quarta-feira, 21 de julho de 2010

90 minutos

Aeroporto de Bergamo, Itália. Acabo de ver que o voo FR7402 foi adiado por 90 minutos, o tempo de um jogo de futebol. Hora e meia pode ser pouco tempo na vida de uma pessoa mas se esse tempo é passado numa sala de embarque dum secundário aeroporto italiano temos duas hipóteses: Ou desesperamos pelo atraso pensando no peixe assado no forno que nos espera à mesa do almoço, o que é escusado porque o avião não vem mais cedo por causa disso, ou abrimos os olhos e vemos o que temos em volta, as lojas, as pessoas, o que elas fazem e o que dizem.

Estou sentado no chão a chular eletricidade duma tomada que encontrei na parede e tenho à minha frente duas jovens cuja nacionalidade não consigo distinguir mas que decididamente não são polacas, não preenchem os requisitos biológicos necessários para tal. Elas estendem-se no chão para descansar as pernas, não sei para onde vão mas não me admiraria que fossem até ao Algarve porque as portas de embarque vizinhas são para Roma e Billund (agradeço que me digam onde fica). Atrás ficou um check-in engraçado onde dei graças por estar de volta a um país latino – explicando, o italiano que me aceitou o saco viu que este tinha 200g a mais do que o permitido, olhou para mim, encolheu os ombros a sorrir, colou a etiqueta com as três letras mágicas FAO, desejou-me boa viagem e atirou o resto da etiqueta autocolante ao colega do balcão ao lado – e onde estupidamente me esqueci de tirar a garrafa Żołądkowa Gorzka com mel que tinha comprado no aeroporto de Varsóvia da bagagem de mão. Aí não houve simpatias latinas e o precioso licor foi mesmo para o lixo bergamasco. Cazzo! Mais ao lado uma criança dorme encostada ao colo da mãe que se esforça para não imitar o filho. Empregados de limpeza, curiosamente todos de ascendência africana, tratam de varrer o chão. Outra mulher mais à frente não aguentou a pressão de Morfeu e deitou-se nos desconfortáveis assentos de ferro da sala, quando o sono aperta até em cima de calhaus o corpo sente plumas.

Os aeroportos são mais ou menos os mesmos em toda a Europa e eu já conheço uns poucos mas um aeroporto latino é diferente, especialmente se é um aeroporto italiano. Aqui não se conversa, grita-se, gesticula-se para explicar melhor a palavra mesmo se a esta é estrangeira e incompreensível para o ouvinte. Este não é um aeroporto silencioso e monótono como o de Luton ou mínimo e frugal como o de Charleroi, é pequeno mas fervendo de sangue mediterrânico, de grinta, de cos’é?, de grazie e prego. É a última etapa antes de lançar fateixa na Praia de Faro para um mês de férias entre a minha gente, o último passo antes de voltar à terra-mãe, às origens. É o que falta antes de voltar à casa de partida, onde tudo começou e onde tenho de regressar para me regenerar e voltar a ser genuinamente eu. Faro está aqui ao lado, os hábitos do sul da Europa também e este aeroporto italiano revela-se um excelente aperitivo.

3 comentários:

Luís Fonseca disse...

É só para dizer que Billund é na Dinamarca ;)
Bom regresso.

Paulo Soska Oliveira disse...

Camano, nunca tocaste nuns Legos? :)

Billund é o paraíso do Lego, pá!

PM Misha disse...

Acabei por ir ver à Wikipedia, obrigado q:) Brinquei com Legos mas não fui entusiasta ao ponto de saber onde eles são fabricados.