quarta-feira, 19 de março de 2014

Da relação que há entre Clark Gable, psicologia e o Ikea

Travesseiro do Ikea
O suíço Carl Jung, autoridade no campo da psicologia e psiquiatria, criou o termo Anima para definir a personalidade interior feminina do homem, o lado feminino numa tradução mais corrente. Não há estudos que provem que as mulheres são mais atraída por homens que possuam uma anima desenvolvida, até porque o grau de desenvolvimento desse modelo é progressivo e acompanha o processo de envelhecimento do indivíduo - quanto mais velho o homem mais a anima está presente na sua personalidade - e isso derruba qualquer teoria nessa direção, apesar de nesta terra a conjuntura ser favorável aos homens masculinos devido à pouca pica que muitos Adãos indígenas suscitam às raparigas polacas e do crescente número de gajos que, já licenciados em metrossexualidade, estão a escrever a tese de mestrado em androginia. Enfim.

Talvez tenha sido o meu lado feminino que me permitiu desfrutar do prazer libertador que está presente no ato de ir às compras, talvez tenha sido o meu lado feminino a empurrar-me para a loucura que fiz na semana passada quando rebentei um punhado de contos de réis em meias e boxers na Levi's, na loja da Adidas e no Ikea. O Dani estava de folga e precisava de ir ao Ikea, o que até me dava jeito para comprar ambientadores e copos de vinho tinto para poder receber as visitas com a pompa devida, assim aproveitei a boleia e dei um salto ao Parque Comercial de Targówek para adquirir algumas coisas para a casa, o que me dá bastante prazer pois sou uma pessoa que gosta dos confortos do lar e aprecio ter as coisinhas arrumadas apesar de morar sozinho e não ser fiscalizado a tempo inteiro. Nos primórdios da minha estadia em Tarchomin, a prioridade eram a sala, o escritório e a cozinha, depois dei atenção à casa de banho e finalmente o quarto de dormir, zona mais desprezada pelos meus primeiros investimentos domésticos desde que passei a ser senhor único do lar visto que é uma divisão que serve apenas o propósito de dormir. Porém, o facto de ter passado a dormir numa cama de solteiro, situação que eu não experimentava há talvez 15 anos, obrigou a adaptações prementes como a da minha roupa de cama que é toda formato de casal. Lençóis, fronhas, edredões, cobertores e resguardos, tudo de tamanho desadequado para uma caminha tão estreita, por isso empreguei umas pelegas nuns artigos para o dormitório, em especial no travesseiro.

Se a segunda metade de 2013 foi fértil em turbulências, o primeiro terço de 2014 não tem sido mais sossegado entre inquietudes pessoais (valha-me que em termos profissionais não me posso queixar) de aquém e além-Polónia. É um tempo de profundas reflexões e decisões daquelas que podem mudar a vida própria e das pessoas mais próximas, um trabalho contínuo de ponderação que requer serenidade e limpeza de espírito. Muitas dessas decisões deixo-as para depois da noite, para poder descansar e pensar no que fazer. A cama é um bom lugar para eu refletir, consigo ouvir as conversas dos neurónios, o
Modo Rhett Butler
escuro ajuda-me a focar no essencial porque às vezes eu preciso de fazer outras perguntas até chegar à resposta que quero. Depois de lavar os dentinhos subo para o colchão, adoto a posição de defunto que é deitado de barriga para cima e o meu cérebro entra em processo dialético, começo a magicar nas coisas até adormecer, de manhã consigo raciocinar com mais clareza e a resposta aparece mais depressa... ou não, o que até é melhor porque significa que o problema não tem solução e na minha terra diz-se que 'o que não tem solução solucionado está'. A pensar nas coisas do quarto fui ao Ikea e encontrei um travesseiro que se dizia concebido para as pessoas que dormem de costas ou de lado, despertou-me a curiosidade e enfeirei um exemplar. À noite experimentei-o.

Não sei se foi por ter passado uma manhã com um amigo, a conversa e o desabafo que tive com ele, ter um ouvinte com quem pudesse ter aliviado alguns dos meus stresses. Não sei se foi por ter comprado roupa, o que me causa sempre um suspeito estado de euforia provavelmente resultante duma anima em plena evolução. Não sei se é o travesseiro que é mesmo bom ou apenas um placebo. Sei é que graças àquele dia com o Dani e às compras que fiz, travesseiro incluído, sinto-me mais leve, tenho acordado mais descansado e andado com um humor em modo Rhett Butler.

- Frankly, my dear, I don't give a damn!

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