sábado, 18 de junho de 2011

O sol e a rave

Não começa fácil o dia, depois de uma noite esticada quase até ao alvor devido ao aniversário do meu irmão John, um tipo bom como já não se fabricam. Não porque haja necessidade de grandes rescaldos de manhã seguinte, foram só duas ou três à saúde dele, mas porque tal me roubou um casal de horas de sono que são vitais para o meu chassi, carcaça que dá cada vez mais sinais de impertinência com o passar dos quilómetros. A iminente entrada nos "entas", mais avisada depois do John ter cumprido 39, é sentida cada vez com mais intensidade, no osso e no rosto, apesar duma genética simpática que ainda não se lembrou de semear grisalhos nem rugas, o que me dá um gabo tremendo quando a questão da idade é chamada à ordem. Mas o que tem de ser tem muita força e hoje ao fim de suadas três horas de sono eu já estava de pé a fazer um café com leite quádruplo para abanar os neurónios, água fria para despertar os sentidos e meter o organismo em sentido.

É sempre a mesma música no metropolitano, a malta ataca a carruagem à louca e disputam as cadeiras vazias como se cada lugar fosse um saco de farinha distribuído pela ONU no Darfur, eu abstenho-me de participar na contenda e aguento heroicamente a viagem mesmo com os meniscos a rangerem e os quadríceps a urrarem e observo a suave pressão psicológica que os mais velhos exercem sobre os mais novos para que estes lhe cedam o seu lugar - ficam de pé, em frente e a curta distância das pessoas e aproveitam os solavancos da carruagem para cutucar os passageiros de forma subtil convocando-lhes a atenção até que este se sintam incomodados bastante  que se levantem para a senhora agradecer sorridente o gesto como se fosse surpresa. Eu já aprendi a manha e quando me sinto mais preguiçoso faço-me de parvo e finjo que estou a dormir, fecho os olhos e podem vir para cima de mim com um pau que não me fazem tugir nem mugir.

Sexta é convencionalmente um dia casual nas empresas, o dia da semana em que as pessoas deixam normalmente o fato e a gravata em casa e vão trabalhar em roupas mais descontraídas ilustrando o estado de espírito das gentes. Aqui diz-se que “sexta-feira é o primeiro dia do fim de semana” e faz-se por isso, às vezes de forma um pouco exagerada como atesta as duas festas que me foram agendadas para o mesmo dia e que me fazem carregar a tralha – que não é leve - dum ponto para outro. Não é uma circunstância muito agradável principalmente se tivermos em consideração aqueles paupérrimos 180 minutos que passei na cama, decididamente não o melhor estágio para uma noite de som.


E realmente não foi. Dois locais transbordando de pessoas, o último um tremendo espaço ao ar livre na beira de um castelo situado no parque de Ujazdów, muita vontade de receber as batidas do sul associadas à muita vontade que o Sul tinha em lhas dar, pulos, muitos pulos e muitas garrafas de água bebidas, toalhas encharcadas do suor que o público arrancou ao DJ extraíram as últimas moléculas de energia que ainda havia a começaram a armadilhar o trabalho, os dedos contorciam-se de cãimbras quando os cursores rodavam, as pernas suplicavam por menos saltos e soltavam faíscas nervosas para acalmar o desempenho, todo um estado geral de iminente derrocada segurada por agrafos e palitos de fósforo mas as pessoas pediam mais e mais, assobiavam, batiam palmas, incentivavam a mais daquele estranho mas viciante ritmo que nunca se tinha ouvido em Varsóvia e exigiam mais potência e eu decidi dar-lhes o que eles pediam até que chegasse o (meu) fim.

O fim, esse, foi o que o leitor pode constatar na imagem em baixo. Estava eu já em modo tilt num palco de neons numa espiral autoconsumidora a dirigir uma multidão dançante quando chega um convidado ilustre, daqueles de pompa e salamaleques. Tinha chegado o Sr. Sol para dançar conosco e a rave explodiu de vez!

O Senhor Sol

Hoje não me levanto da cama.

1 comentário:

Ricardo Martins disse...

Amigo é daqueles casos para dizer "esta noite nao me deito"