 géneros: Pimba Foleiro, Pimba Romântico, Clássico e Ordinário. Exibimos monstros pimba como a Ágata, ícone da cornaria e das sopeiras ensarilhadas; Emanuel, precursor deste descalabro musical mas que goza do meu respeito por ter afirmado publicamente que não gosta de pimba embora produza temas do género e que só o faz porque dá dinheiro; Quim Barreiros, mestre dos eufemismos e metáforas carregadas de segundos sentidos cuja análise é subjetiva a interpretações pessoais; Luís Filipe Reis, apenas indescritível.

Emanuel teve honras de abertura das hostilidades pelo estatuto que ostenta. O "Rei do Pimba" abriu sorrisos nos polacos supreendidos pela alegria dos acordes e divertidos pelas escolha de indumentária do cantor. Ficaram entretidos com a letra, criámos o verbo "Pimbowac" para definir o refrão e os alunos ganharam a perfeita noção do que é o Pimba Clássico ao ver os bailaricos, os rapazes marotos a tentarem conquistar as raparigas, as caricaturas exageradas do que há de mais piroso no povo português.

A "Perfume" da Ágata amoleceu os corações das mais puritanas e cheguei a ouvir comentários como "este gajo é um canalha!". O Pimba Romântico com o estereótipo da mulher-canhão traída pelo marido pintas-de-bigode-cabelo-para-trás-camisa-de-flores-aberta-para-que-se-veja-o-fio-de-ouro-no-peito-peludo fez rir os homens e indignar as mulheres e a imagem da Miss Piggy da canção portuguesa vestida de lingerie vermelha e de garras madrepérola, rebolando as suas inconsoláveis banhas na cama fez rebentar uma sala em gargalhadas dando cabo da pouca seriedade com que o tema estava a ser tratado. Eles nem sabem que poderia ser pior, lembrasse-me eu de mostrar a Vaca Malhada q:D

A seguir veio a explicação do Pimba Foleiro, provavelmente o mais popular no nosso país. Para ilustrar o ranso elegemos Luís Filipe Reis que nos brindou com uma ótima prestação ao seu "Telefone". Nem o Paixão quando jogava na 1ª div. pelo Farense tinha uma gadelha daquelas, nem o Ti Chico que vende barquilheiros na Praia de Faro veste aquelas calças, nem o pseudo-intlectual Miguel Sousa Tavares se põe com aquelas poses de pseudo-poeta. Foi uma experiência medonha termos estado expostos à radiação da sua voz de catatua rouca e à sua roupa estilo poluição visual mas foi um mal necessário para que se percebesse a importância de certos sub-produtos pimba como o carro desportivo de matrícula francesa ou o piano vertical na sala para enganar as visitas. Olhos e ouvidos arregalados de horror, dedos em riste acusando o mau gosto, o rir para não ter de chorar de tristeza. Feio é de menos.

A "Garagem" de Quim Barreiros exemplificou o espírito irreverente das Semanas Académicas e aliviou o ambiente. Esclarecidas as alegorias, a turma cantou em uníssono o refrão velhaco e comparou o género musical com o Disco Polo que se ouve neste país. De certa forma até são parecidos na parolice, nos trejeitos, nos acordes e nos indumento. Também são parecidos no estatuto que exibem na sociedade, sinónimos de mau gosto e pouca formação. A maior diferença está em que o Disco Polo praticamente não tem tempo de antena da TV polaca ao passo que o pimba campeia nas estações portuguesas.

Infelizmente não me refiro apenas á música. Ao ver as notícias nos telejornais (BPN, professora de Espinho, Freeport, etc.) penso que estamos mesmo a tornar-nos um povo pimba num país pimba com governantes pimba de políticas pimba, com muita pena minha. Ao menos aqui as miúdas são mais giras!

6 comentários:

Gonçalo Franco disse...

Cada vez que me quero referir ao Pimba de Portugal, digo disco portu... eles assim chegam logo lá.
A minha mulher diz, no entanto, que o disco polo, embora tenha a qualidade tão ou mais baixa que o nosso pimba, não tem letras brejeiras ou porno como as nossas :D Acho, no entanto, que a qualidade do POP deles é um bocado pimba de tão mau que é. Há muito boa música clássica, há muito bom jazz e algumas divergências. POP é de um modo geral incrivelmente mau, más cópias de mau pop americano. E não me refiro só ao gajo de cabelo verde ou à mandarina ou lá como se chama... é mau mesmo... TUDO.

Rogério Charraz disse...

Caro Misha,

Gostei da estratégia: primeiro mostras a pimbalhada para quando mostrares a verdadeira música popular portuguesa eles perceberem a diferença! Genial!!

Se quiseres mostrá-la ao vivo e a cores, é só arranjares passagem, dormida e comida que eu mesmo vou aí tocar uns Faustos, Zecas e Godinhos.

Ah, e se te estiveres a perguntar: quem é este apanhado que entrou por aqui a dentro (salvo seja!), pergunta à Rita... ;)

Abraço!

PM Misha disse...

rogério,
só te digo uma coisa: não te esqueças do que aqui escreveste!

"(...) é só arranjares passagem, dormida e comida que eu mesmo vou aí tocar (...)"

diz à rita para marcar janta lá para agosto (em faro ou em lx), a gente logo conversa pessoalmente.
abraço e obrigado pela visita q:D

Rogério Charraz disse...

Misha,

Até pode ser nos dois sítios: em Faro (no Farol) e em S.Pedro de Sintra (na Taverna dos Trovadores). Assim fazemos como nas competições europeias, "jogamos" em casa e fora. Depois então vamos às "competições" europeias... ;)

Fico à espera.

Abraço,

RC

Rita disse...

Bom tá visto que jantar é convosco! :)
Que tenham apetite, porque é certo que conversa não irá faltar.
Vou já tratar do meeting.
Kisses

PM Misha disse...

mana,
isso é que é falar, tava a ver que não te chibavas! q;)