O problema é grande mas fácil de diagnosticar, os sinais são claros e os sintomas evidentes. Fico inquieto, o pensamento foge e distrai-se entre o lá e o cá. Nada está bem, ou então tudo está bem mas em outro lado ainda está melhor, a impertinência e a ansiedade crescem, anda tudo fora de sítio.
O meu problema é a saudade, saudades de lá quando estou cá e saudades de cá. É uma situação lixada, começar a criar saudades no mesmo momento em que se matam outras, uma guerra sem quartel nem fim à vista porque o termo duma batalha implica o rebentar de novo conflito. Chegar a Faro é regressar ao princípio do mundo, às coisas da infância e da adolescência, à família e à pandilha do Liceu, da bola, da praia, dos computadores, do Largo da Caganita, do Sporting, da peitada. Um prazer tremendo ver esta maltinha, sentar-me à mesa com eles e desfazer caracoladas e canecas, saber das últimas (que infelizmente são cada vez mais negras) e partilhar umas gargalhadas, de ir ao S. Luís assistir ao regresso paulatino do meu Farense aos momentos maiores do futebol nacional, abancar na espanada do Zé Maria para uma imperial fresquinha depois de três horas de peitada já com os olhos a arder do suor como foi na quinta-feira com o Cartaxinho e o Penny (a maior remontada de sempre, de 8-14 para 16-14 e já sem força nas canetas!). Mas já sinto a comichão da falta do meu sofá, dos jantares na Nowy Świat, das noites doidas de vadiagem em clubes de shots de vodca por cima das mesas de mistura, das pernas torneadas e branquinhas como se fossem envoltas numa camada de leite em pó peneirado pela Criação, do corre-corre da semana de trabalho a planificar horários e aulas ou a preparar um novo set para apresentar ao manager de uma discoteca.
Não é fácil viver em permanente saudade, sentir a perda de uma coisa quando ganhamos outra. Foi a vida que escolhi, perder a praia para ganhar os braços da minha mulher. Mas enquanto Varsóvia vem e não vem eu vou ali à frente dar um mergulho, venho já.
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