quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Balanço

Sol em Kabaty Os fins de ano têm sempre uma coisa que eu não gosto: os balanços.

Esta minha antipatia por balanços já vem do tempo quando eu trabalhava na Farmácia Alexandre, na década de 90, muito antes da informatização das farmácias. Nessa altura o balança era feito à unha, um colega empoleirado num escadote assomando-se às prateleiras dos antibióticos anunciando quantas caixas de Britacil havia, a dosagem e o tamanho da embalagem. Outro enfiavam o nariz nas empoeiradas gavetas para dizerem quantas carteirinhas de Aspirina lá estavam – naquele tempo vendiam-se comprimidos avulso – ou lamelas de Nimed, pessários, xaropes de óleo de rícino, frasquinhos de formicida, champôs Johnson’s, todos os centímetros quadrados da farmácia era passados a pente fino e tudo registado digitalmente, ou seja, com os dedos a segurarem a esferográfica e os blocos de papel. Começava-se às 19:00 duma dada sexta-feira logo que as portas fechassem, a primeira noite ia até à uma ou duas da manhã, sábado o dia todo madrugada adentro e domingo até ao almoço. Era um horror!, mesmo que a equipa de colegas fosse divertida.

A tentação de fazer um balanço do ano quando entramos na reta final de dezembro é grande, olhamos para trás e tentamos perceber o que fizemos bem para repetir e o que fizemos mal para tirar ilações. O mal é que recordamos com mais facilidade as coisas ruins, talvez porque deixam uma marca maior. Quando a vida nos corre de feição nem nos lembramos disso, não refletimos, achamos que é assim que deve ser e não registamos esse período como especial ao passo que quando nos acontece um dissabor este permanece mais tempo na memória, martela o subconsciente e não nos deixa sossegados. O subconsciente é uma coisa desnecessária, é como o apêndice – só sabemos que existe quando começa a dar problemas. Lamentamos quando temos azares mas não mostramos gratidão no momento da felicidade, é assim a nossa maneira de ser. Egoístas e mal-agradecidos.

A somar a isto tudo, o problema das últimas impressões ficarem sempre mais presentes. Podemos ter tido um ótimo primeiro trimestre mas tudo isso vai ficando nos fundos da nossa sala de recordações à medida que eventos mais recentes vão entrando e sendo arrumados nas prateleiras mais próximas da porta da sala, ocupando o lugar das memórias mais atrasadas. Uma fabulosa mariscada caseira em janeiro pode muito bem ser suprimida em favor um frio ‘feliz natal’ em dezembro ou uma enorme farra de abril preterida por uma chatice de outubro. Por isso é que eu não gosto de fazer balanços, porque mais depressa me lembro dum corte falhado que deu uma oportunidade ao adversário em novembro do que da minha elevação imperial e cabeceamento irrepreensível para golo em março. Sou só eu que penso assim?

2014 não me deixa muitas saudades. Considerando a falta de objetividade que já expliquei acima e que me impede de analisar este ano num todo homogéneo, arrisco a qualificar este ano como o pior desde que me radiquei neste país. Desde sérios revezes familiares a complicações de cariz pessoal e profissional, 2014 serviu-me uma ementa completa de problemas e ralações que me colocaram numa roda de hamster durante semanas e meses, apático, incapaz de reagir, logo nesta terra que não perdoa aos indolentes e aos acanhados. Se por um instante caísse na tentação de fazer um balanço de 2014 diria que tinha sido um ano de merda, que pouco ou nada me tinhaRua de Nascente acontecido de positivo e que a única coisa de boa que este ano tem é o estar perto do fim. No entanto não o vou fazer para não contrariar a minha natureza. Esta diz-me que 2015 vai ser um ano de confirmações, realizações, conquistas e êxitos. Sempre foi assim desde que cá cheguei, o sol aparece sempre mesmo depois da mais intensa borrasca, mesmo nos tempos de maior incerteza consegui dar a volta por cima e tocar o barco para a frente.

Por isso, estimado leitor, permita-me que mande 2014 para o raio que o parta mais toda a negatividade com que me surgiu. Permita-me enxotar este ano maldito que, à parte alguns salpicos de alegria e satisfação, só me trouxe arrelias e chatices. Permita-me chutar o ano velho para longe, para tão longe que nem lhe consiga sentir o fedor. E se quiser junte-se a mim, ponha-se comigo à janela espreitando a rua que vem de Nascente, tentando perceber o que vai trazer 2015. Tenho grande fezada, amigo leitor, que vai ser um grandioso ano para nós.

Até porque há pouco tempo conheci o mais belo par de olhos azuis que alguma vez vi… E olhe que já vi muitos!

4 comentários:

Filipe disse...

Misha in love em Terras Eslavas. Sobe a moral a qualquer um caro colega. Bialo Czerwoni surpreendo-nos sempre

manuel pinheiro disse...

Oh yeah ! The sun will always rise, even if sometimes we dont see it...
Happy 2015!

Ryan disse...

Havia um filme que tinha uma frase que me ficou. O filme era "O Corvo" e a frase "rain can't fall all the time". Bom 2015

PM Misha disse...

filipe,
não estou in love, amigo. mas não me importava de estar ;)

obrigado, manuel e ryan. já vai sendo tempo.