sábado, 24 de julho de 2010

Ligações Algarve-Polónia

A Polónia, apesar de ser um país distante, tem mais ligações com Portugal do que podemos imaginar. Principalmente com o Algarve, datadas do séc. XVIII e através da curiosa história do luso-polaco José Carlos Conrado Chelmicki, ou na versão original, Józef Konrad Chełmicki.

Filho de um juíz e nascido em Varsóvia em 1813, este senhor participou no Levantamento que culminou a contestação contra a partição da Polónia e o domínio russo à época. Após a morte do seu pai em 1832 e do esmagamento da insurreição, Chelmicki exilou-se na França onde se especializou em engenharia e desenho sendo recrutado para uma legião polaca que preparava uma expedição ao Egito porém, como essa expedição fracassasse, Chelmicki decidiu alistar-se nas tropas governamentais que lutavam na Guerra Civil Portuguesa. Finda a guerra Chelmicki serviu ao lado da Rainha Cristina de Espanha como enviado do Governo Português em resposta ao pedido de ajuda do país vizinho que se via a braços com uma das guerras Carlistas. Portugal chama-o novamente para o combate em mais uma guerra entre pedristas e miguelistas e Chelmicki mantém-se leal a D. Maria até o término da guerra quando foi nomeado inspetor de estradas e pontes das províncias do Sul na sequência da construção de estradas, ferrovias e pontes nas regiões do Alentejo e Algarve até ser promovido a inspetor de edifícios públicos e monumentos de todo o país. Chelmicki foi também o autor das Cartas do Arquipélago de Cabo Verde e da Guiné onde viveu durante um ano.

Na seguinte vintena de anos José Chelmicki voltou para o exército português com a patente de coronel-inspetor de engenharia militar nas províncias do norte e foi membro da comissão de elaboração de planos para as fortificações de Lisboa. Alguns anos mais tarde visitou os ministros da guerra de França, Alemanha e Áustria fazendo relatórios sobre a construção de quartéis, fortalezas e hospitais militares ao mesmo tempo que preparava uma obra importante na história militar portuguesa: Esboço sobre a Defeza de Portugal – impresso em 1878. Chegou ao posto de Comandante-Militar do Algarve e permaneceu em Tavira até ter sido transferido em 1880 para Elvas onde se aposentou oito anos mais tarde. No entretanto a sua filha casou com um tavirense e essa foi uma razão primordial para que Chelmicki tivesse decidido voltar à cidade do Gilão para acabar os seus dias em 1890 e lá ser sepultado. Este ano Tavira vai dar o seu nome a uma das suas ruas.

Apesar de se ter naturalizado português e de ter passado mais de meio século ao serviço do Estado Português, Chelmicki nunca renegou a sua origem polaca. O seu filho estudou na escola polaca de Batignolles, arredores de Paris.

Agradecimento especial a Carlos Simões pela documentação enviada.

2 comentários:

Ricardo disse...

Interessante, desconhecia totalmente. Nuno. Corrige para luso-polaco e não luso-português. :D

PM Misha disse...

corrigido. obrigado q=)