terça-feira, 13 de março de 2012

De como fazer a ponte entre Margaret Thatcher, Faro e a Guerra Fria

Quatro anos e quatro meses depois, as impressões que Varsóvia me causa são menos e menos. As coisas passaram a fase do "estranhar" para o "entranhar" e já não acho surpreendente entrar num elevador cheio e ninguém dizer "bom dia", não me assusta se um carro usa a faixa da direita para me ultrapassar apesar de eu disponibilizar a da esquerda sempre que posso, não me incomoda quando tentar entrar no metro ou no autocarro sem esperar pela saída de passageiros. Já me acostumei, o que não quer dizer que eu faça o mesmo. Copio os bons exemplos, aqueles que considero úteis e convenientes mas recuso os maus exemplos.

Posto isto faço um parêntises no meu raciocínio para comunicar que vi com grande expetativa o "The Iron Lady", filme inspirado na vida de Margaret Thatcher, a primeira mulher primeiro-ministro em Inglaterra e uma das mais célebres estadistas da história. Thatcher fez parte da minha infância, os anos 80 das duas superpotências, da Guerra Fria, do Nuclear, das organizações terroristas europeias, do aiatolá Khomeini, da Corrida das Estrelas. Eram os tempos em que os americanos armavam e treinavam os mujahedins que mas tarde passariam a ser conhecidos como talibans, que a União Soviética tinha um quintal europeu chamado Pacto de Varsóvia e que pessoas como Ronald Reagan, Yasser Arafat, Mikhail Gorbachov e até Lech Wałęsa decidiam o futuro do mundo, um mundo dividido entre comunistas e capitalistas. Thatcher era peça importante nesse xadrez, dura e inflexível, determinada na aplicação das políticas que melhor serviam o país. Travou batalhas intensas e desgastantes como a questão dos separatistas da Irlanda do Norte, a invasão das Falklands e greves de dois anos do setor mineiro. Fiel ao princípio de servir a nação, a Dama de Ferro é hoje considerada pelos seus compatriotas como o melhor primeiro-ministro britânico desde Winston Churchill, reconhecimento que felizmente Thatcher ainda recebe em vida. Este parêntises vem a propósito de maus exemplos e de chefes de estado. Arafat, Thatcher, Reagan eram exemplos de estadistas que procuraram dotar os seus países e os seus povos de melhores condições, de mais bem-estar, pessoas com ideais inalienáveis que não se vendiam, defendiam causas insuspeitas. Hoje os políticos querem salvar a sua pele acima de tudo, querem orientar-se, sacar o mais possível mesmo que para isso sacrifiquem o seu vizinho, o seu parceiro.

Cresci com esses nomes nas notícias e o ambiente da Europa de Leste sempre me fascinou, imaginei o meu espanto e delícia quando entrei para dar aula numa sala da Universidade e deparo-me com este autêntico tabuleiro de Wargames à frente da minha secretária.

Guerra das Estrelas

Seriam mísseis ou escutas telefónicas? Esmagar uma manifestação ou interrogar um insurreto? Talvez lançar os cães da SB, a PIDE polaca? Não sei para que serviram os botões mas entrar naquela sala e sentar-me aos comandos daquela máquina... E o gravador de bobines? Até me vieram as lágrimas aos olhos!

Gravador de bobines

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