sexta-feira, 23 de setembro de 2011

O que é que a gente tá aqui fazendo? - 11

rua Emilii Plater É curioso voltar a um lugar estranho mas não de todo desconhecido, parece que as coisas que estamos a ver pertencem a um fime diferente, não encaixam na nossa conceção do mundo porque não foi esse o cenário que nos rodeou enquanto crescemos. As coisas são parecidas mas não são iguais, as pessoas têm membros e olhos mas estes de cor diferente, conversam umas com as outras mas num código próprio, os prédios são muito maiores, têm portas e janelas mas de formato variado e têm sempre árvores com fartura em seu redor, a comida é preprada com os mesmos alimentos mas tem sabor distinto, o sol brilha mas não aquece, a noite não tem vento mas é fresca. Tudo dá a sensação de não estar em, ou pelo menos, de estar quase bem, as coisas quase que são como devem ser mas não é assim que são. Quase que são, apenas. Um exemplo.

As ruas são largas e os passeios tão largos quanto as faixas de rodagem. Não são calcetados com motivos decorativos, não têm a beleza estética da calçada portuguesa porque são de blocos de cimento iguais e incógnitos mas cumprem-se passeios, têm espaço que chegue para pedestres - mesmo os incapacitados e não lhes falta até lugar para acolher os automóveis mais gulosos que não se contentam com a estrada que é só para eles.

Mais casos idênticos podiam ser trazidos ao artigo mas não os julgo pertinentes, importante é, para mim, reportar a impressão que os olhosPrédios e Verde notam e as teclas registam, uma impressão de estar num lugar estranho mas não de todo desconhecido, onde as coisas não são iguais mas parecidas. Até os amigos daqui, grandes amigos daqui, falam no mesmo idioma que o meu mas dizem as palavras de maneira diversa, outro sotaque, outro calão, felizmente a mesma essência. Percebem? É como aqueles sonhos malucos – quais sonhos malucos? Nos sonhos tudo tem lógica, tudo encaixa bem – em que estamos num deserto mexicano a combater ao lado de Emiliano Zapata, paramos num pueblo para nos refrescarmos no bar local e sentamo-nos à mesa com o vizinho do 2º esquerdo a falar de telemóveis.

Às vezes sinto umas cócegas de nostalgia, pedaços de sal e sul que não se despegaram ainda do corpo e que empurram o pensamento para o título da crónica, o tom da pele tostada pelos sois algarvios e gregos também não deixa esquecer o verão e tocar a vida para a frente, seguir adiante e penetrar no lugar estranho a que já pertenço, e por isso não de todo desconhecido. Mas isto passa, são só as primeiras semanas, todos os anos é a mesma conversa.

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