O meu conceito de saudade está totalmente mudado, não é que não tenha saudades de Faro quando estou em Varsóvia mas as saudades de Varsóvia que sinto quando estou em Faro são maiores. Se calhar porque são cada vez mais as coisas que me prendem a Varsóvia do que as que me puxam para Faro e é disso que se faz a minha opção de permanecer em solo polaco por tempo indeterminado. O gosto de voltar à terra natal não se pode medir nem pesar, já contei como é indescritível o prazer quase comovedor que me dá aspirar o ar da Ria Formosa quando saio do avião, sentir o calor húmido e doce a colar-se à pele, o ruído manso do vento a acariciar as folhas das palmeiras que estão do lado de fora do aeroporto, uma série de situações muito agradáveis que conferem sempre a sensação de que Faro é um lugar único no mundo onde tudo é familiar e onde (quase) todas as pessoas são como eu.
Mas as saudades de Varsóvia começam a sentir-se ao fim de três ou quatro dias fora, Faro é uma cidade pequena onde tudo se sabe em 24 / 48 horas. É este o tempo suficiente para visitar toda a família, falar com todos os amigos e saber das últimas desgraças ou acontecimentos da terra. A malta fala da crise e da falta de melhorias a curto-médio prazo e esse discurso acorda-me uma alergia, uma reação negativa que eu não sinto quando estou na Polónia. É o reflexo da falta de confiança que os portugueses sentem no seu País e que os algarvios sentem nos seus representantes que, por exemplo apoiaram a instalação inconstitucional de pórticos de portagem num troço de via rodoviária que foi construído com dinheiros comunitários – explicando: a parte da Via do Infante que vai de Albufeira à fronteira do Guadiana foi feita com dinheiro da UE e por isso o Governo de Portugal não pode cobrar a utilização dum bem para o qual não pagou, seria o mesmo que eu cobrar a renda dum apartamento que não construí nem comprei. Não admira pois os atos de vandalismo e de sabotagem que têm sido perpetrados contra as estruturas de portagem da A22, compreensíveis e até mesmo justificáveis. Houve também coisas muito boas, novas amizades que fiz e velhas que revi, qual das duas a melhor.
Então regressei à Cidade Capital com a habitual constipação portuguesa, outra inevitabilidade das noites húmidas da Ria, e aterrei numa chuvosa tarde de dezembro com aprazíveis 9ºC, confirmação de que é a estação outono-inverno mais quente desde que vivo na Polónia. Em conversa com o taxista este confessou-me que a temperatura está morninha mas que os dias estão feios, sempre nublados. Acho que ele prefere neve e frio a estes dias indecisos que não são pão nem bolo, os polacos gostam mais de dias definidos do que coisas a meio-termo, ou bem que frio polar ou bem que calor, isto de não estar frio mas também não estar calor é que não pode ser. Eu não me queixo de não haver neve, pode ser bonito ver a cidade toda tapada por uma nívea camada mas é muito chato ter os sapatos e os tapetes do carro sempre sujos, dar fim das solas com o sal que os trabalhadores da Câmara Municipal espalham para a derreter, por isso é mais confortável viver e trabalhar na cidade se não tivermos essa gosma gelada nos pés.