Em primeiro lugar importa frisar que o algarvio não é preguiçoso, comodista – admito - mas não preguiçoso. O algarvio é trabalhador, talvez apenas quando é estritamente necessário mas não se nega ao esforço físico. É comodista na medida em que é muito bom e razoavelmente fácil viver no Algarve, tem-se boa qualidade de vida, sem filas de trânsito nem muita distância a percorrer até ao trabalho. O clima é o melhor do país, a comida é saudável, a praia e a serra nunca estão a mais de um quarto de hora de carro e as coisas boas estão todas à distância de uma braça. Por isso o algarvio não sente muita necessidade de sair do Algarve. “Ir ao Gerês? Para quê, para ver montanhas? Temos a Serra de Monchique com medronho e termas que eles não têm. Fátima? Conventos? Tavira tem mais igrejas no concelho que os distritos todos a norte de Leiria. Lisboa? Ah, e o trânsito… Praias? Tenham juízo, há lá praias como as algarvias!” E o algarvio lá vai ficando de costas para o país, virado para o mar a chupar cabeças de camarão, alheio ao Portugal que formiga em permanente guerra uns com os outros.
Este algarvio que vos escreve não é um protótipo da espécie apesar de ter nascido praticamente na Ria Formosa e de ter sido educado no Largo da Caganita. Não é exatamente o algarvio que aguarda calmamente o Março para ir apanhar ondas à Barrinha ou que arranca para Portimão para passar o ano e ver o Dakar. Nah!, este algarvio gosta de sol e de bola e se der para juntar as duas coisas com uma minizinha... então temo-lo nas suas sete quintas. Este domingo foi um dia de comodismo à algarvia, entre algum sol que já começa a espreitar e bola, um dia entregue ao relaxe.
Um convite para o teatro num fim de tarde de domingo seria, à partida, agradável porque os fins de tarde de domingo são normalmente períodos de modorra onde não se faz mais nada senão pensar no trabalho de segunda-feira. Estava eu meditando sobre se havia de aceitar ou não o convite quando cai um chuvão, aquela chuva que os habitantes da Polónia já conhecem, a chuva típica das tardes de primavera. Fui até à varanda recolher a roupa e respirei fundo, enchi os pulmões daquele aroma a terra molhada, o cheiro da Natureza que se regenera com estas monções e pensei no trajeto até ao teatro e na longa hora que tinha de fazer em transportes públicos até lá chegar, outro problema de ser algarvio – todas as deslocações que ultrapassem 20 minutos são enormes e aborrecem. “O Teatro fica longe”, remeditei imaginando a deslocação de metro e de elétrico, transpor o rio e passar pelas desagradáveis traseiras das obras do Estádio Nacional até chegar a Praga Norte. Ouvi o locutor da SportTv anunciar um Manchester Utd – Liverpool dentro de instantes e sorri como se tivesse recebido o veredito de inocente.
Voltei a vestir o pijama e moldei o sofá com as costas para apreciar o jogo mais confortavelmente, lá fora a chuva continuava a cair, um pé-de-água menor mas ainda assim desmotivador. Fiz uma sandocha de paté e tomate e sentei-me a ver a bola enquando pensava em sotaque algarvio:
- Majatão, com est temp, ia eu sair á rua por alma de queim?
O consolo foi tanto que até me permiti ver a Final da Taça da Liga. Duas observações: O Jorge Jesus realmente montou aquilo como deve de ser e os gajos estão a jogar à bola, o Bruno Alves só não foi expulso porque o Jorge Sousa nitidamente não quis. As agressões e porradas que ele deu faziam o Materazzi parecer um menino dos Pequenos Cantores da Figueira da Foz e lembrou-me o Luisão há um par de anos atrás.
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