terça-feira, 12 de junho de 2012

Crónicas de Lviv - 1

Este é um ciclo de artigos consagrados à viagem que eu e alguns companheiros (Giga, Rui, Dani, Pimpão, Fava, Xavier) fizemos de carro a Lviv na Ucrânia para assistir ao vivo ao Portugal – Alemanha. Como se tivéssemos ido na Nau Catrineta, há muito para contar

Cu de JudasA principal desconfiança tinha a ver com a estrada porque a lendária reputação das péssimas estradas polacas já chegou a Faro e estes rapazes vinham avisados do martírio que é fazer qualquer viagem rodoviária neste país. Porém não se assustaram com o primeiro troço, Varsóvia – Radom, 100km feitos em via rápida e a ouvir relatos de futebol em polaco, com uma paragem a meio para umas frescas de ocasião e para acompanhar a última vintena de minutos do jogo inaugural do certame, o Polónia – Grécia. Preços de amigo por estarmos já fora da Cidade Capital, combustível mais barato, tanto o do carro como o do fígado, bom para quem ganha em zlotis e melhor para quem traz euros. Cerveja bebida, intervalo no jogo, os carros cheios de novo em direção a Kielce.

Começa o festival das estradas polacas só de uma via para cada lado, faixas estreitas e congestionadas por camiões e condutores mais lentos. Os polacos dizem que são bons condutores porque têm más estradas, nunca compreendi essa teoria mas comecei a perceber do que falam Nacional 7 quando vi a fazer ultrapassagens em traço contínuo, travagens depois do último instante, colocarem-se entre o carro da sua mão e o camião que vinha em sentido contrário num constante desafio, chamando o acidente, testando a paciência da morte. Eu vi-me na contingência de pisar duas ou três vezes o traço, confesso, mas se não fosse assim tinha demorado o dobro do tempo na viagem e quando estamos em Roma temos de fazer como os romanos. Não aconteceu nada de especial, nenhum susto, o risco foi calculado e assim por entre vilas e aldeias, chegámos ao último terço da viagem, o troço Kielce – Cracóvia.

Mapa da Nacional 7 Aqui tivemos um rebuçado antes do limão, uma razoável fatia do que se pretende que venha a ser a autoestrada Varsóvia – Cracóvia já está disponível para os automobilistas e foi uma alegria carregar no pedal até ver o ponteiro roçar os 160km/h, um escape, um alívio daquele trânsito lento e pastoso das aldeias polacas. O irmão do Giga até exclamou de contente “Epá! Afinal as estradas não são assim tão más” Cedo piaste, logo os sinais das obras, estreitamentos de vias, baias e pinos, rotundas provisórias e o velocímetro a baixar para os 60km/h. Um desespero, acentuado pelos radares de controlo de velocidade que existem a cada 5km e que te fazem travar quando vais lançado para compensar a seca anterior. Uma sensação de coito interrompido, uma trampa. A ligação a Kielce está em pantanas, é um estaleiro, as máquinas de desbaste e terraplanagem descansam enquanto os operários vêem a bola, Kielce vê-se ao longe, enevoada e cinzenta, quer que nós passemos por lá, que falemos com ela porque ela não recebe tantos visitantes assim mas nós não temos interesse nenhum no desvio, ela também não tem nada para nos dar que nos faça falta e nós continuamos naquela procissão de gado sobre rodas, cumprindo obedientemente aquele ritual de fazer perder a paciência aPiso de estrada polaca um santo. Mas tem de ser e o que tem de ser tem muita  força, passámos Kielce e entrámos na pior parte que são os últimos 20/30km até Cracóvia, uma sucessão de buracos, curvas apertadas e caminhos de cabras, piso abatido pelo peso dos TIR e pela má qualidade do asfalto da Estrada Nacional 7 que rasga a Polónia de norte a sul, de Gdańsk a Chyżne na fronteira com a Eslováquia, incríveis os acessos à capital cultural da Polónia, inacreditável o contraste entre a beleza da cidade e a misérias que são os caminhos que dão a Cracóvia pelo norte. Depois de muitas paragens para o inevitável xixi, cigarros anti-stress e pausas para espreguiçar a moleza, cansados e maçados atingimos o nosso acampamento em plena praça do mercado principal. E a cidade do Wawel continua linda, o cansaço passou, era tempo de tomar banho, mudar a farpela e apalpar o pulso à noite de Cracóvia.

Cracóvia

3 comentários:

Anónimo disse...

grande viagem.... so falta um detalhe importante..... o radar tirou me a foto a saida de Varsovia... foto original com o cachecol de Portugal no tablier do carro.... foto para ser enquadrada num precioso quadro. :) :) Daniel

Nuno Miguel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
PM Misha disse...

Quem te manda ter carro com matrícula polaca? q:P