sexta-feira, 10 de julho de 2009

Só na Polónia

Sempre que tenho de viajar apanho enormes cargas de nervos com as malas. Primeiro, porque não tenho malas. Carrego a minha tralha em sacos desportivos, o que dá mau aspeto e é pouco prático. Toda a viagem que tenho de fazer com os alforges aos ombros eu ralho comigo mesmo e prometo que antes do próximo vôo tenho de comprar uma mala como deve ser ou, ao menos, um trólei para poder carregar a roupa com mais comodidade. Nada disso, o gajo é torto e nunca se lembra de Sta. Bárbara a não ser quando faz trovões*. Segundo, porque nunca sei o que hei-de levar e morro de angústia ao tentar antever qual vai ser o objeto que eu vou esquecer em casa, de que me vou lembrar assim que aterre em Faro e que será fundamental para os dias seguintes.

Imbuído neste triste espírito de zanga antecipada, passei as últimas horas desta semana a fitar os sacos abertos no chão da minha sala e a puxar pela cabeça para saber o que era absolutamente necessário levar para Faro. Às primeiras horas do dia de hoje já estava a empacotar a roupa que tinha secado durante a noite e a falar com alguns amigos no MSN. Nisto toca a campainha. "Que diabo, pessoas às 9 da manhã? Será a minha senhoria que está com receio que eu me exile no Algarve e que não pague o resto da renda?"

pieniadze Intrigado, abri a porta e deparei-me com um largo polaco, uma mala imensa a tiracolo com um símbolo da Poczta Polska e um olho azul claro muito sério a perguntar-me se eu era o Pan Nuno Coś Tam Bernardes. À minha resposta afirmativa segiu-se uma corrida de palavras em polaco das quais só percebi as duas últimas, qualquer coisa relacionada com impostos. Pensei logo: "Pronto, agora que eu vou de viagem é que estes vampiros vêm sugar-me os últimos vapores de złotys" mas o homem jogou a mão ao bolso, sacou de um grosso maço de notas de 100 paus e começou a contá-las depois de me ter dado canhoto dum recibo para eu assinar. Percebi que se tratava do meu PIT e que "aquilo" era... o meu reembolso!

Nas declarações de imposto nós podemos determinar o número da conta bancária para onde nós queremos que o reembolso seja direcionado, eu fi-lo contando que o eventual reembolso fosse transferido para a minha conta. Eis que este senhor veio bater-me à porta, 10 mins antes do taxi chegar para me levar ao aeroporto, e deixou-me um belo bonus completamente inesperado para que eu viajasse mais descansadinho e sem receios de falta de fundos (porque ganhar złotys e gastar euros esfola um gajo em menos dum farelo). Agradeci incrédulo, corri ao banco para depositar a guita e agora recordo o episódio partilhando-o com o leitor, sentado num terminal do Fryderyk Chopin em frente a uma esbelta morena que me faz concluir que nie ma jak w Polsce.

EDIT: Ao fim de apenas 30 minutos no aeroporto de Luton afirmo, reafirmo e confirmo que não há nada como na Polónia!

2 comentários:

João Salgado disse...

gostei muito deste post.. realmente na Polónia tudo é possível.. eu sou um habitual leitor deste blog e, tal como tu, sou um profundo defensor e admirador da Polónia..(fiz Erasmus em Lodz no ano passado)..

um abraço e continua a esvrever que assim vou matando algumas saudades..(há um ano que não piso o solo polaco)

Kocham Polskę

Anónimo disse...

BUZEK