quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A neve, essa filha duma magana

Passou o Natal, época na qual geralmente já se fizeram sentir rijos frios, e também a passagem de ano. Passou até o Dia de Reis e as parvas das gralhas continuavam à procura de bichinhos para comer, pulando alegremente por cima das folhas arrancadas das árvores pelos ventos de outono. Passaram 20 e tal dias desde o solstício que assinala a entrada no longo túnel negro do inverno e nem uma folipa de amostra, simpáticos raios de sol incidiam diariamente sobre a Cidade Capital transmitindo toda a força da sua energia, contagiando o cidadão com o seu vigor, conferindo-lhe vitalidade, dando vida. Foi belo e parecia querer prolongar-se para lá dos limites que a cronologia impõe.

Mas tudo o que é bom tem fim e resulta que, mesmo atrasada e indesejada, a neve acabou por aparecer e polvilhar Varsóvia com finíssimos filetes de água gelada que prejudicam o andamento de pessoas e veículos. Quase dez minutos gastos hoje de manhã só para a retirar da capota, do pára-brisas, dos retrovisores e faróis, das janelas e do capô. Hoje vai ser o meu primeiro treino de futebol debaixo de neve, as merdas a que um gajo já com idade para ter juízo se submete em nome duma paixão. Luvas, colãs, protetores de pescoço e gorro, vou parecer um jogador da seleção das Ilhas Faroé mas essa não há-de ser a figura mais triste que fiz (e farei) na vida.

A neve. Sentia tantas saudades dela como tenho saudades de ter papeira.


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