quinta-feira, 11 de abril de 2013

O país das estátuas gigantes

No tempo da Guerra Fria era costume nos países do Pacto de Varsóvia erguerem-se monumentos às grandes personalidades do regime. Figuras de Lenine em Budapeste, enormes estátuas a Ceaucescu em cidades romenas, um portento de mármore em honra a Estaline em Praga. Uma prática comum em ditaduras cujo líder quer ver a sua imagem adorada e perpetuada, recordamos as estátuas de Saddam Hussein derrubadas por vontade dos próprios iraquianos ou as abismais réplicas de Kim il-Sung e Kim Jong-il - fundador da Coreia do Norte e filho / sucessor respetivamente. O culto da imagem do Chefe de Estado, a imagem vigilante, o olho grande sobre a população como que a dizer 'durmam (in)tranquilos porque estou atento'. Essa prática nunca colheu adeptos nos países democráticos e mesmo na Polónia se assistiu a um derrube de estátua aquando do processo de democratização do país, concretamente o monumento a Felix Dzierzhinski que existia na Plac Bankowy e que dava nesse tempo o nome à praça (Plac Dzierżyńskiego). Os tempos mudaram, a Polónia democratizou-se, humanizou-se, civilizou-se até mas manteve alguns dos tiques comunistas em vários setores da sociedade principalmente num que talvez fosse o mais insuspeito de todos neste campo - a Igreja Católica.

É sobejamente famosa a forma como a Igreja manipula a informação e o raciocínio de uma parte significativa da população polaca, tanto que 30% de polacos continua a acreditar que Smoleńsk foi mesmo atentado porque o presidente Lech Kaczyński detestava os russos e por isso o Kremlin queria
limpar-lhe o sarampo. É também conhecida a estapafúrdia estátua de Jesus Cristo erigida sabe-se lá com que fundos nos arredores dum vilarejo de 20.000 almas chamado Świębodzin, um mamarracho de 36 metros de altura que até ficou direcionado... para a Alemanha. Pois a autoridade-sombra volta a ser notícia pela iminente inauguração em Częstochowa duma estátua de 14 metros de João Paulo II, objeto considerado a maior estátua do mundo ao papa polaco, obra polémica na ótica de vários arquitetos devido à escala, aos materiais utilizados (plástico) e ao seu posicionamento que obstrói uma das principais entradas rodoviárias da cidade.

Częstochowa é a capital espiritual da Polónia, cidade gémea de Fátima, e é lar de 235.000 pessoas. Talvez seja o único lugar onde tal construção tem cabimento mas começo a ficar preocupado com as preocupações dos polacos, protestam que os hospitais não têm meios e que as estradas são das piores do continente porém canalizam uma pipa de massa para este tipo de aquisições perfeitamente dispensáveis. Fica uma pergunta no ar para alguém me esclarecer, qual a diferença em conceito entre as estátuas acimas mencionadas e estas recentes levantadas em solo polaco?

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