segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

And the beat goes on

O Inverno ainda vai a meio e já os polacos perguntam quando é que ele se vai embora. Falar do tempo é condição obrigatória nos transportes públicos, em cada estação ou paragem de autocarro ou elétrico entram passageiros que barafustam por causa do frio que se tem sentido ultimamente. Esta manhã o meu termómetro envergonhou-se com os -10ºC que me ofereceu e apesar da temperatura ter subido até aos -6 o prognóstico é muito reservado e não prevê grandes melhorias. Ainda estamos em Fevereiro e o frio está para durar.

Nestes dias a paisagem da capital da Polónia é predominantemente branca, um branco entrecortado pelo cinzento das ruas e carris do elétrico ou picotado pelas vestes escuras das pessoas como uma stracciatella urbana. Monos de roupas sombrias erram pelas artérias de Varsóvia metidos com os seus próprios pensamentos, enfiados em gorros e sobretudos e arfando penosamente à medida que patinham nas poças de neve líquida que se vão formando nos passeios. Narizes vermelhos acusam o incómodo daqueles que, mesmo habituados aos rigores do Inverno continental, se sentem desconfortáveis e incomodados com o frio. O elétrico chega ruidosamente e recebe-nos com o aquecimento barulhento no máximo da ineficácia, fora do elétrico estão -6 mas dentro da carruagem a temperatura não deve passar dos 0ºC.

Uma certa lástima vai apossando-se de mim esta manhã, ao que não é estranho o facto de ser segunda-feira. Um olhar triste para o níveo horizonte tenta descortinar um raio de sol estival nas praias do Algarve, uma churrascada na Ilha do Farol, uma imperial no Zé Maria, um futevólei de pôr-do-sol, uma festa no barco do Columbus, um cigarrinho em frente das luzes do aeroporto. Consulto a agenda para verificar se tenho as reuniões todas acertadas, se tenho tempo suficiente para me deslocar entre os respectivos locais, procuro distrair-me e anular o peso grave que o Inverno polaco impõe à gente. Abro a boca de enfado e respiro fundo, ajeito o saco do portátil e fecho os olhos. Estou a voar no tempo, rodo os ponteiros do relógio para trás e aterro na Ubi, em Tavira. Festa da Espuma, gente aos magotes, amigos em barda, povo histérico, alegria a montes.

Lentamente a pele dos lábios vai-se esticando, desenhando um sorriso contrariado. Abano os pensamentos melancólicos e procuro fixar-me nas tarefas do dia... mas o leitor de mp3 empurra-me para a festa algarvia. Não consigo resistir à tentação de recordar as noites do DJ João Paulo, os hamburgers do Vladi na Quinta do Eucalipto e o carro do Basic aos pulos na Via do Infante ou as miúdas do Gravata no banco de trás. Tamborilo os dedos na cadeira da frente e sorrio agradecidamente ao sol cúmplice que se junta na dança e celebra, comigo, a vida.

Não há hipótese, este som dá vida aos mortos.

Mê Paka, os Bi-Section podiam ter sido grandes...
 

3 comentários:

Anónimo disse...

Que bem sabia um pouco de sol vindo dos arredores do Atlântico! Mas como não temos disso o melhor mesmo é ouvir sons de lá.
Já agora pelas minhas paragens temos uns 56cm de neve. Dá para ir aprendendo a "skiar" numa colina aqui perto de casa. Quanto cm frio é mesmo tramado... As minhas ceroulas saíram do armário.

Fernando Pires disse...

belo post.. :)

PM Misha disse...

aí no sul faz sempre mais frio do que em varsóvia, zé. talvez por isso (e pela minha irredutibilidade) as minhas ceroulas ainda não saíram do armário. vamos ver até quando resisto q;)

fernando,
dzieki. às vezes dá-me pra isto...