terça-feira, 3 de maio de 2011

Balada da Esquadra de Faro

A maldade dumas e a irresponsabilidade doutras pessoas levou-me à esquadra da PSP de Faro, um local onde nunca tive problemas em entrar - muito menos de sair - mas que não é propriamente o lugar mais turístico da cidade, mais para mais às 23:00. O edifício é sombrio e sinistro, do outro lado da rua fica o Jardim da Alameda e a Escola Tomás Cabreira, mais dois espaços que de noite não inspiram alegria nenhuma. Aqui aguardo diligentemente a chegada dum agente que está a deslindar um crime que me apanhou como interveniente involuntário, uma novela com todos os ingredientes necessários para prender os seguidores. Escusado será dizer que não vou entrar em pormenores revelando apenas que pela primeira vez na vida senti vontade de apagar, limpar, matar alguém. Adiante.

Estou sentado no hall de entrada quando surge uma senhora de cabelos crespos e roupas modestas, diz querer apresentar queixa, o marido ofende-a a torto e a direito, teve de sair de casa e ir para uma pensão em Faro, a oito quilómetros da sua casa porque temeu pela sua integridade física numa noite em que ele regressou mais bruto. Parece-me algo desorientada, perdida mas responde com serenidade às perguntas de algibeira que o agente de serviço lhe faz com um monocordismo capaz de fazer um peixe fechar os olhos. A senhora repete respostas, deita um olhar vazio para o chão, diz que não percebe, que vivem juntos há vinte anos e que há um ano ele começou a ficar diferente, a começar zangas, a acumular processos em tribunal.

O Bem Revoltam-me estas cenas quando o mais forte subjuga o mais fraco à sua vontade e revoltam-me também as pessoas más. É completamente estúpido ser-se mau, causar dor e tristeza aos outros e é estúpido porque é inútil, não enriquece o ser, não enobrece nem confere mais saúde a quem o pratica. Intrigam-me aqueles que se deitam a pensar em maneiras de enganar o parceiro, de trair, de burlar, de obter proveito através do dolo alheio. As botas dos polícias que calcam o chão de mármore da esquadra à medida que trazem relatórios de patrulhas devem já ter pisado muito campo minado, ter perseguido muito bandido, já devem ter caminhado por veredas e azinhagas de escuridões perigosas, emboscadas e ciladas. Não percebo como há homens e mulheres que canalizam tanta energia física e psíquica no fazer mal aos outros quando é do senso comum que fazer bem é muito mais fácil e dá muito mais prazer.

Respeito estes homens que se dedicam à manutenção duma ideia que devia valer-se por si sem que outros tivessem necessidade de defender: Ser bom.

E que a tal senhora da esquadra encontre finalmente as coisas boas que procura.

2 comentários:

NeL disse...

Olá Misha, faz algum tempo que não vinha espreitar este seu canto.

Antes de mais, quero dizer-lhe que é com enorme apreço que lhe agradeço a maneira como elogiou aqueles que todos os dias cuidam da sociedade, e que tal como disse, se dedicam á manutenção de uma ideia que não deveria haver necessiadade de defender: Ser bom.

È com muito orgulho que pertenço a essa Instituição e tal como o Misha, identifico-me consigo porque à 4 anos atrás abandonei tambem o nosso Algarve em busca de algo mais. Agora passado todo esse tempo, regresso novamente à capital algarvia com o intuito de continuar a fazer valer essa mesma palavra: o Bem.

E com isto agradeço-lhe a sinceridade do seu gesto e das suas palavras prestadas aos Policias deste país.

Obrigado. Disponha sempre

Ass: Um simples agente.

PM Misha disse...

de nada, amigo. apenas um reconhecimento devido a quem arrisca o pescoço todos os dias, os polícias também são pessoas.

abraço e força nisso.