sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Para o meu grande amor


Querido Sporting,

Espero que esta carta te encontre bem e digo isto sem ironias porque há muito tempo que não te vejo, desde que me zanguei contigo e deixei de te prestar atenção. Tens sido mau para mim, tão injustamente mau que me desiludi, desenganei-me e de tão zangado que estava abandonei-te. Por isso te escrevo, para te pedir desculpas.

Não sei o que hei-de fazer contigo, sinceramente não sei, se ponho uma pedra definitiva sobre a nossa relação e às vezes é o que me dá vontade depois das partes que me tens andado a fazer, ou se te dou mais uma oportunidade como aqueles pais de filhos toxicodependentes que lhe desculpam todas as avarias "porque ele não é má pessoa". Tal como esse filho drogado, eu sei que tu também não és má pessoa, bem pelo contrário, és uma pessoa excelsa e magistral, nobre e distinta, tens princípios e valores que partilho inteiramente, possuis um carisma tal que te torna irresistível logo quando te conhecemos, és garboso e excelente, tens tudo o que se procura em alguém como tu. Mas tornaste-te numa coisa que não entendo, numa vulgaridade, tornaste-te normal, comum, incógnito. Parece que largaste tudo sem avisar para fazeres uma road-trip de mochila às costas, terás lido o Patagonia Express? Não me disseste para onde ias nem quando voltavas, eu esperei por ti, fiel como um cão, todos os jogos eu compareci - na medida das minhas possibilidades, percebes? - na esperança que aparecesses, olhei sempre no horizonte para ouvir aquele teu tropel assustador que fazes quando és senhor de ti e que amedronta os teus oponentes... mas nunca vieste e tantas vezes não vieste que me fui embora. Por isso te escrevo, para te pedir desculpas.

Conhecemo-nos há quase quarenta anos e desde sempre estive contigo, dezoito anos de provações mas estoicos prosseguimos a caminhada, uma que só tu sabias quando ia acabar mas eu nunca reduzi a minha fé em ti. Explodimos de gozo em lágrimas e gargalhadas em maio de 2000, lembras-te?, que fomos os dois (e mais uns milhares) para a Baixa de Faro e eu andava aos saltos na capota do meu carro, histérico, com a camisola do Schmeichel? E dois anos depois, quando os teus dirigentes tiveram uma das poucas boas ideias do teu passado recente e foram buscar o Jardel para metralhar a golos outro título? Porra, Sporting! O que é que te aconteceu entretanto? Como foste capaz de perder essa embalagem, esse alento? Como foste capaz de te tornares num balão esvaziado, frouxo e mole? Como é que tu queres que eu continue a gostar de ti se tu só dás vexames e fazes-me passar vergonhas? Até o filho do Litos, esse então veio mesmo do teu ventre, diz que quer mudar de clube, já viste ao ponto que chegaste? Mas enfim, por isso te escrevo, para te pedir desculpas.

Gostava de ter a força e a coragem para te deixar e ser feliz com outro mas não tenho. Tu és o meu combustível, a minha heroína, o meu oxigénio. Se tu jogas à noite eu de manhã já penso em ti, fico tenso e tremo, não me concentro em mais nada porque é o dia em que jogas, nada mais interessa, nada mais importa, nada mais existe. Tenho uma dor tão grande de te ver como estás que nem fazes ideia, cada jogo teu é uma navalhada no coração, é um dó ver aquelas onze almas passarinharem o teu emblema, a raiva que me dá ver a falta de respeito que eles têm por ti. Culpa tua, deixa-me que te diga, porque também não tens sabido dar-te ao respeito e é aqui que eu quero chegar. Respeita-te, Sporting! Levanta-te, Leão!

Peço-te desculpa porque eu não devia de me portar como me portei. Que se lixe, não aguento a tua ausência! Voltei. Volta tu também, regressa depressa. Escrevo-te de lágrimas nos olhos e peço-te, imploro que me perdoes porque mesmo que me trates da maneira como me tratas eu vou continuar a amar-te, mesmo que me humilhes e ignores eu vou continuar a amar-te, mesmo que outros com razão partam e te deixem eu vou continuar a amar-te ainda mais fiel, ainda mais leal, ainda mais teu. Dar-te-ei tudo o que me pedires, entregar-me-ei plenamente porque é este o amor que te tenho: absoluto e incondicional, unilateral se assim quiseres que seja. Não consigo, tentei mas não consigo existir sem ti. Quando sofreres sofrerei contigo, quando te ferires limparei as tuas feridas, quando te atingirem saltarei para a arena para te defender, caminharei de mão dada contigo por onde te levarem, ouvirei os dichotes e os gozos daqueles que estão agora melhor na vida, são parvos porque não sabem nem sonham o quão belo e ilustre é ser sportinguista. Se este é o preço a pagar por tal devoção e tal amor estou disposto a pagá-lo até ao fim da vida e mesmo então, no fim da linha e quando eu fechar os olhos, eles sem vida hão-de te ver.

És o meu perpétuo, primeiro e único grande amor. Sporting, tu és a minha vida e eu sem ti não sei viver.

1 comentário:

Anónimo disse...

http://eighteenandalife.blogspot.de/2012/11/11-curiosidades-sobre-odz-polonia.html

;)