quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Belfast, Belfast!

O Mundo está mais pequeno e cada vez mais tornado numa aldeia global. Nunca o conceito fez tanto sentido como nos tempos correntes, como no dia de ontem em que tomei o pequeno-almoço na Praia de Faro, almocei na Baixa de Belfast e jantei no meu apartamento em Varsóvia. Pelo caminho encontrei o Tiosh, colega dos "Água na Boca", que ia em trânsito para Londres. As distâncias são relativas, já não se medem em quilómetros mas em horas ou euros. Portugal já não está a 3500 km da Polónia mas a 4 horas ou 200 euros, dependendo das escalas.

Viajar é um exercício de aprendizagem e cada viagem uma lição. Aparte o reencontro com a família, as monumentais cadelas e festanças com amigos que curti em Faro, esta jornada serviu para enriquecer-me enquanto cidadão do mundo que já me considero. Não há motivos para temermos o que não conhecemos, bem pelo contrário, experimentar novas paragens e aceitar a aventura faz-nos crescer e aperfeiçoa as nossas valências de versatilidade. Escrevo estas linhas porque fiquei apaixonado por Belfast nas 6 horas que passei naquela cidade.

A capital da Irlanda do Norte tem um carisma muito próprio, a conjugação de vários elementos antigos e pitorescos com a apressada modernidade do séc. XXI transporta-nos para um imaginário fantasioso. Os táxis antigos e respectivos motoristas fardados a rigor com o seu chapéu típico, falando um inglês simpático mas intraduzível ao ouvido europeu; Os ruivos e sardentos jovens estudantes de formal fato verde com brasão e gravata azul escura; As louras adolescentes colegiais de rimel e saia curta (apesar da chuva) lembrando sedutoras Lolitas britânicas a cada olhar maroto que lançam; Os tradicionais pubs onde se comem petiscos agressivos para o estômago mediterrânico (por algum motivo a Irlanda do Norte possui um dos mais altos índices de enfartes do mundo) e também se arrota taças de Guinness com ligeireza logo depois de registar-se a religiosa aposta nas corridas de cavalos ou jogo de futebol na agência, paredes-meias com um qualquer "O'Shaugnessy's"; A arquitectura vitoriana da Donegall Place que coloca as grandes lojas multinacionais na "Main Street, USA" da minha aventura pela EuroDisney em 1993 (emigrei cedo, é verdade!); Os estaleiros de construção naval habitados por duros estivadores e trabalhadores metalo-mecânicos que martelam o ferro e descarregam contentores indiferentes à invernia; As lojas do Celtic e Rangers, por quem muitos corações irlandeses batem, apenas distantes 100m uma da outra e que são consequência da diáspora escocesa do séc. XVII; Os murais, testemunho dos "problemas" ideológicos que tingiram o país de sangue desde 1966 até ao Acordo de Belfast de 1998; A roda gigante ao estilo londrino que proporciona uma panorâmica fantástica da cidade, da baía e campos circundantes.

E não é que dei comigo a beberricar uma Guinness pensando com os meus botões: "Hmmmm... será que também conseguiria triunfar aqui?"

Agora é que me dá o espírito de emigrante, depois de velho...

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