Estavam sete graus negativos à hora do início da contenda, um frio difícil de suportar se não estivermos em movimento. A fórmula habitual de combate à rijeza, cântaros de cerveja ou de vodca, era desaconselhada devido ao controlo à entrada do estádio, a polícia polaca mandava assoprar no pífaro para medir as octanas nos hálitos dos espetadores, mais de uma imperial no registo equivalia a entrada negada. Um grupo de seis irredutíveis algarvios ocupou por fim os seus lugares, puxou de cigarros nervosos para acelerar a concentração, abriu os braços e os pulmões e recebeu o Sporting com a paixão e a entrega que só nós conhecemos.
De facto só nós sabemos porque não ficaram em casa aqueles algarvios, rapaziada mais acostumada a toalhas espreguiçadas em areias quentes, preferindo enfrentar a dureza do inverno continental só para ver um jogo de futebol. Pois aí é que está, não era apenas um jogo de futebol. Além da visita ao amigo emigrado na Polónia e da consequente visita guiada pelos pontos mais célebres e turísticos da capital polaca, havia um propósito maior que tinha de ser cumprido fosse qual fosse a latitude onde o jogo fosse disputado: Jogava o Sporting e ele precisava de nós.
Ser adepto dum clube, no meu caso do Sporting Clube de Portugal, é bem mais do que comentar resultados na segunda-feira ou discutir Matias em vez de Carrillo. Não se pode chamar de adepto aquele que bota faladura sobre momentos de forma mas não mete os pés em Alvalade, não tem legitimidade aquele que rasga jogadores e técnicos mas nunca pagou um bilhete nem um mês de quota. O Sportinguismo não é só de boca, não é um decreto nem um bem alienável. O Sportinguismo é um evangelho que se pratica, que se demonstra, que exige penas e dores, não é apenas quando as coisas correm bem que se diz que é sportinguista, é quando a chuva (neste caso, a neve) cai, quando o vento uiva, quando todas as probabilidades, as conjunturas e os prognósticos estão contra, quando ninguém julga que podemos dar a volta por cima… aí estamos nós. Os Sportinguistas, os sempre fiéis, aqueles que acreditam numa causa, num ideal tal como o marido traído vezes sem fim mas que sempre regressa aos braços da mulher que ele ama. Os amigos bem que lhe dizem para a deixar, para a trocar por outra mais bonita ou mais nova mas ele só vê este amor, esta cor, esta dor. Impossível imaginá-lo noutra cama que não o do seu amor, a apreciar outro perfume que não o do seu amor, a provar outros lábios que não os do seu amor. Que o ceguem para que ele não veja as crueldades que o seu amor lhe inflige, que o embebedem para ele não sentir os ferros com que o seu amor lhe bate mas enquanto houver um pingo de sangue, um suspiro, uma pulsação, aquele corpo terá um e um só lema, uma só ideia, um só dono, um só amor: O Sporting.Em Varsóvia, na passada quinta-feiram, o Sportinguismo foi praticado mais uma vez por estes munines, moços que a expensas do Sporting já sofreram chuvas e rixas, neves e gripes, insolações e ressacas mas estão lá, dão o corpo ao manifesto e gritam “presente!” quando tal é necessário. É disto que um Clube é feito! Mas só os escolhidos têm vida para isto, barafustar de pantufas a partir do sofá é que é para qualquer um.
E o Sporting é o nosso grande amor!
1 comentário:
Presente com a minha polaquinha no grande joge de Lisboa para ver o 1 a 0 e gritar "E o Sporting é o nosso grande amor!"
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