Com as primeiras neves (precoces, diria) da estação, a paisagem de Varsóvia modifica-se. O branco frio substitui o verde fresco dos jardins e cantos da cidade, não vemos mais regatos a cantar melodias àqueles que passeiam nas suas margens pois as suas águas emudeceram congeladas. Não há mais minissaias para alegrar a vista se bem que algumas polacas continuam corajosamente a exibir o pernil indiferentes à agrura do termómetro. Os óculos de sol ficam sempre em casa, tapamos o pescoço, os eléctricos e autocarros já só abrem as portas se carregarmos no botão.
Por todo o lado vê-se o frio. Nos toldos de chapa dos quisques onde os pingos gelaram e ficam suspensos no ar como uma estalactite urbana. A população parece outra, parece que as pessoas que moravam cá no Verão foram-se embora e apareceram os inverneiros no seu lugar. Os inverneiros não têm paciência, não sorriem, não são expressivos. São seres tristes e que entristecem os outros. Mas existem outros habitantes de Varsóvia que mantêm-se nos seus postos indiferentes à estação do ano: os corvos.
Varsóvia tem o corvo em monte e quando eu falo de corvos refiro-me à espécie de pássaros negros que são corvos, que são da família dos corvos ou que nem são corvos nem da família mas parecem-se muito com corvos como as gralhas. Estes passarões meteram-me um bocado de medo nos meus primeiros tempos nesta terra, eles pulam por cima da neve em busca de alimento e atiram um pio metálico se nos aproximarmos demasiado deles. Fitam-nos com o seu olho gordo e cinzento junto dos quiosques das zapiekankas e atacam à falsa fé se eventualmente deixarmos cair um pedaço de cebola ou migalhas de batata frita.
O canto destes corvos e gralhas é manifestamente desagradável. Empoleiram-se nos candeeiros da cidade ou nos tapumes das obras e ladram a quem passar perto, como que mandando passo rápido às pessoas, fazendo-as circular, mantendo a ordem na cidade. A música destas aves é amarga, combina com o cenário de Varsóvia no Inverno e avisa as pessoas que o tempo não está para brincadeiras. Todos os dias cruzo-me com estes típicos animais, eles despacham -me sempre com dois ou três pios àsperos e afocinham na neve à procura de minhocas ou pão perdido. Não perdem muito tempo comigo pois não têm interesse nenhum em socializar com alguém que não lhes irá acrescentar nada às suas vidas. Eu entendo-as e respeito a sua atitude. Afinal, há tantas pessoas como eles nesta terra...
2 comentários:
LOL fui apanhada... ainda não disse a ninguém que tenho este muro de lamentações, só o Baranito é q sabe... sabia... agora já tenho mais 1 seguidor...
O camaranito está fora do congelador à tua espera.
Bjs Compadri
Volta depressa!!! Estás perdoado.
Esses corvos são bastante agressivos, uma ocasião a minha cadela decidiu ladrar a uns que estavam numa árvore e não é que os sacanas dos pássaros atiraram-se ao bicho? :) A cadela ficou toda borrada de medo, parecia uma das cenas do filme Os Pássaros de Hitchcock.
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