A Gâmbia é um pequeno país africano que fica na costa atlântica, um pantanoso e estranho território que não é mais que uma faixa de 300km X 50km ao longo de um rio que dá o nome à nação. A Gâmbia é dos países mais enigmáticos do mundo, uma monarquia que governa um território sem recursos naturais com indústria inexistente onde a principal actividade comercial é o cultivo da terra, a pesca artesanal e a pastorícia. A Gâmbia tem metade dos habitantes de Varsóvia, provavelmente um PIB também duas vezes inferior ao da capital polaca e pouca ou nenhuma importância no panorama turístico mundial. Mas uma coisa que a Gâmbia tem e que Varsóvia não tem é restaurantes onde saibam tratar bem o cliente porque o episódio que vivi hoje em Varsóvia é pouco menos que incrível.
Eu, o Dimitri, a Sónia e o seu marido fomos jantar a um restaurante em Wola, o Folk Gospoda, restaurante de comida polaca. É um hábito que temos, juntamos os amigos aos fins-de-semana e comemos juntos, uma maneira de mantermos o contacto entre uma comunidade de gente realmente interessante e com quem apetece conviver. Devido às intensas borgas dos últimos dias, deixei-me dormir no sofá e só acordei porque o Dimitri telefonou-me. Mesmo assim cheguei uma hora atrasado ao encontro, já a Sónia bufava de fome. Sentei-me e pedimos as nossas refeições às 21:30, só uma sopa para mim porque o estômago anda zangado comigo devido aos duches de vodca-Red Bull que lhe impingi nas últimas quatro noites. No meio da refeição aparece a empregada de mesa a dizer que temos de fazer os últimos pedidos porque a cozinha e o bar fechariam dentro de dez minutos, ou seja, às 23:00. Olhámos uns para os outros a tentar perceber o que estava a acontecer, se era realmente verdade que estávamos a ser obrigados a consultar a carta de sobremesas com metade do bife por comer e ainda mastigando a batata frita. Pedimos mais rodadas de vinho e, apesar de ainda ter a colher de sopa húmida, pedi uma fatia de bolo. Vieram as sobremesas ainda o marido da Sónia estava a jantar o pato com uvas, entretanto junta-se mais uma amiga e pedimos o especial favor de que lhe fosse servido uma taça de vinho. Que não, que não era permitido. Ainda argumentei dizendo “mas a um sábado à noite, vocês fecham o bar às 23:00 num sábado?” mas levei com um impávido “os nossos horários são assim de domingo a segunda”.
Rimos da pouca sensibilidade da(s) empregada(s) e estávamos acabando o nosso jantar quando fomos assaltados de novo por uma funcionária afirmando – e não perguntando – que ia trazer a conta para nós pagarmos, o Sérgio ainda com a limpar as peles do pato, eu com metade do bolo no pires, a Sónia tinha acabado de começar a comer a sobremesa. Aí perdi a paciência e disse em voz alta aos meus amigos em polaco para que todos percebessem “vá, pessoal! toca a pagar e a bazar que esta malta quer fechar a casa. vamos! comam depressa! bora!” A empregada percebeu o toque e respondeu que “não é bem assim, nós não os estamos a pôr na rua mas…”
Nunca me senti tão incomodado num restaurante como esta noite. Tolero a falta de preparação e de escola de hotelaria que a maioria dos empregados desta indústria têm mas a total falta de sensibilidade e gritante incompetência das pessoas que nos atenderam naquele restaurante contribuíram para que tivessem perdido cinco clientes para sempre pois nunca mais lá meteremos os pés. Infelizmente o problema não se reduz aos restaurantes, é uma coisa grave transversal a toda a sociedade polaca e que tem a ver com a mentalidade do povo, pouco flexível e que deixa de funcionar quando surge um inesperado. À saída do restaurante ainda vieram atrás de nós acenando simpáticos “até à próxima” mas receberam o meu irónico sorriso acompanhado dum “até nunca mais” que traduziu o que nos ia na alma. Pusemos a cruz ao Folk Gospoda. Nem na Gâmbia se vê um serviço de atendimento ao cliente como na Polónia, como não sou polaco também não tenho obrigação nenhuma de me calar quando me metem o dedo no cu.
Muita porradinha vai este país apanhar da União Europeia se continuarem a ser assim…
5 comentários:
Pois... a velha história do atendimento ao cliente na Polónia.
Ja me aconteceu semelhante aqui em Łódź. Por vezes pergunto-me como essa gente consegue fazer dinheiro tratando os clientes com desdem e sem o minimo de brio.
Como se diz la no Minho "tendes de comer muita broa!".
Na tua história só vejo um grande erro: ter escolhido um restaurante de comida polaca para jantar.
É que decerto, o péssimo atendimento ao cliente faz parte da experiência gastronómica polaca
Já da única vez que aí estivemos juntos com o John te mandei a boca que mais valia nunca lá por os pés.
Pelos vistos foi teu desejo confirmar a suspeita :)
Se o problema fosse só em Varsóvia isto era uma maravilha. Infelizmente defesa do consumidor é coisa inexistente. O que o consumidor tem é de comer e calar. O meso se passa no local de trabalho. Não existe flexibilidade para nada. Todos têm de ser flexiveis a maneira deles. Mas enganam-se que fazemos valer o tal fator de ser diferente e de outra cultura. Esta gente tem de se habituar que estão na União Europeia ou se lembram que isto é o mesmo para todos ou então vão continuar a ser parvos até dizer chega. O mal é cultural. Foram habituados só a mandar e quando são contrariados ficam todos sei lá como.
geraldo,
eu até gosto de comida polaca, o err foi não ter dado ouvidos ao soska e não me ter cagado no dito restaurante logo à primeira q:/
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