segunda-feira, 19 de abril de 2010

Polónia d.K.

meia-hasteComo se não bastassem todas as patifarias que o Destino fez à Polónia, ainda tinha de vir um vulcão islandês ensombrar o funeral do casal presidencial, vulcão esse que projetou uma tal quantidade de cinzas na atmosfera que obrigou a que o espaço aéreo polaco fosse inteiramente fechado à aviação comercial abrindo apenas exceções aos convidados para as exéquias fúnebres. Porém, muitos dos líderes europeus e mundiais que tinham confirmado presença em Cracóvia tiveram de cancelar a agenda devido à impossibilidade de voar desde os países onde de encontravam: Angela Merkl ficou retida em Itália, Obama não conseguiu chegar à Europa, o rei Carlos Gustavo não saiu da Suécia bem como o Príncipe Carlos que não pôde abandonar o Reino Unido. Saliente-se a atitude do presidente russo Dimitri Medvedev que arriscou a viagem de avião e as decisões das comitivas ucranianas, bielorrussas e checas viajaram para Cracóvia de carro. Curiosamente, Cavaco Silva estava retido em Praga, fez uma viagem de automóvel até Estrasburgo para regressar a Lisboa e não considerou dar um pulinho a Cracóvia desculpando-se com “problemas logísticos”. Deu a impressão de que não tinha mesmo vontade de prestar homenagem ao congénere polaco e ficou mal na fotografia, afinal eram apenas 4 míseras horas de carro.

A Polónia finalmente cumpriu o seu luto não sem que houvesse algum carnaval em torno do sucedido e exagero de declarações e atos. Desde logo a teima em associarem a extraordinária sequência de coincidênciasvelhinhas trágicas com conspirações russas, alguns polacos terão sempre os russos como inimigos eternos e não lhes dão o benefício da dúvida mesmo após o comportamento exemplar que Moscovo teve no decorrer desta semana. Putin envolveu-se pessoalmente na investigação do acidente, Medvedev disponibilizou a Varsóvia todos os recursos do estado russo desde peritos, equipamento técnico, psicólogos. Felizmente alguns altos responsáveis da nação reconheceram o gesto simpático do Kremlin e registou-se uma mini-cimeira entre Medvedev, o primeiro-ministro e o presidente interino polacos Tusk e Komorowski, uma reunião privada que durou meia hora e que teve lugar em Cracóvia durante o dia de hoje, uma reunião que pode determinar o princípio duma nova etapa na relação entre Rússia e Polónia.

pilsudskiego E o país respirou fundo. Tempo de levantar a cabeça, olhar firme para o futuro depois de Kaczyński e voltar à realidade depois duma semana de torpor e dormência onde as emoções falaram bem mais alto que a razão. O aeroporto da capital já reabriu ao tráfego aéreo, os varsovianos invadiram esplanadas e o parque de Pole Mokotowskie de bicicleta e patins, os websites vão voltar as suas cores habituais e as pessoas vão regressar à rotina, recuperando do trauma com a ajuda dum sol radioso que vai apoiando o povo sedento de normalidade. Já vai sendo tempo de esta gente voltar à Terra porque o mundo não pára, muito menos para chorar.

2 comentários:

Paulo Soska Oliveira disse...

O presidente da Rússia não se chama "Eduard Medvedev"...
Chama-se Dmitiri...

PM Misha disse...

onde é que eu fui buscar essa? q:O
obrigado.