Para falar a verdade, o plano não era mais que um jantar e um copo, coisa tranquila e sem muita variação porque o dia seguinte ia ser exigente e foi nessa base que o pessoal se preparou. Ao princípio a fome determinou que chegássemos à pousada, arreássemos as coisas e arrancássemos para o restaurante do costume devorar os bifes com dois dedos de altura que eles normalmente servem, mas tivemos de esperar pelo Fava que fez a viagem por outra rota. Também a morosa viagem pedia um duche que renovasse a pele e o espírito e por isso reivindiquei banho ainda que eles protestassem. Borrifei-me para a opinião deles, enrolei toalhinha à cintura, champô e chinelos, barbeei-me e voltei fresco como uma alface quando, qual não era o meu espanto, vejo os companheiros de quarto, Fava, Giga e Rui, a puxarem das bolsinhas dos cosméticos e a prepararem-se também para lavarem as partes, os manhosos viram que era boa ideia e foram refrescar-se. Eu avancei com o Dani para o restaurante e servi-me duma cervejinha.
Não foi longa a borga. O Dani, graças aos conhecimentos adquiridos durante o período que trabalhou em Cracóvia, conseguiu infiltrar-nos num dos bares mais elegantes masiada desproporção homens/mulheres, uma festa do bombeiro por serem tantas as “mangueiras” na boîte. Juntou-se o desgosto de não se poderem ver aquelas polaquinhas carinha de porcelana, cabelos de mel e pernas de mármore de que rezam os manuais com o cansaço duma noite mal dormida e de uma viagem cheia de trancos e solavancos para que a impertinência começasse a tomar conta do pessoal e que todos os irlandeses, espanhóis e tropa do género incomodassem mais do que deviam. Ainda virei um par de vodcas-Red Bull para estimular o organismo e motivar o miolo mas o cadáver estava a precisar de cama, às 3:00 atirei a toalha ao tapete saturado daquele mar de homens e bazei para a pousada. Queria descansar, queria dormir para estar preparado para a invasão à Ucrânia, os Lusitanos em terra de Cossacos, ia ser uma deslocação enorme, exigente e cansativa e precisava de estar em forma.
Deitei-me e rolei na cama vezes sem conta. O Red Bull não me deixava adormecer, fazia envolvimentos Coentrão-Ronaldo, marcava cantos para a cabeça do Bruno Alves, constituições de equipas, Postiga ou Almeida. Rebolava-me desperto e desesperado, o Fava roncava, o Giga parecia uma múmia, o Rui não se mexia, todos a recuperar dos quilómetros e das cervejas do dia e eu naquela rabugice sem me dar dormido com mais quase 400km para fazer no dia seguinte.
O sol já entrava no quarto e clareava as paredes, mais um obstáculo ao sono. O trompetista tocava aos quatro pontos cardeais pontualmente a cada 60 minutos, agarrava-me à lucidez e não me permitia cochilos. O dia cada vez mais claro, eu cada vez mais irritado. Toca o relógio, eram nove da manhã. Os moços acordam cozidos em sono e álcool e eu ainda não tinha pregado olho. Não importava, tínhamos de nos despachar porque a Ucrânia, essa terra longínqua e misteriosa onde jogava Portugal, não era fácil de penetrar.
1 comentário:
Turistas cromos haverá sempre em qualquer parte. Nao acho que sejamos os piores.
Concordo com facto de termos compatriotas na Polónia que gostam de mostrar que tem dinheiro. Tenho amigos do género tendo mesmo de evitar sair com regularidade com eles por causa disso. Ja para não falar dos que se gostam de mostrar nos bares e pubs a rirem-se bem alto e arrotarem para chamar a atenção. Dessa espécie de tuga eu evito cruzar.
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