terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Os munines, e um dos deles, em terra alheia

Na minha terra há muitos que comentam a minha mudança para a Polónia e que prometem visitas, curiosos sobre o modo de vida de um dos deles em terra alheia e interessados em saber como é que o tipo se adaptou a uma realidade tão diferente da algarvia. Há muitos que prometem mas poucos que cumprem, muitos que apontam dias no calendário mas poucos que confirmam a intenção, há até quem jure a visita e que acerte datas, poupe notas e marque voos para depois não aparecer no dia tal às horas tal como combinado sem dar mais cavaco cedendo à hesitação de última hora do tipo "agora vou eu bem daqui para aquele fim de mundo?". Compreendo-os e não os critico, também sou algarvio e sei que primeiro que o algarvéu dê um passo é preciso um batalhão de peritos convencê-lo que sim senhor, vale a pena sair do seu confortável cadeirão e conhecer o que se passa do outro lado da cerca. Não sei se a constante promessa que alguns (muitos, até) me fazem de que vêm visitar-me é um engodo para eu manter a ilusão, para mitigar a saudade ao emigrante que está lá fora a lutar pela vida longe do regaço familiar, um ato de piedade, essa mentira branca tão portuguesa de dizer que sim só para o outro se sentir bem. Também não me queixo, sei o que é o comodismo algarvio e também não me sinto tão longe de Portugal e do Algarve para que implore por sacas de bacalhau, talhas de azeite, tartes de alfarroba ou chouriços da terra, falo todos os dias com os amigalhaços e a saudade mata-se diaramente com a internet e com a tv por satélite. Além disso há gente que honra a palavra e não tem medo de se meter num avião, penetrar nas profundezas da Europa de Leste e conhecer o local de vida e de trabalho deste vosso escriba, casos dos ilustres parceiros de petiscadas e mesas de bar farenses, amigos da velha guarda, leoninos colegas de Liceu, Giga e Capitão Favinha.

Estes meus dois camaradas honraram a minha festa de aniversário com a sua inestimável presença e Varsóvia brindou-os com um leque de noites de regabofe como só ela consegue, uma quarta-feira imperial, uma quinta mais comedida devido ao rir excessivo da noite anterior, uma sexta de arromba com direito a rodízio brasileiro, DJ amigo e farra até de manhã e um sábado ao mais alto nível na companhia de outros portugueses da comunidade. Ao todo cinco excelentes dias nos quais estes dois munines descobriram mais pedaços de Varsóvia do que aqueles que vêm nos guias turísticos. Eu e a Ewa acompanhámo-los nas borgas, nos passeios, nos jantares e mostrámos-lhes o nosso futuro castelo que já quase que tem janelas e outros lugares de dízimo obrigatório (o tiro de vodca pura e fria à do sr. Roman é imperdoável) cirandando em sacerdócio ludico-etílico-gastronomico. No último dia até tiveram direito a uma peladinha no magnífico sintético de Bemowo onde ganharam mais conhecimentos para as visitas futuras e onde se provou que um português ressacado joga melhor à bola que dois polacos sóbrios juntos. Os meus amigos saíram agradados com o que viram, contentes com o que tenho conquistado e satisfeitos com a colheita que farei num futuro próximo numa cidade que evidencia pujança e índices de desenvolvimento há muito arredados de Portugal. Sentimentos genuínos sem inveja nem ciúme, apenas contentamento por assistirem ao triunfo de um dos deles em terra alheia.

O meu triunfo também é o deles, o das pessoas que sempre disseram para eu ir em frente, que nunca duvidaram e que têm estado comigo nestes quatro anos de Polónia. Celebrar o meu aniversário com estes meus irmãos (e com mais os formidáveis amigos que fiz em Varsóvia), proporcionar-lhes os passeios que tiveram e os momentos que viveram (finalmente consegui tocar para público de Faro!) foi o melhor presente de aniversário que podia ter recebido e olhem que este ano recebi prendas altamente! Pena que tantos nunca saiam debaixo do alpendre algarvio e não troquem por um fim de semana o medronho pela vodca, só lhes fazia bem aos horizontes.

3 comentários:

Peruzzi disse...

Como eu te compreendo caro amigo. Estou em Lisboa há 12 anos, e sinto o mesmo a uma escala completamente diferente. Não sabes quantos amigos me dizem quando lá vou: "Epa, tenho de ir passar um fim-de-semana contigo a Lisboa..." Muitos deles, em 12 anos... nem uma vez cá vieram...
Eu vou honrar a minha palavra de que te irei visitar. Quando te der uma data, não falharei.

Ana disse...

:) Nada tem a ver com o ser-se algarvio, pois eu sou do centro e é a mesma treta... Facto é que, com o dinheiro que as pessoas gastam a visitar uma cidade europeia fria e semelhante a outras que já conhecem, os nossos amigos preferem gastar o mesmo dinheiro numa ida a uma praia de Espanha qualquer ;) Onde o sol e a comida abunda.

Já lá vao os tempos que me iludia. Comprámos sofá cama de casal e tudo! Que foi usado em 4 anos umas...4 vezes. Mas os que nos visitaram, sabiam para o que vinham: nao apenas para conhecer uma cidade nova, mas para estar connosco. E sao essas as visitas que valem a pena ;)

Que bela prenda de aniversário que tiveste! Muitos parabéns e que para o ano haja mais (aniversário e visitas!)

pOnt3s disse...

primaço, não digo que faço ou deixo de fazer uma visita...
mas se eu tiver oportunidades financeiras, espero que tenhas sitio para eu dormir, porque podes ter a certeza que faço-te uma visita...

da mesma maneira que nos fizeste quando eu era pequenino e apareceste na nossa casa quando vivíamos em França... conta comigo... pode nao ser hoje... pode nao ser amanha... mas sei que vai acontecer ;)

abraço cheio de saudades do primo ;)