terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Ilações a tirar duma noite de esdrúxula azia

DV1960070Azia? Azia.

Azia por ter visto uma muito boa exibição de futebol adulto não ter sido recompensada com a vitória merecida. Azia por ter visto os adeptos do maior rival celebrarem no nosso covil. Azia por verificar que alguns sportinguistas não se comportam à altura do emblema que (alegadamente) apoiam.

Marco Silva tem tido imensas virtudes na criação e desenvolvimento do projeto futebolístico do Sporting 2014/2015, desde logo uma elasticidade notável na preparação dos onzes para enfrentar três competições onde o clube tem legítimas esperanças de fazer boa figura – Campeonato, Taça de Portugal e competições europeias. Enfrentou a Champions e os clássicos rivais nacionais com uma dupla de centrais que não calçava no Farense e (salvo em Maribor) não deslustrou em nenhuma circunstância, assinando até momentos de alto nível em muitos desses jogos. À qualidade individual superior dos adversários respondeu Marco Silva com sagacidade tática e muita competência na leitura do devir dos desafios, pecando apenas na falta de intensidade com que o Sporting defrontou os Moreirenses e Belenenses desta vida. No último dérbi, o Sporting entrou com sete rapazes da casa e dois defesas centrais com três jogos juntos. Não se notou nenhuma falta de rotina, Rui Patrício não teve remates para defender mas o Sporting não ganhou. Faltou-lhe qualidade e eficácia no momento de definir (com os adversários de domingo Liedson tinha enchido a marmita), faltou manha e ratice para congelar a bola durante cinco minutos, faltou o que falta às boas equipas para ganharem os jogos em que se apanham a ganhar. O futebol é cruel, é um mundo onde não há meritocracia, vence quem pode e não quem deve. Da mesma forma que soubemos encostar o rival ao último reduto (pena que Artur não tenha estado ao seu nível habitual mas contra o Sporting toda a merda de guarda-redes engata) também não soubemos guardar o ouro depois de o termos conquistado e demo-lo ao bandido. Azar, azelhice, azia.

Por isso os rivais naturalmente comemoraram. Foi o resultado esperado depois da estupidez de cantar olés a ganhar só por 1-0. Qualquer camelo sabe que esse comportamento só tem um resultado que é o relaxamento da equipa que está a ganhar – começa mais a pensar em cabritos e rodriguinhos do que em matar o jogo – e o espicaçar de quem está a perder – vai a todas as bolas por cima, espuma da boca, joga de raiva. Quando começaram os olés comentei com um colega de sofá que a coisa não ia acabar bem e que esse tipo de provocações era prematuro. Nem de propósito, a bancada leonina teve de engolir o pasodoble e rever a aula de futebol onde se aprende que o jogo só acaba no fim. Como se não fosse suficiente, tive de gramar a lendária fanfarronice do mascador de chicletes que esburaca o meu sensível tímpano gramatical cada vez que consegue articular três sílabas seguidas. Azelhice, azar, azia.

E não admira que essa frustração toda tivesse que ser expiada de um modo qualquer, nem que fosse apanhar o lampião mais à mão e descarregar nele a desilusão do pássaro julgado garantido que conseguiu fugir fora de horas. Neste ponto, onde o meu clube tem um historial quase impoluto, vejo um inusitado e crescente comportamento bélico, agressivo, de confronto constante e em todas as frentes. Se calhar devido à atitude pugnaz que o nosso Presidente tem adotado na defesa dos interesses do Sporting – postura que subscrevo no conteúdo que não na forma. É uma coisa que não é bonita de se ver nem coerente de se fazer, criticar as atitudes cínicas e reprováveis dos rivais mas imitá-las à primeira oportunidade. Não é assim que eu vejo o meu Sporting, não é desse jeito que eu destaco o meu clube dos outros.

A ilação que tiro é que desportivamente estamos no bom caminho e que o Sporting está a tornar-se uma equipa cada vez melhor apesar de haver ainda muita lenha para rachar, não tivéssemos sido tão laxistas em alguns jogos em Alvalade e o empate de domingo teria hoje um impacto bem menor. Mas que sociologicamente alguns sportinguistas estão a contrariar a teoria da evolução humana e a adotar posturas que são mais frequentemente conotadas com adeptos de emblemas tradicionalmente antagónicos ao Leão, seja através dos casos de agressão física e verbal que alguns sportinguistas protagozinaram, seja pela inútil troca de ‘bocas’ nas redes sociais que só servem para comprovar algumas teorias minhas relacionadas com os QIs dos adeptos de diferentes clubes portugueses. É essa a maior azia, não a de não conseguir ganhar a um adversário que se revelou perfeitamente ao alcance dum Sporting mesmo mediano que fosse – e atenção, não pensem que não fiquei fodido por não ganhar aos índios – mas a de alguns sportinguistas…, perdão, de alguns lagartos não saberem estar à altura da dimensão do Sporting Clube de Portugal no momento da deceção.

Sinais de que talvez já não se façam sportinguistas como antigamente.

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