domingo, 18 de fevereiro de 2018

Bruno, o Belígero

Bruno de CarvalhoUma das grandes tristezas que sinto neste processo de vida a que chamam "envelhecer" é a progressiva falta de paciência perante a estupidez humana, eu que pensava que a vida me traria ensinamentos de complacência e tolerância. Tem sido exatamente o contrário, vou facilmente aos arames quando as pessoas não compreendem o que é evidente e não deveria ser assim até porque um pensador afirma que "o óbvio precisa de ser dito".

Isto a propósito das últimas semanas que se viveram em Alvalade em que se pôs como possível a saída de Bruno de Carvalho do Sporting e que culminaram com um voto de confiança da atual direção do clube, situação que levou o presidente leonino a propor um conjunto de medidas que suscitou polémica e levou a que o habitual coro de vozes que o apelidam de ditador se fizesse ouvir. As medidas, que levaram até o Sindicato dos Jornalistas a afirmar que Bruno de Carvalho "convive mal com a democracia" (curioso, onde andaria o tão casto Sindicato quando foram escritas estas porcarias?) são:
1 - Não comprar jornais desportivos;
2 - Não assistir a canais televisivos portugueses;
3 - Retirada de todos os comentadores afetos ao clube dos programas de debate em que participam.

Ponto 1 - Já aqui, aqui e aqui, portanto bem antes de Bruno de Carvalho ter comprado esta guerra, escrevi sobre o estado miserável a que desceu a imprensa desportiva portuguesa, prostituta declaradamente cartilhada de um clube. Conversei com vários amigos sobre o tema e todos conhecem a minha posição, discuti este meu ponto de vista no facebook há semanas com um jornalista acima de (minhas) suspeitas, António Tadeia, que se confessou preocupado com a falta de objetividade e imparcialidade que o jornalismo desportivo português está a revelar. É complicado obter informação isenta e equidistante, não se conhecem os factos porque as opiniões pessoais e os filtros clubísticos se sobrepõem e deturpam a notícia. Se os jornais desportivos falham com a sua única missão que é informar então para que são necessários? Mais vale nem gastar dinheiro, não contribuir para uma indústria daninha cuja agenda foi desmontada e está à vista de todos. Portanto estou naturalmente de acordo com Bruno de Carvalho neste ponto.
Ponto 2 - Mal seria se concordasse com tudo o que BdC diz, tal significava que ele era perfeito ou que eu tinha perdido capacidade de crítica mas nenhuma destas duas condições se verifica. Não vejo benefícios nesta medida a não ser que se trate duma jogada estratégica com vista a um objetivo que de momento não consigo descortinar. Dou de barato que seja um daqueles exageros linguísticos em que BdC às vezes incorre, daqueles exageros que dando um formato desagradável à mensagem não altera o conteúdo muitas vezes acertado da mesma.
Ponto 3 - Não há em nenhum país das ligas mais prestigiadas da Europa programas televisivos nos mesmos moldes dos da televisão portuguesa. Adeptos de três clubes a dissecar penáltis ao frame e colocando sistematicamente os árbitros sob a suspeita de terem adulterado os jogos de forma consciente, a insultarem-se mutuamente instigando a massa sua adepta à intolerância e ao ódio ao rival que depois transpira nas redes sociais com memes acintosos e publicações provocativas de parte a parte criando aversão e antagonismo até entre gente amiga. O modelo do debate futebolístico na televisão em Portugal não informa, não educa, não entretém, não tem nenhum papel pedagógico nem de propaganda ao desporto. Na Inglaterra, país da Premiership que é considerada unanimemente a liga de futebol melhor organizada no planeta, os comentadores e entrevistadores têm nomes como Ian Wright, Roy Keane, Greame Souness, Jamie Carragher, Thierry Henry, Gaizka Mendieta, Osvaldo Ardiles, tudo gente com milhões de horas de balneário. Em Portugal temos cantores, advogados, atores, jornalistas, empresários, médicos a falar de uma atividade da qual pouco ou nada sabem. Um absurdo!
Assembleia
O ditador, como lhe chamam, convidou 46 individualidades do ramo da comunicação social para explicar o que estava em causa na última Assembleia. Compareceram cinco pessoas. É ilustrativo do posicionamento da Comunicação Social em relação ao Sporting - não o respeitam. A imprensa desportiva portuguesa não informa, disforma. É mais importante dar voz a pessoas externas ao clube que se dedicam a guerras de alecrim e manjerona que visam desestabilizar o Sporting em vez de ouvir o presidente.

Perante estes elementos ainda há quem pense que Bruno de Carvalho não tem razão. Tem-na e muita! Pode-se não aprovar o registo bélico e às vezes grosseiro com que o presidente do Sporting se dirige à nação mas é impossível retirar-lhe a razão ao que ele afirma.

E daí não sei, havendo tanta gente que gosta de ler o Correio da Manhã e de ver os programas do João Baião também deve haver quem ache que Bruno de Carvalho não tem razão naquilo que diz.

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