Portugal está cada vez mais diferente daquilo que era, quase que digo que está cada vez menos português. O produto que melhor se vendia, a simpatia e hospitalidade portuguesa, está inquinada pela crise e pelos criseiros, os fazedores da crise. Os portugueses estão menos alegres, menos abertos, menos expansivos, vejo-os carregando fardos de apreensão e preocupação, o pessoal que antigamente se juntava para jantar hoje junta-se só para petiscar, não fazem dois fins de semana de borga seguidos, reina a apatia salpicada por uns pontuais abraços de satisfação por ver o amigo emigrante, um par de brindes à saúde do presente e à memória dos que já partiram mas tudo coisas com moderação e em doses previamente medidas.
Entre as novidades sabidas e contadas ressalvo os divórcios e separações, casos chatos entre pessoas que se deram tão bem ao ponto de fazerem meninos e que depois deixaram fenecer o encanto. Não faço críticas até porque não tenho experiência na matéria mas parece-me estranho que se tente aperfeiçoar uma relação com um filho, decisão irreversível para o bem e para o mal, e que depois este sirva de arma de arremesso sem ter culpa nenhuma das palermices que os adultos fizeram ou ainda fazem. Um filho é uma coisa de responsabilidade, não é um telemóvel ou um par de calças que se enfeiramos quando vamos de compras terapêuticas e que se pode descartar quando já não gostamos. Eu não tenho filhos porque nunca me senti preparado e porque não quis a fuga para a frente, “vamos fazer um menino porque isso nos vai aproximar”. É o mesmo que o João Pinto do FC Porto dizia nas suas indiscritíveis diarreias verbais “estar à beira do precipício e dar um passo em frente”. Ou isso ou reflexo da falta de paciência das pessoas em resultado da falta de motivação, da falta de perspetivas, da falta de futuro que se sente em Portugal. Uma pena, uma dor na alma ver amigos meus a atirarem com o barro à parede porque não se sentem com capacidade para aguentar o que escolheram.
E outra situação que me deixou deveras preocupado – assaz preocupado, diria o Tojó – é a profusão de casas de penhor e de compra de ouro que há em Faro. É impressionante o número destes estabelecimentos que abriram na capital algarvia no espaço de um ano, fenómeno que talvez passe ao lado dos farenses mas que salta à vista daquele que conhece a sua terra mesmo que a visite três ou quatro vezes por ano. É um sinal de que as pessoas estão mesmo nas últimas e vêem-se na contingência de ter de vender o seu ouro, aquele que sempre foi o melhor investimento de sempre. Porque se há tantas casas destas é porque há procura e se há gente que procura penhorar os seus bens é porque já não têm meios de fazer frente às despesas. É importante perceber isto, as pessoas estão a trocar os seus bens por dinheiro, é de loucos! Qualquer dia vendem orgãos do seu próprio corpo ou trocam um filho por senhas de gasolina e supermercado. Onde é que isto vai parar?!
Fui a Faro este verão com a ideia de explicar à minha família um plano que tenho… quer dizer, tinha, para criar um negócio que me possibilitasse passar mais tempo em Faro ou dividir a minha vida entre Faro e Varsóvia. Pelo que vejo e pelo que me foi aconselhado, ou pegar no meu plano e trazê-lo para Varsóvia mesmo que eu passe metade do ano abaixo de 0ºC porque nem tão cedo Faro, o Algarve e Portugal se endireita enquanto os seus governantes continuarem a fazer as piratarias que têm feito, depenando os portugueses enquanto eles vivem à tripa forra. Assim não se admirem que os “Jerónimos Martins” da vida batam a asa, Portugal está bom é para masoquistas ou românticos, mas como eu não gosto de levar porrada nem posso pagar as contas com versos…
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