quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Boliiiiinhas!

Hoje é "Quinta-feira Gorda", dia de empaturrarmo-nos com doces e darmos cabo da saúde. A Tłusty Czwartek marca o final do Carnaval polaco e o início da Quaresma, período em que os fiéis são convidados a um período de constrição e jejum. Assim, Quinta-feira Gorda tem um significado de despedida às festas e desbundas e o povo aproveita para partir a corda ingerindo assombrosas quantidades de Pączki e Faworki. Mas assombrosas mesmo, tipo às 3 e 4 de cada vez!

O pączek é um equivalente à Bola de Berlim* mas sem ser polvilhado de açúcar, com recheio de morango, na maioria dos casos e coberto com caramelo de laranja. É um doce bem popular aqui na Polónia e vai sempre à mesa na hora do chá. Já tem tradição desde a Idade Média, terão sido os franceses a introduzir a especialidade por cá e foi sofrendo alterações até ao estado presente. É um bolo também muito apreciado na Alemanha, Rússia, Lituânia, Ucrânia e Dinamarca, além de ser fundamental nas comunidades polacas nos EUA, Canadá e junto dos judeus polacos em Israel. Há relatos de açorianos que trabalhavam na apanha da cana-de-açúcar no Hawaii (vê lá se os sacanas não foram espertos!) e levaram a tradição da malassada que, entretanto, derivou para o que se conhece. O Faworek parece uma fartura de massa muito tenrinha que desfaz-se na boca e foi o meu pequeno-almoço hoje. Não achei muita piada àquilo apesar de me terem enfiado uma punhada de bolos desses pela goela abaixo.

Eu ultrapassei a minha cota de açúcar diário. À hora do almoço já tinha quase meio quilo de faworki na pança e tratei da saúde a 3 pączki durante a tarde. Escusado será dizer que não posso ver sequer um pacote de sumo à frente.
Bof... viver neste país é cansativo.



* As "Bolas de Berlim" devem a sua designação ao seu nome em Alemão. Precisamente... Berliner :)

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Koniec

Os trintões, como eu, lembram-se bem do suplício que era conseguir ver um desenho animado no início da década de 80. A cor tinha chegado à televisão há poucos meses, a RTP2 era uma novidade no Algarve (finalmente tinham aperfeiçoado os retransmissores da Fóia e S. Miguel) e o programa "Animação" era sempre um evento imperdível, mesmo que tivéssemos que levar com as intermináveis explicações do camarada Vasco Granja, ele que surge aqui no último programa de jeito que o Herman fez.

Quem não se recorda dos filmes que tinham vencido festivais de animação em Zagreb e Bucareste? Riscos e sarrazinas que não divertiam nada. Bonecos disformes de falas idiotas que desesperavam a criança mais paciente mas que tinham sido laureados na última Mostra de Animação Experimental de Budapeste. Antes de sorver o Tom & Jerry, Pantera Cor-de-rosa, Bugs Bunny ou um esporádico Mickey Mouse tínhamos de aturar um pacote de filmes checoslobúlgaros sem ponta por onde se lhe pegásse. Mas não havia Youtube nem eMule na altura e a malta gramava a pastilha sem bufar.

Havia, no entanto, um ursinho de Leste que eu até curtia. Uma voz muito simpática numa linguagem amistosa, bonecos alegres e coloridos, enredos interessantes e com moral. O ursinho era tão fixe que sempre que passava o genérico da despedida eu ficava triste, também porque o senhor que cantava o tema desse genérico fazia-o numa voz tão terna que deixava-me desgostoso. Não, não era o Misha. Era o Miś Uszatek (Urso Orelhinha).

Ontem estava a zappar pelos canais polacos e aparece-me o Uszatek à frente. Fiquei grudado na tv a recordar a meninice, chocado com o facto de perceber grande parte do diálogo entre as personagens. Monólogo, aliás, porque é o "tal" senhor que faz a voz de todos os bonecos. Aqueles 6 / 7 minutos que durou o episódio foram passados em frente a uma televisão ainda a preto e branco, a comer Nestum depois dum dia de escola no Externato Farense. Teria 8 anos, o meu irmão chorava à espera da mama da mãe, os Jeovás cantavam enquanto eu jogava futebol na Escola do Carmo ao Domingo, o meu tio trazia lebres da caça em Espanha, a família em peso cumpria a saga do bacalhau em Ayamonte (hora e meia na 4L do meu avô pela 125). Tudo era uma festa, os tempos em que eu era feliz e não sabia.

Veio o genérico final do desenho animado e eu escondo as minhas lágrimas da Iza. Que vergonha, um homem barbudo (o frio polaco a isso obriga) a chorar por causa de bonecos! Mas a distância no tempo e no espaço deixa-nos mais sensíveis a certas impressões, rever o Uszatek a 3000 km e 30 anos de distância deitou-me abaixo. Deixa lá ver se as lágrimas não me lixam o teclado.


PS - Para quem quiser ser acometido dum severo ataque de melancolia, apenas para os nascidos na inigualável década de 70, sirvam-se do seguinte:

O Lápis Mágico (dividido em duas partes) - polaco
No País Dos Rodinhas (chaladinhaaaaa!!!) - inglês
Professor Baltazar - jugoslavo / croata
Fábulas da Floresta Verde - israelita, digo eu...
Tom Sawyer - japonês?

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Simon Vukcevic

O embargo ao Sporting cá em casa caiu ontem porque não resisti ao apelo do Leão. Nestas alturas sente-se um chamamento irresistível e não consegui ficar alheio. O Sporting precisava de mim e mesmo longe, mesmo pressentindo uma tareia descomunal não poderia faltar!

Tinha um palpite que o Polsat Sport daria o clássico na TV porque eles dão sempre um joguinho da liga portuguesa por fim-de-semana. Tendo em conta que o Sporting-Porto é um partidazo em qualquer circunstância, havia todos os motivos para os polacos transmitirem a partida. Realmente, 1 min antes do kick-off lá estava o Miguel Vaidoso abraçando o Cigano Quaresma avisando-o de que naquela noite seria ele o enganado.

Papei o joguinho à verdadeiro tuga. Espojado no sofá, de boxers e lata de cerveja na mão, mil pontapés nos puffs e a Iza a ameaçar o divórcio sempre que os bimbos se aproximavam do (grande!) valente Patrício; Esgotei as velas depois da frangalhada do Helton e do controverso golo russo (é fora-de-jogo, sim, mas ficam umas pelas outras. Charinguem-se!) com as sucessivas benesses do Lucho e do Licha; Esfreguei os olhos vezes sem conta para tentar perceber quem era o senhor lateral direito que estava a jogar de verde e branco; Orei uma ou duas rezas ao omnipotente Polga, que veio do céu tirar uma bolinha com a barriga de cima da linha de golo; Regalei-me com a combatividade e personalidade do imperador Marat, o caçador de dragões (grandes frutas que ele arreou no cigano, hahaha!); Sosseguei-me com a segurança do Tonel e até esperancei-me num eventual pastilho dum inesperado Ronny; Sorri com satisfação ante a regressada classe do Miguel Veloso; Aplaudi a eterna disponibilidade do Levezinho em fazer carrinhos no meio-campo; Contei com a habitual categoria e durabilidade do pequeno-grande Moutinho e emocionei-me com um novo ídolo: Simon Vukcevic!

A imagem dele correndo e lançando-se para o Directivo vale mais que muitas conferências de imprensa. As suas pujança e entrega em campo não tem tradução em "passivo" e "project-finance". É de jogadores destes que a mística do Leão consiste, é nesta raça que os sportinguistas se identificam, é neste querer que nós nos revemos.

Só por ter varejado a vedação e ter comemorado o seu golo junto dos adeptos - afinal, aqueles que consistem realmente o clube que é o Sporting e quem paga o salário de toda a corte de dirigentes - Simon merece um lugar de destaque do Sporting dos últimos anos. A empatia criou-se naquele momento mágico e aguardo o estandarte do nº 10 leonino nas curvas de Alvalade nos próximos jogos.

Sim, estamos a 11 pontos. Cagando para isso, ganhámos de novo uma equipa. E o Sporting ganhou um novo ídolo.



PS - Não me esqueci do Romagnoli, simplesmente não recordei nada que fosse digno de realce.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Mata que é bicho!

Vocês não fazem idéia do esforço que fiz para não descascar-me a rir no elétrico depois de ter visto esta senhora com "isto" na cabeça.

















O Nito que jogou no Belenenses ainda consegue ser mais bonito que este chapéu. q:D

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Goodfellas

O Widzew Łódż é um dos clubes mais laureados do futebol polaco tenho ganho o campeonato nacional por 4 ocasiões e a Taça da Polónia entre 1985 e 1997. O Zagłębie Lubin é o campeão em título tendo no seu palmarés outra liga conquistada em 1991. Acabam de ser despromovidos à 2ª divisão por envolvimento em corrupção desportiva, nomeadamente aliciamento de árbitros para favorecimento nos jogos. Traduzindo em futebolês, vão descer à 2ª divisão qualquer que seja a sua classificação final sendo que, se terminarem em lugares de descida, poderão ser despromovidos ao 3º escalão do futebol polaco.

Já o Sosnowiec conheceu a mesma sentença ao fim das primeiras jornadas do campeonato, além de serem-lhes deduzidos 4 pontos; o Arka Gdynia foi punido da mesma forma na temporada passada e começou a 2ª liga com 5 pontos negativos; o Podbeskidzie (onde joga aquele guarda-redes de Merda) iniciou a 2ª liga com 6 pontos negativos; o Odra Opole foi penalizado em 10 pontos na 2ª divisão. Estas são consequências dum processo que iniciou-se em Novembro de 2007.

Em apenas 3 meses o Calciocaos foi resolvido com penas de despromoção à Juventus, "apenas" o clube mais popular de Itália. Fiorentina e Lázio, cada um destes com subtracção de pontos. A Vecchia Signora perdeu os títulos conquistados em 2005 e 2006, contudo o todo-poderoso AC Milan não ficou a rir-se da sorte bianconera pois foi punido com 15 pontos negativos além de levar um corte de 44 pontos nas contas do campeonato transacto. Nesse ano a Itália foi campeã do mundo, na Alemanha.

Por cá? O processo "Apito Dourado" vai bem, obrigado.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Belfast, Belfast!

O Mundo está mais pequeno e cada vez mais tornado numa aldeia global. Nunca o conceito fez tanto sentido como nos tempos correntes, como no dia de ontem em que tomei o pequeno-almoço na Praia de Faro, almocei na Baixa de Belfast e jantei no meu apartamento em Varsóvia. Pelo caminho encontrei o Tiosh, colega dos "Água na Boca", que ia em trânsito para Londres. As distâncias são relativas, já não se medem em quilómetros mas em horas ou euros. Portugal já não está a 3500 km da Polónia mas a 4 horas ou 200 euros, dependendo das escalas.

Viajar é um exercício de aprendizagem e cada viagem uma lição. Aparte o reencontro com a família, as monumentais cadelas e festanças com amigos que curti em Faro, esta jornada serviu para enriquecer-me enquanto cidadão do mundo que já me considero. Não há motivos para temermos o que não conhecemos, bem pelo contrário, experimentar novas paragens e aceitar a aventura faz-nos crescer e aperfeiçoa as nossas valências de versatilidade. Escrevo estas linhas porque fiquei apaixonado por Belfast nas 6 horas que passei naquela cidade.

A capital da Irlanda do Norte tem um carisma muito próprio, a conjugação de vários elementos antigos e pitorescos com a apressada modernidade do séc. XXI transporta-nos para um imaginário fantasioso. Os táxis antigos e respectivos motoristas fardados a rigor com o seu chapéu típico, falando um inglês simpático mas intraduzível ao ouvido europeu; Os ruivos e sardentos jovens estudantes de formal fato verde com brasão e gravata azul escura; As louras adolescentes colegiais de rimel e saia curta (apesar da chuva) lembrando sedutoras Lolitas britânicas a cada olhar maroto que lançam; Os tradicionais pubs onde se comem petiscos agressivos para o estômago mediterrânico (por algum motivo a Irlanda do Norte possui um dos mais altos índices de enfartes do mundo) e também se arrota taças de Guinness com ligeireza logo depois de registar-se a religiosa aposta nas corridas de cavalos ou jogo de futebol na agência, paredes-meias com um qualquer "O'Shaugnessy's"; A arquitectura vitoriana da Donegall Place que coloca as grandes lojas multinacionais na "Main Street, USA" da minha aventura pela EuroDisney em 1993 (emigrei cedo, é verdade!); Os estaleiros de construção naval habitados por duros estivadores e trabalhadores metalo-mecânicos que martelam o ferro e descarregam contentores indiferentes à invernia; As lojas do Celtic e Rangers, por quem muitos corações irlandeses batem, apenas distantes 100m uma da outra e que são consequência da diáspora escocesa do séc. XVII; Os murais, testemunho dos "problemas" ideológicos que tingiram o país de sangue desde 1966 até ao Acordo de Belfast de 1998; A roda gigante ao estilo londrino que proporciona uma panorâmica fantástica da cidade, da baía e campos circundantes.

E não é que dei comigo a beberricar uma Guinness pensando com os meus botões: "Hmmmm... será que também conseguiria triunfar aqui?"

Agora é que me dá o espírito de emigrante, depois de velho...

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Home sweet home - III

Amanhã, por esta hora, já devo estar a dormir a sono solto em Varsóvia, prestes a recomeçar a rotina de acordar de madrugada e educar a Polónia.
6 dias souberam a pouco mas foram o suficiente para poder abraçar (quase) toda a gente amiga e receber deles o calor que necessito consumir nos próximos meses. Levo daqui uma carga de amor e afecto bem preciosas que procurarei partilhar com todos os que lidarem comigo proximamente.
Destaco um momento, se calhar o factor decisivo da minha viagem: Mariana Alves Barão nasceu dia 20-1-2008. Foi um prazer testemunhar a alegria do Baranito e da Lena ao receberem a sua filha, passar estes dias em festa com eles e poder segurar a minha "sobrinha" nas seus primeiras horas de vida. Há momentos irrepetíveis, este foi um deles e tive o orgulho de vivê-los com os meus amigos.

Agora? Toca a bulir que as férias já foram nas horas.
Obrigado, maltinha. Eu logo apareço outra vez q;)

sábado, 19 de janeiro de 2008

Home sweet home - II

Sabe bem jantar secretos de porco preto e frango assado com batata frita, sair com os amigos e chegar a casa às 7:00 da manhã com o sol a raiar. Oh, se sabe!

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Home sweet home

É indiscritível a alegria que invadiu-me ao aterrar em Faro, como indescritível é voltar a ter a luz do sol às 17:00 e voltar a beber uma mini Super Bock.

Sabe bem estar em casa. Oh, se sabe!

sábado, 12 de janeiro de 2008

Sapateiros e rabecões

A recente entrevista de José Bettencourt sobre o delicado momento do Sporting é uma demonstração de verdadeiro sportinguismo e um exemplo de como se deve manusear com lucidez a crise que o clube leonino atravessa: Através da mobilização e solidariedade em vez de atiçar a multidão sedenta de sangue. Bettencourt fala de futebol utilizando a linguagem do futebol.

Tenho pena dos meus amigos que sofrem com o seu maldito clube. Penso que toda a devoção demonstrada ao longo dos anos não merece os sucessivos dissabores que temos sofrido de forma constante. Somos reconhecidamente a massa associativa mais fiel e dedicada do país, passámos os 18 anos - desde 82 a 2000 - de seca ao lado do nosso clube, nunca rasgámos cartões de sócio, apoiámos a equipa à chuva e ao frio (os 3-6, por exemplo), porque somos tão maltratados pelos resultados desportivos? A resposta é difícil de ser dada mas, na minha óptica, penso que está na própria genética do Sporting. Ser um clube da elite.

Esta característica faz com que gravitem em torno do clube uma série de figuras de grande capacidade retórica mas de pouca familiaridade com a bola e é exactamente isso que está a acontecer hoje em dia no Sporting. Há demasiados doutores da palavra e poucas ratazanas de balneário. Há muita polidez no discurso e pouca lama nas chuteiras. Há demasiada elevação nas discussões e poucas caralhadas nas horas das derrotas. Há muito patuá vazio mas pouco trabalho na sombra.

Não negando o seu evidente sportinguismo, é óbvio que os últimos presidentes (Dias da Cunha e Soares Franco) são tudo menos homens do futebol e a sua escassa sensibilidade para a bola tem tido reflexos no plano desportivo. Gestores de mérito? Sim, claro. Craques da finança? Admito. Credíveis e sérios? Absolutamente. Acredito que tenham feito o melhor que sabiam em prol do clube no sentido de dotá-lo de melhores estruturas e fazê-lo mais ganhador mas convenhamos. Eu se fosse agora para o Sporting comeria a relva e morreria em campo pela equipa... mas seria um jogador muito ruinzinho.

O Sporting combateu com armas desiguais a guerra dos novos estádios para o Euro2004. Fez tudo "by the book", endividou-se, cumpriu, negociou, acatou, foi mais uma vez exemplar nos seus procedimentos. O novo José Alvalade encheu os leões de orgulho a tempo e horas, sem grandes ondas e alaridos mas teve o seu custo. Numa visita da UEFA aquando das obras dos novos estádios, Luis Filipe Vieira franzia o sobrolho e avisava os responsáveis da organização que "se calhar não haveria novo Estádio da Luz pronto para o Euro". Aqui d'El Rei, que o Euro sem a Luz não é nada, toca de desbloquear as burocracias, rapinar uns metros quadrados daqui e pô-los ali para ver se isto anda para a frente. Resultado: Um estádio maior, mais caro mas que custou menos dinheiro aos encarnados que o nosso custou ao Sporting.

O Sporting sempre partiu em desvantagem orçamental na corrida pelo campeonato com os seus 2 habituais rivais. A Academia tem os seus custos e ainda hoje temos de vender um Nani qualquer por ano para equilibrar as finanças enquanto Porto investe forte com os dividendos que são conhecidos, ganhando 6 em 7 anos. O Benfica ganhou o "campeonato do peixe frito"* graças à astúcia da Raposa Velha que conseguiu ganhar com uma equipa horrível (Karadas, Zahovic...) e também graças a um homem do futebol, José Veiga.

E diz o leitor: "Ganhaste com o José Roquette, ele percebia alguma coisa de futebol?" Claro que não. Nunca afirmou que sabia de futebol nem quis sequer perceber ou aprender. O papel do Dr. Roquette foi encarrilar as contas do clube e criar as bases para "ganhar 3 títulos em 5 anos". Ganhou 2 com a ajuda de verdadeiros sabedores da matéria. Recordo os dois últimos títulos e as pessoas que estiveram-lhes associadas: Luís Duque, Ribeiro Telles, José Bettencourt, José Manuel Torcato, Manolo Vidal. Homens do futebol.
Homens do futebol, porra! Não eram doutores de pacotilha nem subservientes das alianças ou "manifestos" vergonhosos com os nossos eternos rivais. O Sporting tem de valer-se por si próprio, afirmar-se como grande e ganhador na prática e não apenas nas estatísticas. Isso só acontecerá quando entregarem o futebol do clube a quem perceba efectivamente de bola. Prefiro, sem dúvida nenhuma, um Sousa Cintra do "Mark Knopfler? O Plantel tá fechado!" a um tonto da Cunha que envergonhava os sportinguistas com as suas decisões. Quanto mais não vale um velho Vidal que qualquer Janela, Meireles ou Freitas? Pinto da Costa, no tempo em que tinha moral para falar em público, gracejou com o sotaque galego do antigo homem-forte do futebol leonino. Manolo Vidal respondeu como eu gostaria que os responsáveis sportinguistas respondessem: "Tenho muito orgulho no meu sotaque galego, orgulho que esse senhor não terá do seu sotaque siciliano". Curto e grosso mas com classe.

É isto a crise do Sporting. Falta de pessoas que falem "futebolês", que dêm murros na mesa para que os dossiês sejam aprovados na Câmara, que mandem calar os adversários em vez de verberarem os adeptos descontentes e com mais que razão para manifestarem a sua agonia. Falta um Oceano que grite aos ouvidos do Yannick e o Romagnoli quando eles não justificam os seus salários com empenho dentro de campo. Falta competência para que se contrate o Farnerud que é bom (Alexander) em vez do Farnerud que é mau (Pontus). Falta uma cabine blindada para que os Vladans e Meireles não sejam sequer ouvidos quando cacarejam. Falta um Rui Jorge que pense pela sua própria cabeça e que não afine pelo diapasão do discurso redondo do "vamos levantar a cabeça e trabalhar". Falta coragem para gastar bem no mercado de Inverno. Falta um Sá Pinto que beije o Leão em plena vitória na Luz (o que eu chorei ao ver isso na TV). Falta uma política de verdadeiro investimento na equipa de futebol que á a mola real de todo o universo sportinguista. Se a equipa de futebol não ganhar os adeptos não vão ao estádio, não há receitas, não há dinheiro, não há êxito, não há SAD, não há clube, não há nada. Quem é que vai gastar dinheiro para ver Pereirinhas e Hads?

Ainda hoje vi que a SAD procura um avançado a custo zero para Janeiro. Mas será que ainda não compreenderam que Motas, Kokes, Nalitzis e quejandos são sempre maus investimentos? Serão assim tão burros que não aprendem com os erros? Não seria melhor resgatar o Saleiro ou o Varela? No único ano em que contratámos jogadores com qualidade insuspeita no Inverno foi em 2000 com André Cruz, Mpenza e César Prates. Gastámos dinheiro mas fomos campeões, não compensará? É que pode chegar o dia em que eu me canse de ser encavado.
* O "campeonato do peixe frito" é a minha designação para o fio de jogo que o Benfica apresentou durante esse ano. Trapattoni percebeu que não poderia oferecer manjares aos adeptos e pôs no menu da Luz peixe frito com arroz de tomate, jogo sim jogo sim. Os benfiquistas nunca passaram fome enquanto em Alvalade Peseiro servia filé-mignon num jogo e pão com banha no jogo seguinte.
EDIT - Vi agora que o Benfica empatou na Luz com o Leixões. Entretanto, o Porto deu 4 batatas ao Braga e mandou passar o campo. Como não levantei o embargo aos jogos do Sporting não assistirei ao jogo de amanhã. Declarem já o FC Porto campeão e comecem outro campeonato, perder tempo para quê?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Lembrando a H2O

Já se passaram imensos anos desde as minhas romarias à H2O onde fartava a minha sede de som com as inundações de belas batidas seleccionadas pelo grande DJ João Paulo. Numa dessas noites, umas das em que invariavelmente eu e os Nojentos fechávamos a discoteca, o João Paulo acabou com a nossa raça metendo um set que ainda lembro de cor. Recordo que o Basic desmaiou num sofá de tanto dançar, o Ranho perdeu a conta às garrafas de água que bebeu e eu também vi a vida a andar para trás. Não sei se o Bandeira estaria presente, ele também era moço para estas vidaças.

Ontem emocionei-me no elétrico. Dia cinzento, frio e afastado da luz e do calor de Faro. O Carlos Paião incomoda-me com a perfeição da sua "Cegonha", deixa-me melancólico e de olhos húmidos. Agora que estou em contagem decrescente para uns dias na terrinha, o tempo parece passar mais devagar e mais difíceis são os momentos que faltam até ao Algarve. Esta banda sonora dá-me cabo do canastro.

Mas o acaso faz bem as coisas. As guitarras de Paião calam o seu choro e enquanto fungo a tristeza a minha máquina escolhe Plastic Dreams do Jaydee como tema seguinte. Para mim este tema é imortal, está para a música de dança como a Carmen está para a ópera ou o Another Brick On The Wall para o rock. Arrepio-me e recordo os Nojentos aos pulos na H2O. O Basic volta a desmaiar, o Gravata volta a aparecer no meio da espuma entre as bifas, o Paka volta a aguçãr o olho do falcão, o Ranheta volta a encharcar a camisa, o Merlim volta a gromitar-se, o João Paulo volta a scratchar na H2O, eu danço no elétrico e volto a ter 20 anos.


Plastic Dreams - provavelmente o melhor tema do mundo!



PS - Comprei um pomelo. Não faço idéia de que bagagem é esta, quando abrir logo vos conto.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pedras Salgadas



Estes pedregulhos no meio da estrada não foram lá parar por acaso, são parte do programa polaco de diminuição de acidentes na estrada.

Os polacos a conduzir são autênticos kamikazes e não vou enumerar os casos de ultrapassagens pela direita e desrespeitos aos peões em passadeiras. Ao que parece, trata-se dum problema cultural pois se eu der prioridade aos peões nas passadeiras eles olham para mim muito desconfiados e barafustam para que eu avance. Assim, puseram calhaus na estrada para ver se os sacanas reduzem a velocidade. Escusado será dizer que volta e meia há com cada pazada nestas pedras que até ferve.

Outras curiosas regras rodoviárias polacas:

- Luzes permanentemente acesas, noite ou dia;

- Absoluta proibição dos peões atravessarem a estrada fora das passadeiras ou com o sinal vermelho sob pena de multa;

- Os autocarros têm sempre prioridade ao sair das paragens, não tendo que aguardar que lhe seja dada passagem mesmo que haja trânsito;

- Os trams (elétricos) têm primazia sobre qualquer outro transporte;

Sinceramente, quem aprender a conduzir em Varsóvia conseguirá conduzir em qualquer lado em quaisquer condições. Até comandar uma nave espacial!

domingo, 6 de janeiro de 2008

Retalhos da vida dum Algarvio - Parte 4

A História da Polónia é fértil em conflitos armados muito por causa da sua posição geográfica. Estar situado entre duas potências como a Alemanha e a Rússia /URSS sempre foi problemático para este país e colocou-o ciclicamente em guerra. Daí haver uma História de Guerra muito rica na Polónia devidamente documentada em muitas séries televisivas diárias ou nas produções cinematográficas que versam episódios de batalhas épicas na vida da Nação. O Polaco é patriota e orgulhoso do seu passado de resistência

Esta familiaridade com a Guerra faz dos generais polacos figuras de grande importância, pessoas veneradas e a que se presta culto quase constante. Desde a Insurreição de Novembro de 1830 até aos últimos dias do Socialismo, passando pelas Grandes Guerras e a Revolta de Janeiro de 1863, os generais da Polónia desempenharam papel valoroso na consolidação da nacionalidade e cultura polacas. Foram inúmeras as tentativas alemãs e soviéticas de diminuir ou eradicar a inteligência polaca, quer pela deportação de estudantes, intlectuais e nobres ou pelo simples extermínio da população. Sempre resistiram, os polacos, e a Polónia existe hoje como terra de grande interesse para investimento e motivo de curiosidade para milhares de turistas ávidos de conhecer o seu passado.

Genarais como Franciszek Krajowski (1ª Guerra Mundial), Jarosław Dąbrowski (Comuna de Paris) ou Władysław Anders (2ª Guerra Mundial) têm os seus monumentos em Varsóvia e provavelmente noutras cidades polacas. As principais artérias das grandes cidades na Polónia foram baptizadas com os seus nomes. Escolas têm-nos como protagonistas dos seus currículos e programas lectivos. Até o sinistro e pró-soviético Wojciech Jaruzelski tem a sua franja de simpatizantes. Mas há um General que se destaca dos demais por ter sido aquele que há mais tempo tem feito sentir a sua influência no quotidiano deste país. Antes de existir Polónia e nos dias de hoje.

Este General não tem nome de rua, não tem bustos nem monumentos, não se lhe reconhecem êxitos militares ou diplomáticos, não comandou homens e no entanto todos sabem quem é. É um General que faz suas todas as ruas, bustos e monumentos. Impiedoso e cruel, ele regula as operações militares e diplomáticas condicionando o dia-a-dia na Polónia e regula o sentimento de todos neste país.

Falo-vos do General Inverno que regressou em força durante este fim-de-semana, trazendo-nos o vento siberiano e as belas das temperaturas na ordem dos -10ºC e deixando o PKiN encoberto pelo nevoeiro:

Mas não é tão difícil de suportar como pode parecer. O Geraldo que está em Poznań dá-nos uma perfeita descrição das diferenças entre o inverno Português e o Polaco. Subscrevo e assino por baixo porque eu também já comprei ceroulas.

Tão a rir do quê? Tentem andar na rua com quase mil graus negativos e vejam se o ás de paus não fica do tamanho dum dedal. E as meninas ficam com aquele pitão de alumínio espectáculo que quase fura os olhos da malta.
Ah pois é, bebé...

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

PM Misha - O Homem Atrás Do Mito

Chamem-lhe um trailer ou o que quiserem. É apenas um esboço do que estou a planificar.

Me aguardem...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Arranjem-me o dvd (deste também)

Primeiro, a Floripes.

Agora um projecto bem catita.

É impressão minha ou foi preciso eu bazar de Portugal para começarem a fazer produções realmente interessantes?



PS - Mano Grande: "Escolha uma cadeira, coma um pudim flan..." q:D

terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Começou bem q:D

Cheguei agora mesmo a Varsóvia e vou começar a preparar as coisinhas pois o trabalho recomeça amanhã logo pelas 7:00.

A passagem de ano em Cracóvia foi memorável. Apenas o casal-maravilha entregue a si próprio, na praça do Mercado, bebendo e curtindo êxitos dos anos 90 (mais IVA) enquanto a neve caía. Foi o rir do bastante ouvir o "Mambo nº 5" seguido do "Rasputine", fez-me sentir de novo na flor da adolescência q:)
Depois do baile ainda fomos ter com a Klara e as amigas ao Pausa, onde a pouca resistência que ainda oferecia ao etanol desmoronou-se por completo. Cheio de cerveja a 7% ainda tive de trazer o bote de volta para Tychy e fazer mais 320 km de regresso a Varsóvia. Felizmente a polícia resolveu abrir alas porque com a tolerância zero que eles têm (zero mesmo!) se me pedissem pra assoprar o pífaro iria de charola deportado prá Sibéria antes que pudésse dizer "calma..."

Resultado: Tô todo cozido. Mas foi santa carraspana! Estou consultando e seleccionando as fotos da noite e não me lembro de metade delas. Marafada cerveja polaca, dá fim da moleirinha dum gajo!
Mas foi passagenzinha de ano altamente, para contrastar daquelas passadas na praia.
Qual será o dia em que vou a Cracóvia e não me divirto?