quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Postais da Polónia - 20

MRPP Portugal, finais da década de 70. Tempos de palavras pesadas como ‘Revolução’, ‘Revisionismo’, ‘Censura’, ‘Insurreição’, ‘Reacionários’. Tempos de siglas sinistras como ‘MRPP’, ‘COPCON’, ‘SUV’, ‘PREC’, ‘LUAR’. Tempos de atentados bombistas, de assaltos a bancos, de murais de inspiração política, de partidos de esquerda maoísta, trotskista, guevarista, marxista e moderada, do 25 de abril e do 25 de novembro, de Eanes, Cunhal, Sá Carneiro, Otelo e Soares, movimentos militares e civis, burguesia e classe operária, capitalismo e proletariado.

No Portugal de brandos costumes que se conhece até custa a acreditar que houve casos de piratas do ar – o primeiro caso mundial de desvio de um voo comercial aconteceu em Portugal, a ‘Operação Vagô’. Porém era um Portugal efervescente aquele em que vivi no primeiro lustro de vida, daí que todos os nomes e acrónimos acima mencionados façam parte do meu imaginário, palavras que me fazem recuar aos tempos dos televisores a preto e branco, dos Citroën GS de 4 velocidades e das calças de boca de sino.

Todas essas memórias me assaltaram quando eu voltava para casa depois de ter ido uma grande superfície comercial comprar chinelos de piscina – não porque queira mandar umas braçadas mas porque tenho de proteger os pés nos balneários dos campos de futebol – e passei por um cruzamento onde estava esta placa, a placa que indica onde é a Rua dos Proletários.

Medo!

Faz algum sentido na medida em que a dita rua fica na zona industrial de Żerań onde se encontram uma central termoelétrica, que fornece 40% da energia elétrica consumida em Varsóvia, e uma cimenteira mas batizar uma artéria como ‘Rua dos Proletários’ é uma daquelas coisas que só mesmo nesta terra. Ou se calhar também no Barreiro.

4 comentários:

Zé de Fare disse...

estranho não te lembrares dos bombistas do ELP, do MDLP e do Spínola.

Se te faz confusão uma rua do proletário, tens uma estátua do cónego melo em braga para visitares.

Faz todo o sentido num país onde o que mais se vê são ruas margaret tatcher e ronald reagan...

mal sabem eles que os ocidentais que tanto adoram não aplicam quase nada do capitalismo nem da economia de mercado.

Zé de Fare disse...

estão a ser desclassificados parcialmente vários documentos dos serviços secretos americanos desse tempo de 75 e que mostram bem quem era quem... e o que é que os americanos pensavam sobre portugal.

PM Misha disse...

zé,
não me lembro porque não sei o que é. as siglas de que falei vi-as pintadas em murais em prédios na cidade onde nasci. não tenho filiação nem simpatia política, portanto (se é essa a tua análise) não extraias disto nenhuma ilação político-partidária porque não vais a lado nenhum.
a rua dos proletários não me faz confusão, é apenas uma designação curiosa que entendi registar.
e os documentos americanos que estão a ser desclassificados, lamento o facto tal como lamento o desaparecimento de qualquer tipo de documento da nossa história.

Zé de Fare disse...

Se calhar andei depressa demais... mas arrefoda-se. Vivo num país onde faliram 3 bancos (BPP, BPN e BES) onde muita gente fina roubou o que quis e descarregou a dívida pra cima do proletário/trabalhador. Eram grandes demais pra falir.

Faz todo o sentido haver ruas dos proletários, ruas dos trabalhadores. Se não fosse a ralé...