É lendária a reputação de arruaceiro do adepto polaco de futebol. Violento e provocativo, torna-se pior quando passa as fronteiras do seu país talvez por ter de mostrar a força e o espírito guerreiro dos polacos. Na última Final da Taça da Polónia, disputada entre o Lech Poznań e a Legia de Varsóvia e decidida a favor da turma da capital no desempate através de pontapés da marca de grande penalidade, quando o defesa esquerdo legionista Jakub Wawrziniak ajeitava a bola para bater o tiro decisivo a claque da Legia irrompeu pela vedação ante a ineficiência dos atónitos stewards, invadindo a pista de atletismo e colocando-se em cima da baliza do guarda-redes adversário. Quando vi esta situação, pois estando em Faro acompanhei o jogo numa transmissão pela internet, temi uma catástrofe se Wawrziniak falhasse o penálti e um problema ainda maior de Kotorowski defendesse. Felizmente a bola entrou e a invasão deu-se com caráter pacífico, embora proibida, respondendo os adeptos dos ferroviários com o lançamento de cadeiras para o relvado. Como pena pelo sucedido os jogos seguintes da Legia e do Lech foram disputados à porta fechada numa decisão tomada pelos Governos Civis da Mazóvia e da Grande Polónia com a aprovação incondicional do Governo de Donald Tusk. As atenções dos jornais voltaram-se de novo para as claques com estas a protestarem contra a decisão e com o Poder Central a delegar autoridade ao Poder Local para que este mande encerrar estádios sempre que achar que não estão reunidas condições de segurança para os espetadores. Mais jogos se disputaram à porta fechada em Łódż e em Wrocław sempre com o mesmo pretexto, falta de segurança nos estádios, e com as claques do lado de fora do edifício a cantar e a apoiar os seus jogadores. No final do Legia – Korona os jogadores da casa quiseram agradecer aos adeptos o apoio prestado mas foram impedidos pelas forças policiais o que endureceu ainda mais a posição das claques, agora unidas sob a mesma bandeira.
Parece que na Polónia ainda se faz algum jornalismo de investigação e descobriu-se que as relações entre clubes e claques são mais do que institucionais, nalguns casos roçando a promiscuidade e passando claramente a legalidade. Veio agora a público que a direção do Lech Poznań decidiu conferir a exploração de todos os espaços de restauração do Estádio Municipal (leu bem, municipal) a uma só empresa, figurando no contrato que todos os eventos a terem lugar na infraestrutura do estádio terão catering exclusivo dessa tal empresa. O facto é por si anormal por não ter havido concurso mas também porque a firma em questão pertence… ao presidente da claque do Lech, o que sugere um pacto implícito entre as duas entidades para que haja paz em dias de jogos. Um contrato perigoso que ainda prevê a indemnização de 10.000 zlotys (aprox. €2500.00) por cada ponto de venda à dita empresa no caso de ser contratada uma concorrente, situação recorrente pois a primeira empresa não tem estrutura suficiente para dar resposta às solicitações. Em Varsóvia a situação não é mais pacífica, as companhias que são responsáveis pela segurança durante os jogos são contratadas em negociações tripartidas entre um diretor do clube e dois diretores… da claque numa flagrante violação da ética senão mesmo da lei.
A propósito da claque da Legia e das ligações perigosas entre poder e futebol, conte-se um episódio interessante: O líder da Żyleta (claque da Legia) conhecido como Staruch, protagonista de inúmeros incidentes com a polícia, esperou os jogadores à saída dum jogo perdido em casa e agrediu um dos mais carismáticos atletas, Rzeźniczak. Imediatamente detido, Staruch foi proibido de frequentar as instalações do clube e posteriormente viu a sua pena agravada para a interdição de assistir a jogos de futebol em estádios de todo o país. Mal-grado o seu castigo marcou presença na final da Taça e foi amplamente fotografado a levantar o troféu nas bancadas que não podia pisar. Após investigações internas soube-se que a polícia pediu bilhetes e uma amnistia à Federação Polaca de Futebol para que Staruch pudesse assistir à partida ao vivo apesar da pena imposta. O comandante da divisão policial acabaria por ser rapidamente exonerado mas Grzegorz Lato, presidente da federação, não se coibiu de afirmar que “o Governo não consegue lidar com os vândalos e a polícia tem medo deles” indo mais além nas acusações culpando a “lei fraca” do país e observando que “na Inglaterra Margaret Thatcher conseguiu afastar os bandidos dos estádios mas aqui a solução é encerrá-los”.
O problema não é exclusivamente polaco pois se olharmos para os três grandes do futebol português vemos o presidente dos Super Dragões que anda de Porsche sem sequer ter atividade profissional reconhecida, os No Name costumam ter mais armas nas suas instalações que um quartel dos Comandos e que a Juve Leo (da qual fiz parte) era sempre ouvida – nem que fosse à força – quando novo treinador tinhe de ser escolhido (Mourinho não veio para o Sporting devido a pressões da Juve Leo). O Euro2012 é já amanhã. Os estádios são modernos, bonitos e funcionais. Os homens continuam os mesmos, cá em Varsóvia ou aí à beira-Atlântico.
2 comentários:
O líder dos Super Dragões, no diz que disse, tem uma empresa de segurança. Supostamente ligada ao Gang da Ribeira esta empresa "cuida" de estabelecimentos nocturnos como bares e... portas sim.
Repito o "Diz que disse" e o "supostamente"
Acho que tenho de me afastar do mundo do futebol. A imprensa esta a dar demasiada atencao a casos e coisas que nao tem nada de valor e fazer disso DESTAQUES. Em Portugal abrem-se telejornais com futebol. Na Polonia nao sei porque nao vejo. Acho que andamos a ficar demasiado distraidos e a dar mais atencao ao que nao nos alimenta do que aquilo que realmente importa sobretudo no nosso pais. Eu deixei de ler os jornais desportivos. Alguns parecem a revista cor de rosa do pessoal da bola. Dantes ainda haviam coisas interessantes agora e so tretas. Continuo apoiar a equipa de sempre mas nao tanto. Ha coisas que me preocupam mais no desporto nacional... por exemplo a nossa seleccao.
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