Na minha terra só o Sr. Manuel tem autorização para me mexer no cabelo. Sportinguista penitente, possuidor duma longa e ancestral barba cor de chocolate preto, o Sr. Manuel deu-lhe com a navalha quando conquistámos o título de 2000, o do Schmeichel e Beto Acosta, provavelmente como promessa. Muito leão fez coisas mirabolantes por essa altura, eu e a minha canalha verde do Liceu (Paul, Giga, Cartaxo, Vítor) combinámos jogar-nos todos à doca quando isso acontecesse mas a cena levou tanto tempo que muitos de nós já eram casados e pais de filhos quando o Marquês festejou e a estória ficou guardada numa gaveta. O Sr. Manuel não teve comichões e mesmo ante a estranheza da esposa raspou as bochechas exibindo agora apenas um bigode que não sei se também já não estará prometido, visito-o sempre que vou a Faro e entre as lamúrias do costume e a atualização da má-língua (em Faro há um eixo onde se sabe e se discute a vida de toda a gente: Quiosque Farense-Farmácia Alexandre-Salão Lisboa) vamos conversando de toda a espécie de temas e no fim da tosquia entro com os 9 paus do costume, não sei eu se é preço amigo para um camarada sofredor ou se é mesmo preço de tabela mas há anos que pago o mesmo.
Numa capital europeia não se podem esperar cabeleireiros (porque se lhe chamo barbeiro o Sr. Manuel marafa-se comigo) a 9 euros, ou seja, a 36 zlotys. Talvez haja em zonas mais recônditas da cidade mas não devem ser de confiança e eu prefiro coisas mais centrais que por esse motivo são mais caros (15 heróis), havia um ucraniano gay em Natolin que até me trabalhava bem cabelo mas como agora moro a 20km dele - meia hora de carro - não se justifica a perda de tempo, hoje procurei um local mais perto do trabalho, encontrei um salão com boa pinta e sentei-me. Veio um rapaz que me abancou em frente a um espelho para que eu explicasse como queria a guedelha arranjada e depois tratou de me encaminhar para o lavador de cabeças (terá aquilo outro nome? Pia?), fez o que tinha de fazer e quando nos dirigíamos para a sua cadeira o Mateusz amavelmente propôs-me uma chávena de chá ou de café. Recusei porque não tinha vontade de beber estimulantes quando não tinha necessidade mas ele não se ficou e insistiu com água com ou sem gás. Educadamente expliquei que estava bem e que não queria beber nada, aí ele parou e ficou a olhar para mim: "O senhor não quer beber nada?"
Compreendo que se trata duma estratégia para fazer os clientes sentirem-se confortáveis, para que eles voltem. É uma simpatia, uma fineza que se faz para tratar o convidado com distinção, mas precisamos de aceitar o chá para sermos aceites no clube? Eu não costumo beber café fora do pequeno-almoço e mesmo esse é do instantâneo e com mais de metade da chávena com leite, chá muito menos porque nunca foi hábito na minha família, água bebo quando tenho sede, será que por não ser um bebedor de café ou de chá que vou ter problemas no cabeleireiro doravante?
Imaginei os comentários das raparigas da manicure: "Olha, lá vem o português. O gajo até é giro e fala bem polaco mas que pena que não bebe chá senão..." ou a senhora que controla o armário dos casacos: "Bom, bom, bom... O tipo que não bebe nada. Deve ser judeu para não querer gastar a parede gástrica, parvalhão!" Devo confessar que me senti um pouco discriminado por ser um não-bebedor-de-nada e tenho receio de lá voltar, bem que queria porque o Mateusz tem jeito para a coisa e pôs-me o chapéu de palha em grande nível, mas ser olhado como um leproso só porque não lhes aceito as bebidas não me encanta particularmente.
Ou vou ter de ir ao Largo da Palmeira cada vez que quiser cortar o cabelo?
Numa capital europeia não se podem esperar cabeleireiros (porque se lhe chamo barbeiro o Sr. Manuel marafa-se comigo) a 9 euros, ou seja, a 36 zlotys. Talvez haja em zonas mais recônditas da cidade mas não devem ser de confiança e eu prefiro coisas mais centrais que por esse motivo são mais caros (15 heróis), havia um ucraniano gay em Natolin que até me trabalhava bem cabelo mas como agora moro a 20km dele - meia hora de carro - não se justifica a perda de tempo, hoje procurei um local mais perto do trabalho, encontrei um salão com boa pinta e sentei-me. Veio um rapaz que me abancou em frente a um espelho para que eu explicasse como queria a guedelha arranjada e depois tratou de me encaminhar para o lavador de cabeças (terá aquilo outro nome? Pia?), fez o que tinha de fazer e quando nos dirigíamos para a sua cadeira o Mateusz amavelmente propôs-me uma chávena de chá ou de café. Recusei porque não tinha vontade de beber estimulantes quando não tinha necessidade mas ele não se ficou e insistiu com água com ou sem gás. Educadamente expliquei que estava bem e que não queria beber nada, aí ele parou e ficou a olhar para mim: "O senhor não quer beber nada?"
Compreendo que se trata duma estratégia para fazer os clientes sentirem-se confortáveis, para que eles voltem. É uma simpatia, uma fineza que se faz para tratar o convidado com distinção, mas precisamos de aceitar o chá para sermos aceites no clube? Eu não costumo beber café fora do pequeno-almoço e mesmo esse é do instantâneo e com mais de metade da chávena com leite, chá muito menos porque nunca foi hábito na minha família, água bebo quando tenho sede, será que por não ser um bebedor de café ou de chá que vou ter problemas no cabeleireiro doravante?
Imaginei os comentários das raparigas da manicure: "Olha, lá vem o português. O gajo até é giro e fala bem polaco mas que pena que não bebe chá senão..." ou a senhora que controla o armário dos casacos: "Bom, bom, bom... O tipo que não bebe nada. Deve ser judeu para não querer gastar a parede gástrica, parvalhão!" Devo confessar que me senti um pouco discriminado por ser um não-bebedor-de-nada e tenho receio de lá voltar, bem que queria porque o Mateusz tem jeito para a coisa e pôs-me o chapéu de palha em grande nível, mas ser olhado como um leproso só porque não lhes aceito as bebidas não me encanta particularmente.
Ou vou ter de ir ao Largo da Palmeira cada vez que quiser cortar o cabelo?
3 comentários:
É pá, confesso que já me passou o mesmo. Eu café não bebo, chá só quando tou doente (ao contrário da minha namorada que anda sempre de caneca na mão e faz questão em perguntar se também quero um chazinho quando sabe que eu não quero: "Faz parte da boa educação polaca" - diz ela). Uma das coisas que me mete confusão é ela conseguir beber chá a ferver mesmo no pico do verão, ou então à refeição, enquanto bebe também um copo de vinho, alternadamente! :/
Mas pronto, cada doido sua mania, e eu não a censuro, desde que não me censurem a mim por não querer CHÁ!!!
o mesmo aqui, amigo. admira-me as tachadas de chá no verão mas a mim já não pergunta se eu quero chá, da última vez que me perguntou eu aceitei mas joguei-lhe leite lá para dentro. ia-me batendo, era profanar o chá q:)
Os preços no cabeleireiro variam por país. Por exemplo, um tratamento para cabelos secos fora muito mais no Brasil do que na Argentina. E em os EUA, os preços são muito mais elevados.
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