quarta-feira, 9 de março de 2011

Wtorek

É um dia que começa cedo, quando Portugal ainda dorme envolto nos escuros mornos das madrugadas de fim de inverno, já dia claro em Varsóvia porque aqui o sol é polaco e levanta-se cedinho com(o) os polacos. Depois do duche despertador, a chávena de café com leite é mexida enquanto se consulta o termómetro da varanda e se calcula o frio através na neve caída, acusa 4 graus acima de zero, já dá para sair só de t-shirt por baixo do casaco.

A primeira dose do dia é uma animada palheta inglesa acerca do dérbi que a Legia ganhou ao Polonia no pretérito domingo, mais que um jogo, uma batalha desportiva entre dois inimigos ancestrais, um papo que tarde se transformou em negócio e desaguou numa conversa sobre investimentos imobiliários onde consegui que o meu interlocutor se disponibilizasse para negociar as condições da futura compra de casa, um lucro inesperado que com certeza me vai fazer poupar umas dezenas de milhar de zlotis, benesses alcançadas porque o futebol une até pessoas de raiz distinta.

Nem nove da matina e logo o segundo assalto já em língua lusa a esgrimir as preposições e o Imperfeito, os substantivos e os pronomes que assustam os aprendentes mais tarimbados, coisa que parece mais simples do que é. Felizmente é fácil dar a volta ao texto e como praticar as rotinas falando de experiências em Katowice é bem mais agradável do que repetir regras e diálogos o programa cumpriu-se sem se dar por isso.

Assim se chega à tarde passando por casa para o almoço caseiro, jóia que a insuspeita mão de cozinheira da Ewa deixou preparada para eu delapidar. Paleios diversos de temas distintos, regras ilógicas descodificadas, explicar a diferença entre "cá" e "aqui", "lá", "ali" e "além". Um absurdo! - dizem elas, admiradas com a existência do "ser", do "estar" e do "haver" quando em polaco um verbo chega para os três casos.

Não consigo ver o Barça - Arsenal porque ainda estou de gramática em riste ditando normas, o cérebro está ligado à corrente para não haver quebras de ritmo, são 21:30 e ainda faltam vinte minutos para acabar o combate do dia. A última pergunta já nos cascos da força física, diferença entre “ir a”, “ir para” e “ir de”:

- Como é que o Nuno vai para casa? Uma pista. O Nuno tem carro.

Logo a Dorota se arrebita, óculos na ponta do nariz, sorriso fino algo inseguro.

- De carro!!

A esparrela funcionou.

- Não, querida. Vai de metro porque o gasóleo é caro e eu não sou rico.

A turma debanda em risos, a Dorota passa por mim fingindo-se amuada, missão cumprida por hoje, trabalho que acaba quinze horas depois de ter começado, cansado mas com a excelente sensação de que trocava o meu trabalho por muito poucas coisas deste mundo e poder afirmá-lo assim à vontade não é para toda a gente.

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