quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Rumo à derrocada final

Enquanto assisto choroso à “belenensização” do meu Sporting patrocinada pelos incapazes e incompetentes dirigentes leoninos, desenho o meu mundo de treinadores.

Os outros com Jorge Jesus. Um treinador de copo de três e escarro no chão, unhaca no nariz e Nossa Senhora de Fátima na mesa de cabeceira, Renault 5 e Tony Carreira, a ganhar e a dar abadas a toda a gente.

O Sporting com Manuel Machado. Um treinador de discurso erudito e apurado, colarinho engomado e gravata de seda, BMW e Andrea Bocelli, a jogar porcamente e a perder com o Jagiellonia Białystok.

Nunca foi fácil ser do Sporting, mas hoje em dia a tarefa é só para missionários!

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A Velha Senhora

Depois da bonança vem a tempestade. Traduzindo, depois de três meses no ripanço de papo para o ar começa a labuta fera do dia-a-dia, o ter de esgravatar oportunidades para comer porque ele não cresce do chão, ir progressivamente engatando mudanças porque o ritmo de Faro não se iguala à vertigem de Varsóvia. Pouco a pouco a passada alarga-se, os dias vão tenho menos horas, as distâncias crescem e o redemoinho do trabalho trata de colocar-me no estado de máxima atividade. É um mundo que separa a tranquilidade de Faro e a voragem de Varsóvia, incomparável.

A readaptação não foi feita com calma ou por etapas, Varsóvia não tem tempo para formalidades e exige que as pessoas funcionem imediatamente. Nesta primeira semana pós-verão pouco tempo tenho tido longe do portátil, 5 ou 6 horas por dia incinerando a íris por fazer planos e programas, projetos que dependem da minha assinatura e não tem havido muito vagar para olhar para a cidade, perguntar-lhe como passou o verão sem mim, saber da novidades, das pessoas, das coisas que fazem parte da nossa vida. Varsóvia não se deve sentir muito sensibilizada com a minha curiosidade e, por isso, não deve ter vontade de responder às perguntas que tenho para lhe fazer. Lá segue ela grisalha e nublada, zangada com tudo e com todos mas sempre com aquele porte garboso próprio duma grande senhora do leste europeu.

Varsóvia nunca me perguntou se eu tinha feito boa viagem ou como tinha sido o meu verão, não se se por ciúme do meu bronzeado algarvio ou se por não ter simplesmente tempo para essas simpatias hipócritas. Varsóvia viu-me chegar, jerozolimskieolhou-me por cima dos óculos, apertou-me formalmente a mão, mandou-me regressar ao trabalho porque as pessoas estavam à minha espera e mergulhou na papelada que furiosamente assinava na sua secretária. Ao sair do seu gabinete notei que Varsóvia levantou a cabeça para ver-me sair, talvez satisfeita com o meu regresso ou apenas para me tirar as medidas ao cabedal como mulher polaca que é. Olhei pelo reflexo dum vidro e vi o sorriso dela, um sorriso traçado do fundo da Aleje Jerozolimskie que revela o seu estado de espírito. Ela está contente, e eu também.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Disto e daquilo

Como isto aqui por Varsóvia anda tranquilo (e como não tenho net em casa), descobri isto e mais isto.

Ambos têm em mim um incondicional apoiante.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Jesień na Polónia

mickiewicza E eis que surge a neve e o correspondente coro de ais e loas ao frio e mau tempo que resolver abancar na Polónia antes de tempo. A malta já sai à rua atarracada em casacões, sobretudos, gorros e luvas, maldiz-se o clima, manda-se vir contra tudo e mais alguma coisa, culpa-se a crise económica mundial, o Tratado de Lisboa e os vietnamitas das roupas baratas como responsáveis pelas miseráveis condições climáticas da Polónia. Tempo de depressões, desesperos, frustrações e suicídios.

Era meio-dia de ontem quando eu e o Mário saímos à rua, nevava como nunca tinha visto, um nevão horizontal provocado por um vento zangado que não deixava os flocos caírem no chão, vento gelado que espatifava a neve nos nossos rostos enquanto esperávamos pelo semáforo verde. A neve empapava os sapatos e por falta de limpeza atempada dos passeios começava a penetrar pelos pontos das costuras dos sapatos, atacando o dedo grande do pé e ensopando progressivamente a meia, primeiro fresquinho, depois fresco, frio, muito frio, gelado, podre de frio, gangrena. Olhámos um para o outro, duas fracas figuras tristes que se perguntavam que cargas de diabos teriam feito para merecer tal castigo, para serem tão duramente castigadas por uma intempérie severa que parecia não ter fim à vista. Olhámos um para o outro e desmanchámo-nos a rir das fracas figuras P1020405 tristes que fazíamos, nada valia tal mortificação e procurámos razões que a justificassem.

Recebo relatos de 28ºC a meio de Outubro num Algarve que celebra um verão velho, água do mar a 22º para ajudar ao body-board e ao surf na Barrinha. Eu vou aquecer leite para fazer um chocolate quente e preparar a próxima semana, é melhor nem pensar na matilha que ainda anda de chinelos e bermudas por Faro a rir-se de mim.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Esta não engole

Anda aí o povo todo doido por causa do que esta gaja fez. A ironia de quem tem um país exemplarmente devastado pela corrupção e crime violento a olhar para os defeitos de um outro, ou os eternos complexos entre o colonizado e a antiga metrópole.

Tem a importância que tem. Para mim, nenhuma. Se ainda fosse um dinamarquês ou um alemão a fazerem pouco de nós…

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Marsz, marsz Misha…

Regressei a Varsóvia. Está a chover e não tenho internet. Dão descida da temperatura até aos 7ºC para amanhã.

Se solto o mar que não trago no peito,
se largo a brisa e o sol insatisfeito,
se deixo a Ria a chorar no seu leito,
se perco a areia que quer o meu estar.

Se solto as ondas de sal contrafeito,
se largo as estrelas com quem me deito,
se deixo a cidade que me fez o jeito,
se perco a raíz que criou o meu ser.

Se venho do puro, belo e perfeito,
se saio de onde sabe bem viver,
e vou para onde o céu não sabe brilhar.

Se tudo faço com pleno pensar,
é porque sei que em ti quero crescer.
Pois eis-me!, Varsóvia. Dá-te ao respeito.

Assim se respira fundo e se expia uma alma.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Estranha forma de vida

amália Um leitor classificou o post anterior de “choradeira atroz” por eu me sentir num estado de pré-depressão, antevendo a escuridão que me aguarda nas ruas da capital polaca e os cabazes de frio que serão distribuídos diariamente nos próximos cento e tal dias. Escreve também o referido leitor que daqui por uns dias vou desatar a cantar odes a Varsóvia por não conseguir viver longe dela e que afinal de contas concluo que Varsóvia é a cidade da minha vida com a qual me irei casar e blablabla.

Outra leitora refere o sussurro das folhas, o cheiro da chuva, o ar fresco (chama-lhe gelado!) das manhãs, vinho quente com canela e as pernas esbeltas encaixadas em botas de tacão alto. Muito sinceramente, as pernas sim. O resto dispenso, principalmente o vinho com canela do qual não consegui tornar-me fã. Dispenso o frio da manhã, a chuva, a folha caduca, dispenso isso tudo. Varsóvia tem mil outros motivos de interesse e atrai-me por tantos outros fatores mas nenhum é mencionado nesta bonita descrição.

Estou pré-deprimido e pronto, pouco há que me possam fazer para que mude este estado de espírito. O mar explode em ondas alegres que me chamam para nadar, o sol não está tão radioso como no verão mas vai mantendo o céu varrido de nuvens densas e ainda não consegui vestir um par de calças sequer. Daqui a alguns dias esta paisagem será apenas lembrança e outra bem mais exigente surgirá diante de mim.

E será apenas isto razão para me deprimir? Talvez não, mas lembrei-me que a Dona Amália faleceu há 10 anos, aquele que era certamente o maior vulto vivo dum Portugal universal, a réstia do Império, a voz da Nação, a cara da Pátria. Amália era portuguesa em toda a sbettencourtua plenitude, na maneira como cantava o nosso país, nos cabelos e olhos morenos, nas formas pequenas tão lusitanas, na profundidade com que tocava burgueses e povo. Não há grandes diferenças entre a Esfera Armilar da nossa bandeira e o rosto de Amália, todos nós têmo-la na voz e ela era um pouco de todos nós. Às vezes imagino Camões a fazer letras para ela cantar porque um pouco de Portugal morreu com Amália e renasce sempre que ela canta o fado.

A Dona Amália faleceu há 10 anos… então, é isso que me deprime? Bom, se considerarmos que Portugal é Fado, Futebol e Fátima, se considerarmos que Fátima fica de parte devido ao meu ateísmo e que o Fado está orfão, sobra o Futebol.

  1. A seleção portuguesa está mais fora do Mundial do que dentro,  mesmo que nos qualifiquemos para o playoff é mais certo apanharmos a França e irmos de barco;
  2. A seleção polaca já não tem hipóteses nenhumas de ir ao Mundial, lá se vai a minha segunda equipa nesse torneio;
  3. O Sporting joga pior que o último classificado da 7ª liga de Madagascar, não faz rigorosamente nada para mudar o estado de coisas e a única voz que se ouviu foi para falar do fundo de investimento dum clube rival;
  4. A Legia vai com 8 pontos de atraso em relação ao Wisła e vai ver o campeonato por um canudo para não variar;

Perante a real e concreta perspectiva de ter 2010 como o pior ano futebolístico da minha vida, perante uma mudança de 20º centígrados nos próximos dias, perante isto tudo que ainda por cima é feito de livre vontade… ainda acham que é choradeira?

    domingo, 4 de outubro de 2009

    Antevisão

    tempo faro

    tempo wawa

    Como é que vai ser quando eu chegar à Polónia depois de ter constatado que a temperatura mínima em Faro é mais alta que a máxima em Varsóvia?

    Onde é que eu tenho os Prozacs?…