domingo, 11 de setembro de 2011

Em Paris não hei-de ser feliz

Sacré-Coeur Ao fim de muito mais espera daquela que havia previsto, recebo pela manhã a boa-nova que o carro estara pronto para seguir viagem a partir das 16:30 de quinta-feira. A notícia foi acolhida com entusiasmo moderado, não porque não acreditasse na veracidade dos tipos, mas devido a hora apontada que era bem perto do encerramento da garagem (18:30), o que me fez logo pensar em cenários manhosos de que eu não conseguiria chegar a tempo de o apanhar no próprio dia, - Senhor fulano, se calhar é melhor passar por cá na sexta de manhã e tal. Hora e meia para fazer 10km que é a distância que separava (note-se aqui o uso do imperfeito) o hotel onde fiquei da garagem onde estava o automovel parece suficiente à vista desarmada mas depois de ter constatado a confusão que é o trânsito naquela zona de Paris, colado a uma das portas do Périphérique, onde os semáforos são quase objetos decorativos e as duplas faixas transformam-se facilmente em triplas, imaginei que ia precisar de mais do que 90 minutos para percorrer tal espaço. Assim, uma vez que ainda tinha uma data de horas para consumir antes de chamar o táxi, resolvi fazer a ultima "viagem turistica" desta maldita pausa parisiense e subi ladeiras até chegar à igreja do Coração Sagrado, ver a paisagem, observar a Cidade-Luz duma posição que me fez refletir um pouco na vida e no que os homens fazem dela. Explicando, a panorâmica de Paris vista de Sacré-Coeur é quase homogenea, uma linha horizontal a perder de vista de casas antigas e bonitas, um bilião de estórias e a história que a capital francesa tem como quase nenhuma no mundo que é contada por cada uma daquelas ruas estreitinhas e por cada um daqueles telhados típicos, Voltaire, Robespierre, Sartre, Toulouse-Lautrec, um prazer para a vista se tirarmos do retrato um risco escuro que adultera a vista: a torre de Montmartre.

Esse edifício monolítico dá cabo da fotografia, um exemplo da arquitetura brutalista que esteve em voga nos anos 70 e 80 que foi responsável por algumas das mais feias construcoes do mundo. Ao ver a torre a sobressair negativamente naquele mar de casinhas lembrei-me do que fizeram ao Palácio da Cultura em Varsóvia, que para minimizarem o impacto da estrutura no horizonte da Cidade Capital decidiram afogá-lo em arranha-céus para que não se desse tanto pela sua presença. Um erro, na minha modesta opiniao, pois assiste-se agora ao insolito de termos um monumento socialista e um Hard Rock Cafe na mesma rua. Paris aprendeu a lição e depois de se ter reconhecido o erro que foi autorizarem a construção da torre de Montmartre foi decidido que mais nenhum arranha-céus, ou pelo menos edificações daquela magnitude, seriam construidos dentro dos limites da cidade. Há prédios altíssimos nos arredores de Paris em Saint-Ouen, em Aubervilliers, por trás do Bosque de Bolonha ou em Montreuil mas em Paris não há autorização para construir mais nada que deturpe a sua harmonia, pelo menos nao se incorreu na continuição do erro já que não foi possível remediá-lo. É mais ou menos como no futebol, há aqueles treinadores que deixam correr as peladinhas para não quebrar o ritmo e os outros que as interrompem a cada 5 ou 10 minutos para meterem correções e eu sempre gostei destes últimos porque a cada interrupção se corrigia um erro, se ajustava uma situação, se treinava um mecanismo para que no fim de semana não repetíssemos os erros que eventualmente faríamos se a pelada não fosse parada. Tal como o Mister Sequeira quando ele apitava a meio do treino berrando naquela voz rouca que o "Farense nao é o Parragil" e obrigava-me a jogar no central em vez de esticar na frente.

Faz falta a muita gente parar a peladinha, olhar para o gesto que foi feito e aperceber-se se foi bem feito ou não. Desci para o bairro Pigalle onde há sex-shops que envergonham muitos centros comerciais de luxo em todo o mundo, almocei paredes meias com o Moulin Rouge e voltei para o hotel a fim de empacotar os pertences, esperar pelo táxi, recolher o carro e seguir viagem. Felizmente consegui recuperar a viatura no dia combinado e logo ali toquei para Varsóvia, para casa, afinal, onde cheguei 16 horas depois de ter abancado o traseiro no lugar do condutor numa viagem sem paragens e sem sono tal não era a vontade de voltar para casa, com um só pensamento - abraçar a Ewa. Minto. Três pensamentos, porque aquela torre absolutamente parva a estragar a perspetiva a partir do Sacré-Coeur e o apito do Sequeirinha, a voz rouca a recriminar-me depois de mais um pontapé de baliza precipitado, "Soviéééético!" fez-me pensar nos alguns erros que tenho cometido ate agora. O terceiro? Constatar que no meio do azar ainda tive sorte. O incidente sucedeu-se em Paris e eu ainda falo francês, se fosse na Alemanha estava frito e mal pago q:)

Sempre que volto do verão algarvio venho carregado de energia e disposição para encarar a nova temporada. De novo o futebol, como se viesse dum defeso e fosse entrar no último ano do contrato, ter de dar o litro para mo renovarem, ter de correr mais que os outros que chegaram agora cheios de vontade de mostrar serviço e provar que, em Varsóvia como em qualquer outro lugar, quem se esforça mais, quem mais água tira da nora, quem comete menos erros é que merece o colete dos titulares. E eu não saí de Faro para jogar na equipa da Coca-Cola de Varsóvia, isso é que era bom!

1 comentário:

Ryan disse...

Paris sera sempre Paris. uns com gostos por Varosvia, outros por Londres (onde confesso ouco e detesto o ingles abichando), outro por Rio de Janeiro, New York... mas Paris nao e minha, eu gosto e sera sempre Paris.