Assuntos familiares trouxeram-me a Faro, uma viagem que não estava na ideia mas que calhou bem justamente pelo imprevisto. Foi uma surpresa para quase todos, família, amigos e eu próprio. É escusado mencionar o prazer que dá voltar a Faro e aos hábitos antigos, ir ao Estádio de São Luís assistir a mais uma etapa da viagem de regresso do grande Farense à II B – mesmo com a estúpida derrota contra o Quarteirense do meu amigo Bruno Grandão, ele que é mais Farense que muitos filhos de Faro e até chorou quando foi dispensado pelos leões do S. Luís. As imperiais fresquinhas e cheias de vida que o Vitinha serve, o rir à do Rogerinho ou em torno das mesas de snooker do Bola Branca, o cheiro do mar que tanto me contenta os pulmões, o dérbi que foi contado na primeira pessoa no artigo acima e as comidinhas algarvias que tantas saudades dão quando estamos longe delas.
E não há comidinha dessa que se preze que não leve coisas do mar, marisco, peixe ou mesmo o próprio sal que em muitas especialidades algarvias é até usado na forma de flor de sal. Os almoços na casa da minha tia são lendários e o peixe sempre teve papel principal, não fosse a dita casa na Praia de Faro, voltada para a Ria Formosa onde se apanha berbigão, amêijoa e lingueirão à mão, rabos de pescada cozida ou cabeças de pargo assado no forno cuidadosamente dissecados pelo garfo minucioso do meu tio, não raro se apanhavam meia dúzia de gulosos comensais de roda dos tabuleiros ou das travessas de carapaus e sardinhas assadas, farras gastronómicas patrocinadas pelo João da Farmácia, eventos que fizeram escola e que criaram a tradição de se comer bom peixe na casa da minha família.
Isso (e cinco gatos) implica que se tenha sempre peixe fresco em casa, implica também que se vá de propósito ao supermercado quando falta peixe, momento que aproveito para analisar preços e produtos que hajam em Portugal que façam falta na Polónia. Chegados à secção da peixaria deparo-me com esta montra.
Peixe do Atlântico em barda à escolha do freguês, peixe para cozer, fritar ou assar. Coisa que não apanhamos na nossa terra da Europa Central, quantas vezes não sonhei com uma posta de pescada cozida com batatinha e feijão verde, com carapaus assados com salada de tomate ou conquilhas com molho de coentros. Mas não, na Polónia não se apanham montras destas e o peixe tão amado pelos portugueses cai com escassa regularidade nos nossos pratos. Vendo esta imagem de frescura marinha e sabendo o que me espera nas peixarias de Varsóvia, a próxima vez que for às compras tenho a certeza que vou fazer a pergunta que dá título a este artigo, entre dentes para que ninguém perceba.
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